Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

PERDAS NA PRODUÇÃO DE LEITE ASSOCIADAS A ORDENHAS BIMODAIS EM COMPARAÇÃO A ORDENHAS NORMAIS EM DIFERENTES REBANHOS LEITEIROS

Titulo em português

PERDAS NA PRODUÇÃO DE LEITE ASSOCIADAS A ORDENHAS BIMODAIS EM COMPARAÇÃO A ORDENHAS NORMAIS EM DIFERENTES REBANHOS LEITEIROS

Introdução (obrigatório)

O processo de ordenha tem como objetivo ser rápido, completo e gentil. Para que isso ocorra é necessário que a vaca seja submetida a estímulos nervosos, que irão resultar na liberação da ocitocina pela hipófise. A ocitocina é o hormônio responsável pelo processo de ejeção do leite que consiste na sua ação em células mioepiteliais presentes nos alvéolos da glândula mamária, promovendo a contração dessas células e consequente liberação do leite para os ductos e a cisterna da glândula mamária para que a ordenha ocorra de forma completa (Bruckmaier, 2001).
Ordenhas com fluxo bimodal são aquelas em que o fluxo de leite diminui ou é interrompido, depois do fluxo de leite da cisterna da glândula, antes do leite alveolar atingir esse mesmo compartimento (Moore-Foster et al., 2019).
O tempo do estímulo tátil assim como o tempo entre o estímulo e o acoplamento dos conjuntos, são fatores que influenciam na ocorrência de ordenhas bimodais. Ordenhas bimodais (OB) estão associadas a perdas na eficiência da ordenha e perdas na produção de leite (Bruckmaier, 2001 and Moore-Foster et al., 2019).
O presente estudo teve como objetivo avaliar as perdas produtivas ocasionadas por ordenhas bimodais (OB) em relação a ordenhas normais (ON).

Material e métodos (obrigatório)

Foram coletados dados de 5 rebanhos na região do Alto Paranaíba MG entre 2018 e 2024. Foram avaliadas vacas da raça Holandesa em regime de 3 ordenhas/dia e 1 rebanho com vacas Girolando, todos em sistema Compost Barn. A média de vacas em lactação era de 519,8 totalizando 2599 vacas em lactação. Média de produção de leite geral de 35,04 Kg vaca/dia. Foram avaliadas 1302 ordenhas em visitas mensais, pelo time da Evoluir Saúde do Leite. Em cada visita 10 a 18 vacas foram avaliadas e registrado a produção de leite e a aferição do vácuo. As medições de vácuo foram realizadas com aparelho VaDia Biocontrol, Norway, e as análises dos níveis de vácuo, fluxo de leite, tempo de ordenha, tempo de sobreordenha pelo software VaDia Suite. Três canais foram utilizados para aferir o vácuo em diferentes pontos: tubo curto de leite (TCL), bocal da teteira (BT), tubo curto pulsação (TCP). O início da ordenha foi marcado quando o vácuo no TCL e BT foi diferente de 0 kpa. O início da sobreordenha foi marcado quando houve um aumento de 13,4Kpa do vácuo no BT após 120s do início da ordenha. O fim da ordenha foi determinado quando o vácuo no TCL e BT estava em 0 kpa. A produção de leite foi registrada pela pesagem automática dos equipamentos de ordenha. Foram classificadas como ordenhas bimodais (OB) as vacas que tiveram uma variação de vácuo no BT maior que 13,4Kpa em até 60 segundos após o acoplamento dos conjuntos. Ao contrário disso, as ordenhas foram classificadas como normais. Para análise estatística, foram ajustados quatro modelos lineares mistos (LMMs) investigando o efeito da ordenha bimodal sobre as variáveis resposta: produção leite, tempo de ordenha, tempo de sobreordenha e fluxo de leite. Cada modelo incluiu um efeito aleatório de fazenda para levar em consideração a variação entre fazendas. As análises foram conduzidas pelo software R Statistical language (version 4.3.1; R Core Team, 2023) e lme4 (version1.1.35.5), lmerTest (version 3.1.3), report (version 0.5.8).

Resultados e discussão (obrigatório)

No presente estudo a prevalência de OB nos rebanhos foi de 14,21% (185/1302). Valor inferior ao encontrado por Erskine et al., 2019 em um estudo em um rebanho e encontrou uma prevalência de 45,6% (302/663), e Moore-Fooster et al., 2019 que encontrou 25,0% avaliando 3.824 ordenhas de 124 diferentes rebanhos. O método para considerar a ordenha bimodal foi o mesmo nos dois estudos. Vacas com ON apresentaram produção de leite de 13,24 Kg (95% Cl: 11.55, 14,92), enquanto vacas com OB apresentaram redução de produção de leite de 0,83 kg, (95% Cl: -1,35Kg a -0,32kg, p<0,05). Vacas com ON tiveram tempo de ordenha de 280,56s (95% Cl: 254,93s a 306,19s), enquanto vacas OB apresentaram redução do tempo de ordenha em 26,08s, (95% Cl: -39,01s e -13,16s, p <0,001). Vacas com ON apresentaram fluxo de leite de 2,96kg/min (95% Cl 2,53kg a 3,38kg), enquanto vacas com OB uma redução de 0,03kg/min, sem efeito estatístico, e por fim, vacas com ON normais apresentaram 55,30s (95% CI 50,31 a 60,29), enquanto vacas com OB um aumento de 5,20s, sem efeito estatístico também. No estudo de Erskine et al., 2019, verificou-se que vacas com atraso na descida do leite em consequência de ordenhas bimodais tiveram perdas na produção de leite de 1,8Kg e 3,0kg, quando o atraso foi de 30 a 59 s e maior que 60s respectivamente. O tempo médio de ordenha não apresentou diferença estatística, diferente do presente estudo. As perdas de produção associada as OB podem estar relacionadas ao alto nível de vácuo no TCL e BT em momentos de baixo fluxo de leite. Nessa condição, já foi demonstrado que os tetos apresentam mudanças de cor e inflamação devido a congestão e restringe o canal do teto comprometendo o fluxo de leite (Penry et al., 2018). Além disso a inflamação do tecido na base do teto devido ao alto nível de vácuo no BT, impede o fluxo de leite da glândula para a cisterna do teto, (Borkhus and Ronningen, 2003), comprometendo a produção de leite por ordenha.

Conclusão (obrigatório)

A avaliação do vácuo durante a ordenha é uma alternativa para avaliar a eficiência das ordenhas, além de diagnosticar a prevalência de ordenhas bimodais. Ordenhas bimodais impactam negativamente na produção de leite em relação a ordenhas normais, impedindo que a ordenha atinja os seus objetivos de ser completa, rápida e gentil.

Referências bibliográficas (opcional)

Moore-Foster R, B Norby, RL Schewe, et al. 2019. Herd-level variables associated with delayed milk ejection in Michigan dairy herds. J. Dairy Sci. 102:696-705.

Penry, J. F., J. Upton, S. Leonardi, P. D. Thompson, and D. J. Reinemann. 2018. A method for assessing liner performance during the peak milk flow period. J. Dairy Sci. 101:649–660.

R. J. Erskine, B. Norby, L. M. Neuder, and R. S. Thomson, et al 2019. Decreased milk yield is associated with delayed milk ejection. J. Dairy Sci. 102:6477–6484.

Área

Geral

Autores

Felipe Zanforlin Freitas, Aline Cristina Amaral Lima, Flor Angela Niño Rodriguez, Bianca Csiszer Gandolfi