Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

PESQUISA MOLECULAR DE Brucella spp. EM AMOSTRAS DE LEITE UTILIZADO EM QUEIJO MINAS ARTESANAL (QMA) DAS MICRORREGIÕES DE ARAXÁ E CANASTRA, BRASIL

Introdução (obrigatório)

Os queijos minas artesanais (QMA) são um patrimônio cultural e gastronômico de Minas Gerais, representando uma tradição que se estende por diversas gerações. Produzidos em microrregiões renomadas como Cerrado, Araxá, Serra da Canastra, Serro e Campo das Vertentes, esses queijos não só sustentam a economia local, mas também são símbolos da identidade mineira. A produção dos QMA depende crucialmente da utilização de leite de alta qualidade. No entanto, o uso de leite cru pode favorecer a contaminação por patógenos, incluindo zoonóticos, como a Brucella spp., uma bactéria Gram-negativa que pode ser transmitida através do contato direto ou indireto com animais infectados, ou pela eliminação no leite de bovinos infectados. O consumo de leite contaminado com Brucella spp. pode causar brucelose, uma doença de notificação obrigatória em muitos países, inclusive no Brasil, destacando sua relevância para a saúde pública. A brucelose humana pode se manifestar por febre aguda, acompanhada de mal-estar, anorexia e prostração, podendo persistir e progredir para a cronicidade, com severas complicações osteomusculares, neurológicas e cardíacas. Para combater essa ameaça, o Programa de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose Animal (PNCEBT) foi estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) em 2001 e adotado pelo Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Este programa envolve o monitoramento, por médicos veterinários habilitados, da presença dessas doenças em rebanhos bovinos e bubalinos, inclusive em propriedades produtoras de queijos artesanais em Minas Gerais. Assim, a manutenção de um controle sanitário rigoroso no rebanho e a higiene em todo o processo de fabricação deve ser amplamente adotado por todos os produtores de QMA, o que é essencial para garantir a inocuidade dos produtos lácteos feitos com leite cru. Nessa perspectiva, o presente estudo teve como objetivo detectar Brucella spp. em amostras de leite utilizadas por produtores durante a fabricação de QMA nas microrregiões de Araxá e Canastra, por meio da PCR (Reação em Cadeia da Polimerase).

Material e métodos (obrigatório)

Nesse estudo, foram utilizadas no total 27 amostras de leite, divididas em dez amostras provenientes de produtores da microrregião de Araxá, das cidades de Ibiá, Araxá, Campos Altos, Tapira, Pratinha, Sacramento e Santa Juliana, e 17 amostras oriundas de produtores da microrregião da Canastra, dos municípios de São Roque de Minas, Delfinópolis, Vargem Bonita, Piumhi, Tapiraí, Bambuí, Medeiros e São João Batista da Glória. Todos os produtores são cadastrados no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) como produtores oficiais de QMA. As amostras foram identificadas e mantidas a -80°C até o processamento no Laboratório Integrado de Sanidade Animal e Saúde Coletiva (LISASC), da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Minas Gerais. O preparo inicial consistiu na centrifugação da amostra para separação das fases celular, aquosa e de gordura. Após a centrifugação, a fase aquosa foi removida, e as fases de gordura e celular foram homogeneizadas para a subsequente extração de DNA. As extrações de DNA foram realizadas utilizando o kit Dneasy PowerFood Microbial, Qiagen, segundo as recomendações do fabricante. A avaliação da presença de DNA de Brucella spp. foi realizada por meio de Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) usando os primers B4 e B5 para amplificação do gene bcsp31, (223 pb). O conteúdo amplificado foi separado por eletroforese em gel de agarose 1,5% e visualizado usando brometo de etídio (10 mg/mL).

Resultados e discussão (obrigatório)

Em julho de 2019, foi aprovada a Lei Federal Nº 13.860, que declara, em seu artigo 6º, que as propriedades produtoras de QMA devem estar certificadas como livres de brucelose e tuberculose, conforme as normas do PNCEBT, ou controladas pelo órgão estadual de defesa sanitária animal, neste caso o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), a partir de julho de 2022. Como resultado, as amostras de leite utilizado para fabricação de queijos em todas as 27 propriedades, sendo 10 da região de Araxá e 17 da Canastra, testaram negativo para a presença de DNA de bactérias do gênero Brucella. A ausência de bactérias patogênicas, como as do gênero Brucella, no leite é um forte indicativo de que as práticas de manejo e controle sanitário estão sendo eficazmente implementadas pelos produtores. Este resultado é um forte indicativo da qualidade e segurança dos queijos minas artesanais, ao mesmo tempo que ressalta a importância de manter padrões rigorosos de saúde animal. A implementação dessas práticas é crucial, pois o leite cru utilizado na fabricação do QMA não passa por processos de pasteurização que poderiam eliminar patógenos. Portanto, a vigilância contínua e a manutenção de um ambiente controlado e livre de doenças são fundamentais para prevenir a contaminação e proteger a saúde pública. Além disso, este resultado positivo destaca o compromisso dos produtores e do governo em aderir às regulamentações e melhores práticas, promovendo a sustentabilidade e a tradição da produção de queijos artesanais em Minas Gerais. A certificação livre de brucelose e a implementação de vacinas como a RB51 ou B19, além da compra de animais com teste negativo, são medidas essenciais para manter a segurança do leite e evitar surtos de doenças. No entanto, é importante considerar as limitações do estudo. Todas as amostras negativas são um forte indicativo de segurança, mas foram coletadas em um único ponto no tempo, e animais positivos podem liberar patógenos de forma intermitente. Além disso, as amostras de leite foram coletadas de forma geral, não individualmente, o que impede a confirmação de que todos os animais estão saudáveis devido ao fator de diluição ao coletar do "tanque". Esses esforços colaborativos são essenciais para garantir a confiança dos consumidores e preservar a reputação dos queijos minas artesanais no mercado nacional e internacional.

Conclusão (obrigatório)

Em conclusão, a análise das amostras de leite coletadas nas regiões de Araxá e Serra da Canastra não revelou a presença de Brucella. Este resultado sugere a ausência da doença nos rebanhos dessas áreas, indicando que as práticas de manejo e controle de saúde animal estão efetivamente contribuindo para a prevenção da brucelose. No entanto, é importante continuar com monitoramento e controle rigorosos para manter essa condição de saúde e assegurar a qualidade e segurança dos produtos lácteos produzidos na região.

Agradecimentos (opcional)

Os autores agradecem o apoio financeiro das agências CAPES, CNPQ e FAPEMIG.

Área

Geral

Autores

Yasmim Domingos da Silva, Ana Beatriz Melli, Enzo Furtado Silva, Bruno Borges Silva, Maysa Serpa Gonçalves, Andrey Pereira Lage, Elaine Maria Seles Dorneles