Dados do Trabalho
Título
MONITORAMENTO E CARACTERIZAÇÃO MICROBIOLÓGICA EM LINHA DE ORDENHA MECANIZADA
Introdução (obrigatório)
O processo de limpeza “Clean in place” conhecido como CIP, é utilizado para equipamentos e tubulações que possuem um sistema de circuito fechado, onde não há possibilidade de desmontagem. Nesta limpeza, são utilizados algumas soluções. A solução alcalina, tem papel de solubilizar proteínas e gorduras e a solução ácida remove sais minerais e certas incrustações que podem surgir a partir da junção de proteínas e minerais.
As boas práticas de produção devem estar presentes desde a higiene de ordenha até a estocagem da matéria-prima. O leite pode ser contaminado quando entra em contato com a superfície do equipamento e/ou utensílios de ordenha, assim como no próprio tanque de refrigeração. Caso a limpeza e sanitização de superfícies e equipamentos de ordenha sejam deficientes, os microrganismos encontram melhores condições de proliferação e formação de biofilme.
O objetivo deste trabalho foi monitorar a eficiência de limpeza em uma linha de ordenha mecanizada, quantificando e identificando os microrganismos presentes nas superfícies do sistema
Material e métodos (obrigatório)
Este estudo foi desenvolvido na Leiteria da Fazenda Escola da Universidade Estadual de Londrina (FAZESC – UEL) no ano de 2024, equipada com ordenha mecânica de circuito fechado, com um conjunto de teteiras automatizadas com extratores automáticos, DeLaval®. A ordenha seguida de limpeza alcalina era realizada duas vezes ao dia utilizando detergente Weizur S100®. A sanitização era realizada uma vez ao dia com sanitizante a base de ácido peracético Weizur OxiClean5®. A periodicidade da lavagem alcalina ácida era realizada semanalmente com detergente Weizur A500®. Os produtos eram utilizados conforme recomendação do fabricante. Foram coletados swabs das superfícies de contato direto e indireto com o leite cru. Os pontos amostrados abrangeram toda a linha do leite e as áreas amostradas estão descritas a seguir: (1) Teteiras; (2) Unidades coletoras; (3) Unidade central; (4) Tubulação do filtro; (5) Mangueira conectora para o tanque de expansão; (6) Tanque refrigerador por expansão; (7) Água utilizada para o processo de limpeza; (8) Leite ordenhado. As áreas foram delimitadas com moldes flexíveis de polietileno estéreis compreendendo 3cm² para todos os pontos, exceto para o tanque resfriador (100cm²). As amostras de água e leite (100 mL) foram coletadas em bolsas plásticas estéreis. A coleta foi realizada após a etapa de limpeza. Os micro-organismos indicadores avaliados foram a contagem de aeróbios mesófilos (APHA, 2004). A caracterização de enterobactérias foi realizada a partir de isolados obtidos em Agar MacConkey seguida de identificação em série bioquímica EPM MILI e Citrato de Simons. A identificação de Staphylococcus spp foi realizada a partir de meio seletivo Manitol Salgado seguido de provas bioquímicas catalase e coagulase.
Resultados e discussão (obrigatório)
Os principais pontos de atenção no sistema de ordenha avaliado foram: (1) o tanque de expansão; (2) a mangueira conectora e (3) a tubulação do filtro (Tabela1). De acordo com a norma ISO 18593:2004 limpezas satisfatórias não devem exceder 116 UFC/100cm². Aeróbios mesófilos (UFC/cm² ou UFC/ml) Teteiras <1,0 Unidades coletoras <1,0 Unidades centrais 0,1 Tubulação do filtro 6,5 Mangueira conectora 23,9 Tanque de expansão 22,2 Água 1,75 Leite ordenhado 1290 Apesar da tubulação do filtro e da mangueira conectora fazerem parte do circuito CIP, essas áreas ficam mais distantes da bomba pressurizadora, sendo recomendado revisão nos protocolos de higiene e sanitização, principalmente em relação à pressão, fluxo e turbilhonamento dessas áreas. O tanque de expansão não faz parte do circuito de limpeza CIP, e sua grande área é uma característica desafiadora para a eficiente limpeza. Recomenda-se, portanto, atenção para que a escovação do tanque abranja todas as suas áreas, e que a pressão exercida durante a esfregação seja suficiente para remover fisicamente resíduos aderidos. O uso de escovas com cabos muito extensos pode ocasionar falhas de pressão durante a escovação. Os micro-organismos identificados nas superfícies amostradas foram Escherichia coli, Citrobacter spp., Pseudomonas aeruginosa. Staphylococcus spp. e Staphylococcus aureus. As bactérias Gram negativas identificadas revelam contaminação ambiental, reforçando o fato de que mesmo com uma limpeza eficiente, as superfícies podem abrigar esses micro-organimos, destacando a importância do correto manejo de higiene de ordenha. Por isso, se faz fundamental o uso do pré-dipping, com o intuito de reduzir o número de bactérias que estão presentes no teto e evitar contaminação do leite bem como do equipamento. Os estafilococos identificados nas superfícies revelam uma provável contaminação originária dos tetos dos animais, destacando a importância de alguns pontos específicos do manejo para evitar a propagação de mastite contagiosa na sala de ordenha. Essas práticas incluem a ordenação de animais ordenhados conforme o escore no teste de CMT e a prática do pré e do pós-dipping. O pós-dipping, além de formar uma barreira física impedindo que microrganismos adentrem o canal do teto, tem papel de higienizar os tetos após saírem da teteira. Mesmo com a identificação desses pontos de alerta que envolvem a limpeza e o manejo higiênico sanitário de ordenha, o leite final obteve baixa contagem microbiológica (1290 UFC/ml) e dentro dos padrões preconizados pela atual regulamentação nacional. Destaca-se, portanto, que esse padrão em isolado pode ocultar elementos que requerem atenção. A falta de monitoramento contínuo na limpeza não permite que ações preventivas sejam tomadas em tempo hábil, o que pode comprometer a qualidade e conformidade do leite ordenhado.
Conclusão (obrigatório)
Mesmo com um manejo higiênico-sanitário e protocolos de limpeza CIP definidos e implantados, além do leite ordenhado dentro dos padrões de qualidade, é possível identificar pontos de alerta através do monitoramento microbiológico de superfícies. Isso reforça a importância das ferramentas de vigilância e das ações preventivas na manutenção da qualidade do leite.
Agradecimentos (opcional)
Agradecimento ao INCT - Leite por fomentar este trabalho.
Área
Geral
Autores
Debora Evellin Esteves Melo, Jean Gustavo Reis Oliveira, Guilherme Melo Corvelloni, Natália Yukari Kashiwaki, Lívia Helena Moreira da Silva Melo, Gerson Nakazato, Isabella Rodrigues Camargo, Rafael Fagnani