Dados do Trabalho
Título
CARACTERIZAÇÃO DA COMPOSIÇÃO DOS REBANHOS E DOS SISTEMAS DE ORDENHA DAS UNIDADES DE PRODUÇÃO DE LEITE DO PROGRAMA LEITE SEGURO
Introdução (obrigatório)
A agricultura familiar se caracteriza por sua heterogeneidade em termos de recursos disponíveis, acesso ao mercado consumidor e capacidade de geração de renda (Marin et al., 2021). Entre as atividades desenvolvidas, a pecuária leiteira se destaca como uma das principais. Segundo o Censo Agropecuário de 2017 (IBGE, 2020), 93% das unidades de produção de leite (UPL) no Brasil produzem até 200 litros de leite por dia, as quais se enquadram na lei da agricultura familiar (Brasil, 2006).
Considerando-se as diversas realidades dos produtores de leite no Brasil, conhecer essas UPL dos pontos de vista social, produtivo e estrutural se faz importante a fim de determinar as melhores estratégias para adoção de práticas visando maior eficiência e qualidade do leite produzido. Portanto, o objetivo deste trabalho foi caracterizar as unidades de produção de leite vinculadas ao Programa Leite Seguro quanto à composição do rebanho, sistemas de ordenha utilizados e uso de coletores de amostras de leite.
Material e métodos (obrigatório)
O Programa Leite Seguro acompanhou um total de 169 Unidades de Produção de Leite (UPL) localizadas nos três estados da região sul do Brasil de fevereiro de 2022 a setembro de 2023. As visitas técnicas foram realizadas mensalmente pelos técnicos de campo do projeto. Os critérios de elegibilidade das UPL incluíram: não participarem de outro projeto de mesma natureza; estarem vinculados a uma instituição parceira do projeto; e terem disposição em participar de um programa de boas práticas e de adotar as práticas/mudanças acordadas com os técnicos. Durante as primeiras visitas técnicas, foi aplicado um questionário contendo perguntas referentes à área, infraestrutura, composição do rebanho, produção de leite, fontes de renda, grau de escolaridade e meios de comunicação utilizados pelos produtores. A partir dessas informações, seria possível caracterizar as UPL a fim de determinar os métodos mais adequados de abordagem para a implementação das boas práticas, considerando a realidade de cada produtor. No presente trabalho, foram considerados os dados referentes à composição dos rebanhos, aos sistemas de ordenha utilizados e ao uso de coletores de amostras nas UPL cadastradas ao projeto. Os dados foram submetidos à estatística descritiva.
Resultados e discussão (obrigatório)
Os resultados de estrutura dos rebanhos das UPL do Programa Leite Seguro encontram-se descritos na Tabela 1. Marin et al. (2021), em trabalho realizado com produtores do estado de Santa Catarina, encontraram resultados semelhantes aos do presente estudo. Os autores identificaram um perfil predominante de pequenos produtores, apresentando valor médio de 15 vacas em ordenha, as quais representavam 43% do total de animais. Levando-se em conta apenas as vacas adultas, o percentual de vacas em lactação no presente trabalho foi de 80%, enquanto de vacas secas foi de 20%. As porcentagens ideais para a composição dessas categorias são de 83% para vacas em lactação, tolerando-se 75% em sistemas de produção a pasto, e menos de 17% para vacas secas (Ferreira e Miranda, 2007). Apesar dos valores aceitáveis, estratégias de manejo visando a melhoria desses índices podem ser utilizadas a fim de diminuir os custos de produção e aumentar os lucros dentro das UPL. Tabela 1 – Número médio e porcentagem de animais nas diferentes categorias de bovinos leiteiros nas UPL participantes do Programa Leite Seguro. Categoria Média de animais % categoria no rebanho Vacas em lactação 20 47 Vacas secas 5 11 Novilhas 7 17 Bezerras 7 16 Machos 4 9 Total 43 100 A Tabela 2 apresenta os resultados referentes aos sistemas de ordenha encontrados nas UPL participantes do projeto, assim como informações sobre o uso de coletores de amostra de leite. As porcentagens de UPL com sistemas de ordenha balde ao pé, com ou sem transferidor, e canalizado foram de 56% e 44%, respectivamente. Os resultados diferem dos encontrados por Marin et al. (2021), os quais consistiram em 71% de sistemas balde ao pé e 29% de canalizados. Ainda assim, a predominância de sistemas de ordenha balde ao pé é um indicativo de baixa tecnificação por parte dos produtores do projeto. A maioria das UPL não possui coletores de amostra de leite que podem ser acoplados às ordenhadeiras (84%), independentemente do sistema utilizado. Os coletores são utilizados para o controle individual da composição e da qualidade do leite, uma vez que permitem a obtenção de amostras representativas da ordenha total de cada animal e evitam resultados analíticos imprecisos. No caso de sistemas balde ao pé, as amostras podem ser obtidas diretamente dos tarros, desde que não se misture o leite dos animais. Contudo, em sistemas canalizados não é possível realizar a coleta sem o uso de coletores. Tal resultado se mostra preocupante, uma vez que o controle individual dos animais é uma ferramenta útil na gestão das UPL e reflete na eficiência do sistema de produção. Tabela 2 – Relação entre sistemas de ordenha e uso de coletores de amostra das UPL participantes do Programa Leite Seguro. Sistema de ordenha Coletor de amostra Não Sim Total Balde ao pé 72 8 80 Balde ao pé com transferidor 13 0 13 Canalizado 55 19 74 Total 140 27 167
Conclusão (obrigatório)
Das UPL estudadas, a composição dos rebanhos apresenta em média baixo número de animais, o sistema de ordenha predominantemente utilizado é o balde ao pé e o uso de coletores de amostra de leite não se mostra frequente. A partir destas informações, é possível inferir-se que as UPL participantes do Programa Leite Seguro se caracterizam por pequenos produtores familiares, com baixo nível de tecnificação e que não utilizam ferramentas de gestão como o controle leiteiro individual dos animais. Tais informações são úteis para determinar a melhor abordagem dos técnicos de campo ao sugerirem práticas a serem adotadas nos sistemas de produção.
Agradecimentos (opcional)
Ao Fundo de Defesa de Direito Difuso do Consumidor pelo apoio financeiro, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelas bolsas de estudo.
Área
Geral
Autores
Isabelle Damé Veber Angelo, Rogério Morcelles Dereti, Maira Balbinotti Zanela