Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

PERCEPÇÃO DE PRODUTORES DE QUEIJOS ARTESANAIS SOBRE O SORO: UMA PERSPECTIVA PARA ALIAR TRADIÇÃO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE

Contribuição para a sociedade (opcional)

Difundir conhecimentos da importância significativa do soro de queijo e sua versatilidade. Seu reaproveitamento não só potencializa a eficiência do setor lácteo, mas também oferece soluções nutricionais acessíveis, impactando positivamente a saúde pública e o meio ambiente

Introdução (obrigatório)

O queijo é um dos derivados lácteos mais populares no Brasil, a produção nacional é de 223 mil toneladas por ano, de acordo com o último censo (IBGE, 2017). Considerando que em média, apenas 10% volume total de leite é transformado em queijos e 90%, em soro (BALD et. al, 2014), estima-se que o país emprega 2,2 bilhões de litros de leite e gera cerca de 2 bilhões de litros de soro para obter produção anual de queijos. O soro de queijo é rico em nutrientes, constituído por 55% de proteínas solúveis, lactose, vitaminas, minerais e gordura (CASALLAS-OJEDA et al., 2021). Essa composição faz do soro um importante coproduto na cadeia produtiva, seja ela industrial ou artesanal, pois ele pode ser destinado à elaboração de novos produtos, oportunizando agregação de valor, diversificação de produtos e a sustentabilidade. Por outro lado, o soro pode ser um grande poluidor ambiental devido à sua alta carga orgânica, se descartado inadequadamente (SIQUEIRA et al, 2013). Diante disso, se faz necessária atenção especial à gestão de descarte do soro nas unidades produtivas, tendo em vista sua qualidade nutricional e potencial poluidor. O objetivo deste trabalho foi analisar a percepção dos produtores artesanais de queijos sobre o soro e sua utilização, considerando a preservação de técnicas tradicionais e visando as potencialidades tecnológicas, sustentabilidade e inovação.

Material e métodos (obrigatório)

Um questionário foi utilizado para coleta de dados sobre a percepção dos produtores de queijos artesanais do Rio Grande do Norte sobre o soro e sua utilização em queijeiras. As perguntas foram elaboradas em formulário on-line e distribuído digitalmente usando a plataforma Google Forms® durante o mês de junho/2024, por meio de aplicativos de mensagens, mídias sociais e contato pessoal por profissionais e agentes do Sebrae-RN. O estudo foi categorizado como "pesquisa de opinião pública com participantes não identificados", isentando-o de avaliação pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Um total de 51 indivíduos responderam ao questionário de forma anônima, com garantia de que os dados coletados seriam usados ​​exclusivamente para fins de pesquisa.  As respostas foram tabuladas em planilha e os resultados foram apresentados como médias e porcentagens do total de respostas.

Resultados e discussão (obrigatório)

Os resultados estão dispostos na Figura 1. O gênero de maior predominância nas respostas foi o masculino (76%), com faixa etária entre 31 e 50 anos (60,8%), e com nível de escolaridade entre segundo grau e superior (74%). A maioria dos estabelecimentos está na categoria artesanal sem registro sanitário ou em processo de registro (70,6%), e com 1 a 10 anos em atividade (56%). A análise das respostas revela que 75,8% dos respondentes se envolvem pelo menos com uma atividade relacionada à produção de queijos, seguida por outras atividades importantes como controle de qualidade (48,3%), administração e finanças (44,8%), vendas e propaganda (43,1%) e atendimento ao cliente (41,4%), o que demonstra a diversidade das operações em uma queijeira artesanal.    Figura 1. Percentual de respostas às perguntas aplicadas no estudo. O principal destino do soro de queijo foi à alimentação animal (75,8%), prática comum no estado, principalmente por pequenos produtores que, na busca para redução dos custos com a altas no preço dos grãos, aproveitam o soro para nutrir suínos e bovinos destinados ao consumo próprio ou venda para complementar a renda familiar. No estudo, outras alternativas de uso também foram mencionadas, demonstrando a versatilidade do soro. Alguns respondentes mencionaram mais de um destino para o soro. O desenvolvimento de outros produtos lácteos aparece em 24,2% das respostas. A doação e venda do soro de queijo para terceiros também é uma prática comum, com 12 respostas (21%), evidenciando o impacto social que o soro tem sobre as comunidades, e, principalmente, o poder de gerar renda e agregar valor. O descarte representa 5,2% das respostas, mas ainda precisa ser melhor gerido, tendo em vista ser uma alternativa que prejudica o meio ambiente. Esses resultados revelam a complexidade na gestão desse coproduto e a necessidade de soluções para otimizar seu aproveitamento.  Ao serem questionados se concordavam que ocorre agregação de valor aos produtos que usam o soro em sua composição, 66,7% concordou plenamente. A maioria deles concordou plenamente que há agregação de valor aos produtos que usam o soro em sua composição (66,7%) e reconheceu ter pouco ou nenhum conhecimento sobre o impacto ambiental no descarte do soro (51%). Essa falta de conhecimento leva os produtores a não perceber a oportunidade de ganhos econômicos a partir do aproveitamento eficiente do soro, além de que pode provocar consequências negativas a partir do descarte desenfreado e poluição de cursos d’água. Isso indica a necessidade de se promoverem ações de conscientização sobre o impacto ambiental do descarte do soro de queijo e incentivar práticas mais sustentáveis de utilização deste coproduto, pautadas em resultados científicos, treinamentos e capacitações.

Conclusão (obrigatório)

Os principais destinos do soro foram à alimentação animal, desenvolvimento de outros produtos lácteos, doação e venda. Há um conhecimento limitado dos produtores sobre o impacto ambiental provocado pelo descarte do soro. Ações de conscientização e incentivo a práticas sustentáveis, como o desenvolvimento de novos produtos lácteos podem auxiliar os produtores a melhorar sua percepção sobre o soro e sua utilização, considerando suas potencialidades tecnológicas, aliadas à preservação de técnicas tradicionais e à sustentabilidade na produção artesanal de queijos

Agradecimentos (opcional)

Ao SEBRAE-RN, CNPq e FAPERN.

Referências bibliográficas (opcional)

BALD, J. A. et al.Características físico-químicas de soros de queijo e ricota produzidos no Vale do Taquari, RS. Revista Jovens Pesquisadores, Santa Cruz do Sul, v. 4, n. 3, p. 90-99, 20 nov. 2014.

CASALLAS-OJEDA, M. et al. Opportunities for Waste to Energy in the Milk Production Industry: Perspectives for the Circular Economy. Sustainability, Basel, v. 13, n. 22, p. 12892, 2021.

SIQUEIRA, A. et a.. Bebidas lácteas com soro de queijo e frutas. Ciência Rural, v. 43, p. 1693-1700, 2013.

IBGE. Censo Agropecuário 2017. Resultados definitivos. Brasil. https://censoagro2017.ibge.gov.br/templates/censo_agro/resultadosagro/pdf/producao.pdf

Área

Geral

Autores

Isadora Mafra Lira dos Santos, Emmanuella de Oliveira Moura Araújo, Danielle Cavalcanti Sales, Kessianny Cristina de Souza, Gleicyara Jainara da Costa Ferreira, Juan Victor da Costa Silva, Daniela de Oliveira Gomes, Adriano Henrique do Nascimento Rangel