Dados do Trabalho
Título
AGENTES ETIOLÓGICOS PRESENTES EM AMOSTRAS DE LEITE CRU REFRIGERADO – Relato de Caso
Titulo em português
AGENTES ETIOLÓGICOS PRESENTES EM AMOSTRAS DE LEITE CRU REFRIGERADO – Relato de Caso
Introdução (obrigatório)
A produção de leite de qualidade é influenciada por diversos fatores, sendo que a contaminação do leite cru pode ocorrer devido a falhas no manejo e na higiene durante a ordenha ou nos equipamentos utilizados (REDIN e MACHADO, 2016). Na maioria dos casos, as bactérias são os principais microrganismos responsáveis pela contaminação, embora leveduras, vírus e fungos, apesar de menos frequentes, também possam desempenhar um papel importantes em determinadas situações (BRITO et al., 2021).
Além disso, compreender a estabilidade dos principais componentes do leite é essencial para a realização de testes que asseguram que o leite consumido está em conformidade com os padrões determinados pela legislação (SANTANA et al., 2021).
Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo realizar análises microbiológicas para identificar os agentes etiológicos presentes em amostras de leite de tanques resfriadores de propriedades rurais, contribuindo para o entendimento dos fatores que impactam a qualidade do leite e, consequentemente, a saúde pública.
Material e métodos (obrigatório)
O estudo foi conduzido no munícipio de Rio Grande, distrito Povo Novo (Capão Seco), no estado do Rio Grande do Sul, onde estão localizadas as três propriedades identificadas como P1, P2 e P3. O período de coleta teve a duração de seis semanas, sendo coletas semanalmente. As três propriedades possuíam sistema de ordenha canalizado com limpeza CIP (clean in place). Na P1, não era utilizado o pré e pós-dipping, enquanto na P2 era utilizado apenas o pós-dipping. Ambas as propriedades não faziam uso de equipamentos adequados para higienização do tanque resfriador. Somente a P3 realizava corretamente o manejo de ordenha e higiene dos equipamentos. As amostras de leite foram coletadas nas três propriedades e enviadas ao Laboratório da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) para a realização das análises microbiológicas. As amostras foram semeadas em ágar sangue ovino a 5%, um meio onde crescem bactérias aeróbicas, gram positivas e gram negativas. Além disso, as amostras foram semeadas em ágar MacConkey, um meio seletivo que permite o crescimento de algumas bactérias gram negativas e de todas as enterobactérias. Após a semeadura, as placas foram incubadas em estufa bacteriológica a 37°C por um período de 24, 48 e até 72 horas. As colônias que cresceram foram replicadas para novas placas de ágar sangue e MacConkey e foram caracterizadas bioquimicamente quanto ao gênero e à espécie. A partir do crescimento observado, foram realizados esfregaços para a coloração de Gram e teste da coagulase, conforme descrito por Rosalem e Lourenço (2023).
Resultados e discussão (obrigatório)
A partir dos resultados das análises microbiológicas do leite cru refrigerado das propriedades, foram identificados 12 gêneros de bactérias nas amostras (Tabela 1). Na propriedade P1, observou-se uma maior predominância da Staphylococcus spp. coagulase positiva, com 42,9% de presença em todas as coletas, seguido de Staphylococcus spp. coagulase negativa com 14,3%, Streptococcus agalactiae com 14,3% e Streptococcus sp., com 14,3%. Na propriedade P2, as bactérias com maior frequência foram Staphylococcus spp. coagulase positiva, com 28,6%, seguido de Staphylococcus spp. coagulase negativa, com 21,44%. A propriedade P3 apresentou maior frequência de Staphylococcus spp. coagulase negativa, com 35,7%, seguido de Streptococcus sp., com 28,6%. Os agentes etiológicos Bacillus sp., Corynebacterium sp. e Staphylococcus spp. coagulase positiva apresentaram 14,3% de presença. As análises microbiológicas indicaram a presença de bactérias mesófilas e psicrotróficas. Na P1, houve prevalência de Staphylococcys spp. coagulase positiva e negativa, Streptococcus agalactiae e Streptococcus sp.. Na P2, observou-se um padrão semelhante, com predomínio de Staphylococcus spp. coagulase positiva e negativa. A presença dessas bactérias está associada a casos de mastite subclínica, que aumentam a contagem de células somáticas (CCS) no leite. Isso reflete falhas no manejo de ordenha e na higienização dos equipamentos, como também observado por Moreira et al. (2016), que encontrou 54,42% de agentes ambientais, sendo Staphylococcus ssp. coagulase negativa sendo a mais prevalente (27,45%). Na P3, verificou-se a predominância de Staphylococcus spp. coagulase negativa e Streptococcus sp.. Dahmer et al. (2023) também observaram a predominância desses gêneros em estudo sobre mastite bovina, identificando-os como principais causadores de mastite e das alterações na CCS, impactando diretamente na qualidade do leite. Do ponto de vista da qualidade do leite, as bactérias psicrotróficas são os principais microrganismos responsáveis pela deterioração do leite e derivados, geralmente associadas à falta de higiene na ordenha ou durante a refrigeração, o que compromete a qualidade do leite cru refrigerado (DIAS et al., 2021). Esses resultados ressaltam a importância de práticas adequadas de manejo e higiene durante a ordenha e a limpeza dos equipamentos para garantir a qualidade do leite e evitar contaminações que podem comprometer a saúde pública e a eficiência produtiva das propriedades leiteiras. Tabela 1 - Gêneros de bactérias identificadas nas amostras de leite cru refrigerado nas propriedades (P1, P2 e P3) Bactérias P1, % P2, % P3, % Bacillus sp. Corynebacterium sp 7,14 0 7,14 7,14 14,3 14,3 Escherichia coli 7,14 0 0 Escherichia sp. 0 0 7,14 Enterococcus sp. 7,14 7,14 7,14 Pseudomonas sp. 7,14 0 0 Staphylococcus aureus 0 7,14 0 Staphylococcus spp. coagulase negativa 14,3 21,44 35,7 Staphylococcus spp. coagulase positiva 42,9 28,6 14,3 Staphylococcus pseudintermedius 7,14 7,14 0 Streptococcus agalactiae 14,3 7,14 0 Streptococcus sp. 14,3 7,14 28,6
Conclusão (obrigatório)
Os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que a predominância de bactérias ambientais e contagiosas influencia diretamente a qualidade do leite cru refrigerado, impactando negativamente a produção de leite nas propriedades rurais. A análise microbiológica revelou uma alta incidência de bactérias dos gêneros Staphylococcus spp. e Streptococcus sp., associadas a casos de mastite subclínica e a elevados níveis de contagem de células somáticas (CCS), comprometendo a qualidade do leite.
Área
Geral
Autores
Rogério Folha Bermudes, Eliana Neves Cardoso Ribeiro, Andressa Miranda Chaves, Larissa Almeida Tejada, Marceli Jurema Ongaratto Kingeski, Thainãn Menezes Costa, Isadora Vencato Selau, Silvia Regina Leal Ladeira