Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

STREPTOCOCCUS UBERIS ISOLADOS DE LEITE DE VACA DE DUAS REGIÕES DE MINAS GERAIS: FREQUÊNCIA E SUSCEPTIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS

Titulo em português

STREPTOCOCCUS UBERIS ISOLADOS DE LEITE DE VACA DE DUAS REGIÕES DE MINAS GERAIS: FREQUÊNCIA E SUSCEPTIBILIDADE AOS ANTIMICROBIANOS

Introdução (obrigatório)

A mastite bovina, inflamação da glândula mamária, é uma das principais enfermidades dos rebanhos leiteiros globalmente, acarretando significativos prejuízos econômicos devido ao descarte precoce de animais e aos elevados custos com tratamentos. Esta doença pode se manifestar de diversas formas e pode ser causada por vários microrganismos sendo as bactérias os mais comuns.
Entre os principais agentes etiológicos, destacam-se os gêneros Staphylococcus spp. e Streptococcus spp. e o grupo dos coliformes. Streptococcus uberis é considerado um patógeno ambiental desafiador, devido à sua diversidade genética pouco caracterizada, o que dificulta a eficácia dos tratamentos. Além disso, outra particularidade é a habilidade de formação de biofilmes, tornando algumas cepas resistentes aos antimicrobianos, levando à cronificação dos casos de mastite.
Este estudo retrospectivo teve como objetivo investigar a frequência de isolamento de Streptococcus uberis em rebanhos leiteiros de Minas Gerais, bem como avaliar sua suscetibilidade aos antimicrobianos comumente utilizados, de modo a contribuir para o aumento da eficácia dos tratamentos e promover o uso racional de antibióticos, mitigando o desenvolvimento de resistência bacteriana e reduzindo potenciais riscos à saúde pública.

Material e métodos (obrigatório)

Foram analisados dados de um laboratório comercial, que realizou cultura microbiológica de  amostras de leite coletadas nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, MG.  O estudo avaliou 41 amostras de leite do ano de 2021, 73 de 2022 e 80 de 2023, totalizando 194 amostras. As amostras foram submetidas ao método de isolamento microbiológico conforme protocolos internos, adaptados das diretrizes do International Dairy Federation (IDF, 1981) e do National Mastitis Council (NMC, 2017). O antibiograma foi realizado para algumas cepas de Streptococcus uberis, utilizando 13 bases de antimicrobianos por meio do teste de difusão em disco, incluindo amoxicilina, ceftiofur, ciprofloxacina, enrofloxacina, gentamicina, neomicina, penicilina, tetraciclina, sulfametoxazol + trimetoprima, cefalexina, estreptomicina, florfenicol e tilmicosina (Tabela 1). Os dados obtidos foram analisados de forma descritiva para determinar a frequência de isolamento do Streptococcus uberis e sua resistência aos diferentes antibióticos testados. Essa análise visa contribuir para o entendimento da epidemiologia da mastite bovina na região estudada, bem como para orientar estratégias de manejo e tratamento mais eficazes, visando à redução do desenvolvimento de resistência antimicrobiana e à promoção da saúde do rebanho leiteiro.

Resultados e discussão (obrigatório)

Das 194 amostras de leite analisadas, obteve-se isolamento de 78 cepas de Streptococcus uberis, o que corresponde a uma frequência de 40,2%. Apenas 23 cepas desta bactéria (29,4%) foram submetidas ao teste de sensibilidade frente a 13 antibióticos pertencentes a sete classes. Como resultado, Streptococcus uberis apresentou maior resistência à neomicina (78,3%), seguido de gentamicina (60,9%) e estreptomicina (56,5%).   Tabela 1. Susceptibilidade aos antimicrobianos de Streptococcus uberis isoladas de amostras de leite de rebanhos de Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, de 2021 a 2023. Antimicrobianos Resistência (%) Sensibilidade (%) Intermediário (%) Amoxicilina 34,8 65,2 0 Ceftiofur 13,0 52,2 4,3 Ciprofloxacina 13,0 69,6 8,7 Enrofloxacina 13,0 21,7 13,0 Gentamicina 60,9 4,3 13,0 Neomicina 78,3 0 0 Penicilina 26,1 60,9 0 Tetraciclina 30,4 43,5 13,0 Sulfametoxazol + Trimetoprima 43,5 52,2 0 Cefalexina 13,0 69,6 4,3 Estreptomicina 56,5 4,3 0 Florfenicol 13,0 60,9 3,2 Tilmicosina 47,8 8,7 0   Quanto as classes de antimicrobianos (Tabela 2), as que obtiveram maiores índices de resistência foram os aminoglicosídeos (65,2%), macrolídeos (47,8%) e sulfonamidas (43,5%). Tabela 2. Percentual de resistência das cepas de Streptococcus uberis isoladas de amostras de leite dos rebanhos de Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba de 2021 a 2023, frente as principais classes de antimicrobianos. Classe dos antimicrobianos Resistência (%) Sensibilidade (%) Intermediário (%) Fluorquinolonas 15,9 37,7 11,6 Aminoglicosídeos 65,2 2,9 6,5 Macrolídeos 47,8 8,7 0 Sulfonamidas 43,5 52,2 0 Beta lactâmicos 21,7 62,0 2,2 Tetraciclinas 30,4 43,5 13,0 Fenicol 13,0 60,9 4,3   Os resultados mostraram um panorama preocupante quanto à resistência antimicrobiana entre os isolados de S. uberis na região estudada. A falta de avaliação sistemática dos perfis de resistência pode comprometer a eficácia dos tratamentos antibióticos disponíveis, além de aumentar os riscos de infecções persistentes e recorrentes nos rebanhos leiteiros. Tratamentos repetidos podem reduzir a eficácia dos antimicrobianos e perpetuar desequilíbrios microbiológicos, aumentando os riscos de infecções persistentes. Medidas de limpeza e higiene adequadas são essenciais para prevenir novas infecções e reduzir custos significativos, além de mitigar preocupações com a saúde pública devido à propagação da resistência bacteriana, que pode limitar opções terapêuticas disponíveis. A implementação de vacinas autógenas pode ser um aliado importante para prevenir mastites, estimulando uma resposta imunológica específica contra cepas circulantes e diminuindo a incidência de novos casos. Essas medidas não só reduzem a dependência de antimicrobianos, mas também promovem uma abordagem mais eficaz no controle e tratamento da doença, minimizando os riscos de resistência antimicrobiana e protegendo a saúde tanto dos animais quanto da população em geral.

Conclusão (obrigatório)

Os resultados destacaram uma alta frequência de Streptococcus uberis em casos de mastite no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba de 2021 a 2023, além de uma significativa resistência aos antimicrobianos testados. É essencial conscientizar os médicos veterinários sobre a importância desses testes para melhor eficácia dos tratamentos, evitando subestimar antimicrobianos que, embora considerados ultrapassados, podem ser úteis dependendo dos patógenos e de suas susceptibilidades.

Agradecimentos (opcional)

A Inata biológicos, pela concessão dos dados laboratoriais utilizados neste estudo.

Área

Geral

Autores

Maria Eduarda Almeida Camargo, Paulo César Franco Dutra, Carla Cristian Campos, Tais Aparecida Salvadego