Dados do Trabalho

Título

QUALIDADE DO LEITE NO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL: ANÁLISE DE PARÂMETROS E DESAFIOS REGULATÓRIOS

Introdução (obrigatório)

A população mundial está crescendo continuamente, com estimativas apontando que em 2024 ultrapassará 8 bilhões de pessoas e, em 2050, chegará a mais de 9,5 bilhões, aumentando a demanda por alimentos (Saath e Fachinello, 2018). A produção de leite bovino é fundamental nesse cenário, desempenhando um papel crucial na dieta global e impactando diretamente as economias regionais e nacionais (Buleca et al., 2018). A intensificação da produção de gado leiteiro, tanto globalmente quanto no Brasil, tem sido uma tendência, passando de sistemas tradicionais menos produtivos para sistemas mais intensivos, impulsionada pela crescente demanda por produtos lácteos e pela adoção de tecnologias de precisão e práticas de manejo eficientes (Chen et al., 2020).
No Rio Grande do Sul, a produção de leite é significativa, mas enfrenta desafios de qualidade, especialmente no controle da contagem de células somáticas (CCS) e na conformidade com normas regulamentares como as Instruções Normativas N°76 e N°77, que estabelecem critérios de qualidade física, química e microbiológica do leite (Defante et al., 2019). Esses critérios incluem limites máximos de CCS, contagem padrão em placas (CPP), teor mínimo de gordura, proteína, sólidos totais, sólidos não gordurosos e lactose anidra, além da ausência de resíduos de produtos veterinários e contaminantes acima dos limites previstos.
A qualidade do leite é crucial para o mercado e a saúde das vacas leiteiras, sendo influenciada por fatores como dieta das vacas, saúde do úbere, presença de mastite e higiene durante a ordenha (Máric et al., 2019). A CCS é um importante indicador da saúde do úbere e pode ser usada para diagnosticar mastite, uma doença que reduz a produção leiteira e aumenta os custos de produção (Alessio et al., 2021). A ureia, outro indicador importante, reflete na eficiência da dieta na síntese de proteínas e no metabolismo nitrogenado dos animais (Santos et al., 2021).
Os sólidos totais (ST) e o extrato seco desengordurado (ESD) influenciam diretamente a qualidade e o valor comercial do leite, essenciais para usos industriais e produção de leite em pó (Frigeri et al., 2020). Portanto, objetiva-se avaliar as condições da qualidade do leite dos municípios do Noroeste Gaúcho, para avaliar padrões de qualidade.

Material e métodos (obrigatório)

Este trabalho envolveu coletas de leite em municípios do noroeste do Rio Grande do Sul de janeiro de 2019 a maio de 2024, abrangendo 101 cidades e 2002 produtores, totalizando 16.362 análises realizadas por um laticínio. Utilizando o SAS University Edition, foram calculadas as medianas dos componentes do leite para produtor e, posteriormente, cada cidade. Uma análise de agrupamento (PROC CLUSTER) com o método de Ward foi utilizada para formação de grupos distintos de cidades em relação à composição do leite. Diferenças entre os grupos foram analisadas por meio do teste não paramétrico da mediana ou teste de Brown-Mood (PROC NPAR1WAY). Quando este teste resultou em significância (p<0.05), o teste de Dwass, Steel, Critchlow-Fligner foi utilizado para realizar as comparações pareadas entre os grupos de municípios.

Resultados e discussão (obrigatório)

As análises não paramétricas mostraram que a ureia não apresentou diferença estatística (P=0.2397) entre os quatro grupos avaliados, mantendo-se entre 11.55 e 12.30 mg/dL. A literatura descreve diferentes padrões de referência para o nitrogênio ureico no leite, variando conforme fatores como número de partos, peso vivo e dias em lactação. Valores de ureia abaixo de 10 mg/dL podem indicar eficiência proteica, enquanto acima de 15 mg/dL sugerem excesso proteico ou carência energética (Coutinho, 2019). As demais análises apresentaram diferenças estatísticas (P<0.05). O Grupo 4 teve a maior produção de leite, seguido pelo Grupo 1. A gordura variou de 3,78% a 4,03%, todos dentro dos parâmetros da IN76. A proteína variou de 3,30% a 3,42%, novamente com todos os grupos dentro dos padrões da IN76. As variações observadas podem estar ligadas às diferenças na composição do rebanho e a contaminação bacteriana inicial (Alessio et al., 2021). A CPP e a CCS estavam acima dos limites desejáveis, com o Grupo 2 apresentando a maior CPP e CCS (74×10³UFC/mL e 845×10³ céls/mL, respectivamente). A IN76 estabelece um máximo de 300×10³ UFC/mL, todos os grupos se enquadram dentro do regulamento estabelecido. A lactose foi negativamente afetada pelo aumento da contaminação bacteriana, com os Grupos 2 e 3 mostrando os menores valores de lactose e maior CPP (Blum et al., 2008). A boa higiene e o rápido resfriamento do leite são essenciais para controlar a CPP (Bava et al., 2011). A CCS está acima do limite da IN76 (500×10³ céls/mL), indicando problemas de saúde do úbere e higiene na ordenha (Silva et al., 2018). Altos valores de CCS diminuem a vida útil dos produtos lácteos e alteram a composição do leite. Os ST e o ESD influenciam diretamente a qualidade e o valor comercial do leite. Todos os grupos estavam dentro dos padrões da IN76 para ST (mínimo de 11,4g/100g) e ESD (mínimo de 8,4%). O ESD, que compreende todos os componentes do leite exceto a gordura, é essencial para a qualidade do leite destinado à produção de leite em pó. As variações no ESD podem ser explicadas pelas variações nos teores de lactose e proteínas, que diminuem com a idade da vaca lactante (Júnior, 2018).

Conclusão (obrigatório)

O leite da região estudada atende às regulamentações brasileiras. No grupo 4, identificamos municípios que apresentam a melhor qualidade de leite. Por outro lado, os municípios do grupo 2 ainda têm espaço para melhorias. Portanto, há margem para aprimorar a qualidade do leite na região, especialmente em relação à Contagem de Células Somáticas (CCS).

Agradecimentos (opcional)

FIPE-UFSM