Dados do Trabalho
Título
AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA ALTA CONTAGEM DE CÉLULAS SOMÁTICAS EM VACAS LEITEIRAS NA PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE: relato de caso
Contribuição para a sociedade (opcional)
Objetivou-se avaliar os efeitos da alta contagem de células somáticas (CCS) sobre os principais constituintes do leite (proteína e gordura), pela comparação entre quartos mamários sadios e doentes, verificando se há perdas significativas na produção e/ou redução dos principais sólidos totais. Concluiu-se que animais sadios são superiores a animais doentes, em termos de produção e composição centesimal do leite analisado no presente estudo, evidenciando a importância do monitoramento e controle da qualidade do leite dos animais.
Introdução (obrigatório)
Atualmente, a vaca é o principal animal doméstico utilizado para produção de leite destinado à alimentação humana em todo o mundo (SANTOS e FONSECA;2019). Para Massote et. al (2019) a mastite é a inflamação da glândula mamária caracterizada por alterações físicas e químicas do leite, onde são destacadas a descoloração e aparecimento de coágulos, células de descamação do tecido epitelial e a presença de grande número de leucócitos sendo o principal fator que causa o aumento da contagem celular. As células somáticas são compostas por uma combinação de glóbulos brancos, que entram no leite em resposta à inflamação, constituindo a maioria das células somáticas, e células epiteliais, que fazem parte do processo natural de descamação do revestimento do tecido do úbere (BLOWEY e EDMONDSON; 2010; ÖSTENSSON et al.; 1998). A queda na produção de leite de vacas com CCS acima de 200.000céls/ml se deve aos danos ao tecido produtor de leite causados por bactérias da mastite e as toxinas que elas produzem. Além da diminuição no volume de leite produzido, ocorre uma redução na produção dos principais sólidos totais, como lactose, gordura e proteína (BARBANO et al.; 2006). Diante do exposto, este relato de caso tem por objetivo avaliar os efeitos da alta CCS sobre os constituintes do leite, pela comparação entre quartos mamários sadios e doentes, verificando se há perdas significativas na produção e/ou redução dos principais sólidos totais.
Material e métodos (obrigatório)
Para a realização do presente estudo, foram analisados dados de um rebanho girolando, de uma Fazenda comercial localizada em Mogi Mirim, São Paulo, contendo 1465 vacas em lactação, compreendendo um período de 20 meses analisados, tendo início em Janeiro de 2022 e finalizado em Agosto de 2023. Os parâmetros observados foram CCS, Gordura e Proteína obtidos pelos laudos do laboratório credenciado pela Rede Brasileira de Laboratórios de Qualidade de Leite (RBQL) - Clínica do Leite, localizado em Piracicaba - SP. No total foram analisadas 9218 amostras para mensuração de CCS, nas quais foram classificadas entre amostras de animais sadios, sendo estes com CCS menor ou igual a 200.000céls/ml, e animais doentes, com CCS acima de 200.000céls/ml, dentre elas 7802 amostras de leite para mensuração de gordura e 8973 para mensuração de proteína. Além de 7904 pesagens mensais de leite, para estimativa da produção individual, obtida pelo controle leiteiro interno, através do sistema automático de pesagem de leite, vinculado ao software de gerenciamento GEA DairyPlan. Para padronização dos animais, foi realizado o cálculo da estimativa de produção total de leite, produção total de gordura e de proteína em 305 dias de lactação. Os pressupostos estatísticos de normalidade e homoscedasticidade foram avaliados pelos testes de Shapiro-Wilk e Bartlett. Os dados foram submetidos a análise de variância para avaliar se o escore de CS influenciou os parâmetros avaliados e as médias comparadas pelo teste de Tukey (P<0,05).
Resultados e discussão (obrigatório)
A produção de leite média foi de 28,5kg para os animais doentes, e 33,8kg para os animais sadios (P<0,001). Quando analisada a lactação completa, em 305 dias, os animais doentes apresentaram menor produção, com diferença de 1.146,98kg por lactação/vaca, correspondendo à uma redução de 11% (P<0,001). Segundo Auldist e Hubble (1998), a diminuição na produção de leite ocorre em razão das lesões causadas às células epiteliais da glândula mamária, que reduzem a capacidade de síntese e a secreção da glândula mamária. O teor médio de gordura foi de 4.34% em animais doentes, enquanto para os animais sadios a média obtida foi de 4.38% (P=0,01). Quando analisada a lactação completa, os animais doentes obtiveram menor produção de gordura, com diferença de 60,38kg de gordura por lactação/vaca, quando comparados aos animais sadios, correspondendo à uma redução de 13% (P<0,001). Os dados de literatura mostram dados contraditórios em relação aos teores de gordura no leite com aumento na CCS. Normalmente existe tendência de queda na concentração de gordura à medida que a CCS aumenta, o que ocorreu no presente estudo, porém se a redução da produção de leite for mais acentuada do que a diminuição da produção de gordura, os sólidos totais são concentrados (RIBAS et al., 2004). O teor médio de proteína foi de 3.41% em animais doentes, enquanto para animais sadios a média obtida foi de 3.34% (P<0,001). Quando analisada a lactação completa, os animais doentes obtiveram menor produção de proteína, com diferença de 35,89kg por lactação/vaca, quando comparado aos animais sadios, correspondendo à uma redução de 10,47% (P<0,001). Contradizendo o demonstrado na média geral de proteína, na qual os resultados foram superiores em animais doentes, quando se avalia a lactação em uma estimativa de 305 dias, percebe-se que o cenário se inverte, resultado da maior produção de leite dos animais sadios. Segundo Kitchen (1981) ocorre uma redução de proteínas sintetizadas na glândula mamária (α e β caseína, α-lactoalbumina e β-lactoglobulina) e aumento das proteínas de origem sanguínea (albumina sérica e imunoglobulinas), em virtude do aumento de permeabilidade vascular secundário ao processo inflamatório.
Conclusão (obrigatório)
Diante dos fatores expostos, averiguou-se que animais sadios apresentaram maior produção de leite e teores de gordura quando comparados aos animais doentes, entretanto também apresentaram menores teores de proteína numa média geral das análises. Porém, ao considerar a lactação completa observou-se que a redução do teor de proteína nos animais sadios é compensada pela maior produção de leite, demonstrando assim que vacas saudáveis são superiores a vacas doentes, em termos de produção e composição centesimal do leite analisado no presente estudo.
Área
Geral
Autores
Amanda Góes Valle, Felipe Freitas Zanforlin, Isis Kischka Freire