Dados do Trabalho
Título
Potencial de modulação de ácidos graxos essenciais (ômega 3 e 6) no leite a partir do extrato etéreo da dieta de vacas leiteiras
Introdução (obrigatório)
O leite e seus derivados fornecem nutrientes essenciais para a saúde e desenvolvimento humano, tais como proteínas de alta qualidade, vitaminas A, D e B12, minerais como cálcio e fósforo, e ácidos graxos (AG) (Pereira, 2014). Conforme evidências, o leite parece ser um aliado para melhoria da saúde e prevenção de algumas doenças, e por isso costuma fazer parte das recomendações para uma alimentação saudável (Yuan et al., 2022).
Historicamente, produtos de origem animal como carne e leite têm sido a base da alimentação humana, embora por muito tempo fossem considerados prejudiciais à saúde. Estudos mostram que o leite pode fornecer AGs essenciais, como n-3 e n-6, que são importantes para a resposta imune e inflamatória, pois não os sintetizamos e precisamos ingeri-los na dieta (Perini et al., 2010, Pereira, 2014). Portanto, devido à sua alta concentração de AGs ômega, o leite pode ser considerado um produto natural benéfico para a saúde e contribuir para a promoção de uma alimentação adequada e saudável. (Aires, 2005).
Ainda, estudos indicam que a fração gordurosa do leite, uma mistura complexa de AGs, pode variar consideravelmente dependendo da dieta das vacas, com impactos diretos na qualidade do produto final (Jensen, 2002). Assim, a compreensão e o controle do perfil lipídico do leite são fundamentais para atender às demandas do mercado consumidor por produtos lácteos mais saudáveis e funcionais.
Isto posto, este trabalho teve por objetivo avaliar um banco de dados onde vacas leiteiras receberam dietas com diferentes concentrações e fontes de extrato etéreo (EE), o qual é adicionado a dieta, principalmente, como fonte de energia para os animais, isto porque a gordura fornece 2,25 vezes mais energia do que carboidratos (Reddy et al., 1994; Simas, 1998), contudo a hipótese é que esta fonte de gordura também altere as concentrações de AGs essenciais aos humanos no leite bovino, tornando-o um potencial alimento nutracêutico.
Material e métodos (obrigatório)
Para a realização deste resumo um banco de dados foi criado em planilha eletrônica com informações de 156 médias de tratamentos de 41 artigos científicos publicados em revistas como Animal Feed Science and Technology, Journal of Dairy Science e Animals, com experimentos realizados em diversos países do mundo como: Brasil, China, Polônia, EUA, Egito, entre outros. Os trabalhos realizaram experimento com vacas leiteiras submetidas a dietas controle e dietas com suplementação de alguma fonte lipídica, especialmente a insaturada a partir de fornecimento de oleaginosas na dieta (linhaça, canola, óleo de soja, girassol, caroço de algodão, entre outras). Após a construção do banco de dados, criamos dois fatores para avaliação dos teores de AGs ômega 3 e 6 e sua relação no leite. O primeiro fator foi o nível de EE nas dietas, sendo <3,5%, de 3,5 a 5% e >5% de EE na dieta. O segundo fator foi a adição ou não de fontes suplementares de EE via oleaginosas na dieta de vacas leiteiras. As análises estatísticas foram efetuadas no software SAS OnDeman, utilizando o teste T para comparar a adição ou não de fontes de EE adicionais nas dietas e o teste F para os níveis de EE dietéticos, utilizando comparações pareadas pelo teste de Tukey. A significância considerada foi de 5% de probabilidade.
Resultados e discussão (obrigatório)
Os níveis de EE das dietas consideradas para este trabalho variaram de 2% da matéria seca total até 13,5%, extrapolando o nível recomendado de 7% de AG totais (NRC, 2021). Contudo, o nível crescente de EE das dietas não alterou significativamente (P>0,05) as concentrações de ômegas 3 e 6 e sua relação no leite, como é apresentado na Tabela 1. Tabela 1: Teores médios ± erro padrão da média de AGs ômega 3 e 6 (g/100g de AG totais) e sua relação considerando diferentes níveis de EE na dieta de vacas leiteiras. Variável <3,5% EE 3,5 a 5% EE >5% EE P-valor Ômega 3 0,690 ± 0,1143 0,739 ± 0,1220 0,803 ± 0,1257 0,5437 Ômega 6 3,329 ± 1,0745 3,351 ± 1,0771 3,336 ± 1,0781 0,9907 Relação n-6/n-3 5,097 ± 1,0109 4,591 ± 1,0473 4,027 ± 1,0623 0,2354 Contudo, as concentrações do AG n-3 foram alteradas significativamente quando avaliamos as fontes de gordura (tabela 2). E isso foi explicado pelas fontes de gorduras suplementadas aos animais, como: algodão, canola, linhaça, soja, girassol, óleo de peixe, entre outros, ambas as fontes ricas em AG insaturados, isto porque, segundo a literatura, a maneira mais simples de alterar a composição da gordura do leite é suplementar a dieta das vacas com lipídios insaturados (Glasser et al., 2008). Além disso, a suplementação também modificou a razão ômega 6/3 de maneira benéfica aos seres humanos, isto porque uma proporção muito alta ômega 6/3, na dieta, promove a patogênese de muitas doenças, incluindo doenças cardiovasculares, câncer e doenças inflamatórias autoimunes, enquanto níveis aumentados de ômega 3 (ou seja, uma baixa proporção ômega 6/3) exercem efeitos supressores (Simopoulos, 2002). Tabela 2: Teores médios ± erro padrão da média de AGs ômega 3, 6 (g/100g de AG totais) e sua relação considerando suplementação ou não com fontes lipídicas para vacas leiteiras. Variável Sem suplementação de fontes de EE Com suplementação de fontes de EE P-valor Ômega 3 0,727 ± 0,0799 0,867 ± 0,0852 0,0153 Ômega 6 2,948 ± 0,6954 2,926 ± 0,6964 0,8033 Relação n-6/n-3 4,594 ± 0,6818 3,724 ± 0,6987 0,0138
Conclusão (obrigatório)
O nível de EE da dieta ofertada a vacas leiteiras, aparentemente, não altera de forma significativa os níveis de ômega 3 e 6 no leite, mas quando avaliamos a fonte de gordura utilizada encontramos que incluir fontes ricas em AG insaturados na dieta de vacas leiteiras aumenta os teores do AG ômega 3, indicando uma possibilidade de modificar via dieta dos animais as características nutracêuticas do leite, pensando em saúde humana.
Agradecimentos (opcional)
Capes
Área
Geral
Autores
Tauane Ianiski Schmeling, Marcos Busanello, Ione Maria Pereira Heygert Velho, Aline Busanello, Emanuelle Barbosa de Quadros, Mariana Assis Borges, João Pedro Velho