Dados do Trabalho
Título
Avaliação técnica gerencial e sociológica de produtores de leite na microrregião de Ubá
Introdução (obrigatório)
A qualidade do leite cru é um ponto primordial para a fabricação de produtos lácteos de alta qualidade e oferta de produtos seguros aos consumidores. Visando aprimorar a qualidade sanitária e garantir a integridade do produto final as Instruções Normativas (IN) n° 76 e 77, de 26 de novembro de 2018, do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), foram criadas e estabelecem critérios rigorosos de identidade e qualidade para o leite cru refrigerado.
A IN 77 atribui às indústrias de laticínios a responsabilidade pela implementação do Plano de Qualificação de Fornecedores de Leite (PQFL) que, por meio da adoção de Boas Práticas Agropecuárias (BPA) e de um processo contínuo de planejamento, gestão, monitoramento, ações corretivas e auditorias, é capaz de qualificar progressivamente os fornecedores, assegurando melhorias contínuas na qualidade e segurança do leite produzido.
Contudo, ainda há muitas lacunas e necessidade de treinamentos para conscientização dos produtores a respeito dos benefícios de seguir essas normativas. Nesse contexto, o presente estudo teve como objetivo avaliar o conhecimento técnico, gerencial e sociológico dos produtores de leite da microrregião de Ubá, antes da implementação do PQFL.
Material e métodos (obrigatório)
O presente estudo foi realizado através de uma pesquisa de campo, envolvendo dez produtores rurais localizados na Microrregião de Ubá, Minas Gerais, durante o período de maio a junho de 2022. Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário estruturado, composto por 178 perguntas. O mesmo foi aplicado por meio de entrevista pessoal, no qual avaliou-se o nível de conhecimento dos produtores acerca das IN 76 e 77. Além disso, foram investigados os desafios enfrentados na atividade leiteira, caracterizando-se os sistemas de produção e as práticas de manejo nutricional, reprodutivo, sanitário e de ordenha, bem como o bem-estar animal, a adoção de tecnologias, a visão sobre o futuro e sucessão da propriedade e a disposição para mudanças.
Resultados e discussão (obrigatório)
A pesquisa revelou dados sobre a familiaridade dos produtores rurais com as IN 76 e 77. No que se refere às exigências de temperatura do leite cru refrigerado, 70% dos produtores estavam cientes da necessidade de manter a temperatura máxima de 4°C na fazenda, e 60% conheciam a exigência de 7°C na recepção do leite pela indústria. Em relação ao controle da Contagem Padrão em Placas (CPP), apenas 30% sabiam que três médias trimestrais fora do padrão poderiam resultar na interrupção da coleta de leite. Esses resultados evidenciam a necessidade de programas contínuos de capacitação para garantir a conformidade com as normativas vigentes. Quanto aos desafios enfrentados na atividade leiteira, 100% dos participantes mencionaram a dificuldade de acesso ao crédito facilitado; 90% relataram dificuldades com mão de obra e 80% destacaram a necessidade de melhorar a eficiência na compra de insumos. A ausência de assistência técnica e gerencial foi apontada por 70% dos produtores, o que compromete a implementação de BPA. A insatisfação do relacionamento com a indústria, mencionada por 90% dos participantes, indica a necessidade de uma comunicação mais efetiva e uma parceria mais colaborativa para alcançar padrões elevados de qualidade. Em relação aos sistemas de produção, 70% das propriedades utilizam mão de obra familiar, mista e temporária, refletindo a falta de recursos para contratar mão de obra permanente e especializada. Quanto às estratégias de alimentação animal, 90% das propriedades forneciam volumoso de capineira e 70% utilizavam silagem de milho ou sorgo, além de milho reidratado. Contudo, apenas 20% das propriedades contavam com a formulação de dietas realizada por um profissional habilitado, evidenciando uma lacuna significativa na gestão nutricional. Os custos com alimentação podem representar até 70% dos custos totais, e a adequação da dieta às necessidades nutricionais dos animais impacta diretamente a qualidade do leite. No que se refere à ordenha, 90% das instalações contavam com sistemas de ordenha mecânica, 80% possuíam fosso e 70% circuito fechado, demonstrando avanços nas práticas de obtenção do leite cru. Para a limpeza da ordenha, 90% incluíam o uso de detergente ácido, 70% água quente e 70% sanitização prévia. A maior deficiência foi o uso de detergente alcalino, empregado por apenas 20% dos produtores, essencial para a remoção de resíduos orgânicos e prevenção de contaminação por biofilmes. Em termos de uso de medicamentos, 90% das propriedades identificavam visualmente os animais em período de carência, e 70% seguiam as recomendações de dosagem e carência para envio do leite. Apenas 30% registravam os tratamentos realizados, e somente 20% contavam com orientação veterinária para protocolos de tratamento. Isso evidencia uma deficiência na gestão de medicamentos e o risco de resistência antimicrobiana devido ao uso incorreto de produtos veterinários. Quanto à utilização de tecnologias, 90% dos entrevistados demonstraram afinidade com smartphones ou possuíam familiares que o fazem, e 70% mostraram interesse por crédito subsidiado, orientado e facilitado. Em relação à produção de leite, 90% dos produtores valorizavam os programas de pagamento por qualidade e interpretavam bem a tabela de pagamento. Para o futuro, 70% dos produtores desejam aumentar a produção de leite e recomendam a atividade para herdeiros, embora poucos planejem aumentar o rebanho e alguns considerem deixar a atividade nos próximos cinco anos. De modo geral, os resultados demonstram pontos a serem melhorados, especialmente no conhecimento técnico e na gestão das propriedades leiteiras. Os desafios identificados representam oportunidades de investimento em capacitação para assegurar a qualidade do leite cru refrigerado.
Conclusão (obrigatório)
Os resultados destacam a diversidade de práticas e adoção de manejos na obtenção do leite cru refrigerado. Enquanto alguns produtores se destacam pelo uso eficiente de tecnologias e práticas de manejo de qualidade, outros ainda enfrentam desafios significativos para atingir os parâmetros determinados na legislação. A falta de assistência técnica especializada e a dependência de mão de obra familiar e temporária são fatores que limitam o desenvolvimento do setor.
Foi demonstrado pela maioria dos produtores, o interesse em aumentar a produção e implementar melhorias tecnológicas, o que indica uma tendência positiva para o futuro da atividade leiteira. No entanto, é essencial que haja um apoio mais estruturado em termos de assistência técnica e acesso a financiamentos, para que todos os produtores possam alcançar seu potencial máximo.
Agradecimentos (opcional)
A FAPEMIG pelo projeto APQ 04115-22 e a EPAMIG.
Área
Geral
Autores
Vanessa Cominato, Kely de Paula Correa, Flaviana Pacheco Coelho, Ana Flávia Novaes Gomes, Vanessa Aglaê Martins Teodoro