Dados do Trabalho
Título
TRATAMENTO SELETIVO DA MASTITE À SECAGEM EM VACAS CRIADAS A PASTO COM ORDENHA ROBÓTICA
Introdução (obrigatório)
O tratamento seletivo no período seco é amplamente debatido, especialmente em função das restrições do uso preventivo de antimicrobianos contra a mastite em vacas leiteiras (Scherpenzeel et al., 2018). No Brasil, a terapia seletiva da vaca seca é incomum e as informações sobre seu uso em sistemas robóticos de ordenha são escassas. Na ordenha robótica podem ser gerados dados para a criação de alertas sobre a necessidade de tratamento antimicrobiano ao final da lactação. O objetivo deste estudo foi avaliar parâmetros do sistema de ordenha robótica antes da secagem e a eficácia do tratamento seletivo em vacas criadas a pasto.
Material e métodos (obrigatório)
Vacas das raças Holandesa e cruzamentos entre esta raça e Jersey foram ordenhadas em sistema automático Voluntary Milking System DeLaval VMS™ V300. Selecionou-se 178 quartos mamários (QM) de 45 vacas à secagem, com previsão média de parto após 60 dias. Amostras de leite foram obtidas para o diagnóstico microbiológico da mastite subclínica antes da secagem (± 3 dias) e na lactação posterior (10 e 30 dias pós-parto). A etiologia infecciosa da doença foi confirmada pela técnica Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization – Time of Flight Mass Spectrometry (MALDI-TOF). Casos de mastite clínica foram investigados pelo teste da caneca telada de fundo escuro. QM foram divididos em dois grupos: 1) Não tratado / n=121 (Sem tratamento e sem mastite); e 2) Tratado / n=57 (Com tratamento e com mastite). O tratamento antimicrobiano foi realizado por infusão intramamária de 0,25g de Cefalônio Anidro e quartos mamários sem mastite não foram tratados. Os quartos com e sem tratamento receberam infusão de Subnitrato de Bismuto (2,6g). As informações obtidas do VMS sobre a condutividade elétrica (CE) (mS/cm), taxa de fluxo (L/min) e produção de leite (L) foram monitoradas por 21 dias pré-secagem. Os dados foram submetidos à análise de variância (procedimento MIXED) e de medidas repetidas no tempo. O teste de Tukey foi usado para comparações múltiplas, enquanto o Qui-Quadrado aplicado para avaliar a evolução dos casos de mastite na lactação seguinte (P=0,5).
Resultados e discussão (obrigatório)
Staphylococcus chromogenes foi o micro-organismo de maior ocorrência na etiologia da mastite pré-secagem, seguido por S. aureus (48,1% e 20,7%, respectivamente). No presente estudo, após a avaliação da produção de leite de cada quarto mamário, observou-se que os QM tratados apresentaram produção média geral inferior à dos QM não tratados (Tabela 1). Tabela 1 - Valores de produção de leite, condutividade elétrica e fluxo de leite para quartos mamários não tratados e tratados à secagem. Quartos Mamários Quartos Não Tratados Quartos Tratados Variáveis Prod¹ CE² Flx³ Prod¹ CE² Flx³ AD⁴ 2,31 3,72 0,87 1,96 4,08 0,95 AE⁵ 1,96 3,84 0,82 1,74 3,94 0,98 PD⁶ 2,61 3,85 0,91 2,60 4,07 1,08 PE⁷ 2,28 4,05 0,89 2,68 3,99 1,02 Média Geral 2,29 3,87 0,87 2,25 4,02 1,01 ¹Produção de leite (L); ²Condutividade elétrica (mS/cm); ³Fluxo médio de leite (L/min); ⁴Anterior direito; ⁵Anterior esquerdo; ⁶Posterior direito; ⁷Posterior esquerdo. Na mastite, as perdas na produção de leite são estimadas em 5% da produção total durante o período de lactação e em 0,5 kg de leite para cada aumento de duas vezes no número de células somáticas (Seegers; Fourichon; Beaudeau, 2003). Os valores médios de CE foram 3,87 mS/cm e 4,02 mS/cm nos QM saudáveis e doentes, respectivamente. Durante a mastite, o processo inflamatório aumenta a permeabilidade vascular nos alvéolos mamários, permitindo que íons cloreto e sódio migrem para leite, elevando a condutividade elétrica. QM tratados com antimicrobianos mostraram uma taxa média de fluxo de leite mais elevada em comparação aos não tratados, possivelmente pela maior abertura do canal do teto durante o fluxo, o que pode ter facilitado a entrada de micro-organismos pelo canal (Penry et al., 2017). No pós-parto foram analisados 155 QM, 103 do grupo não tratado e 52 do grupo tratado. Aos 10 dias, 83,5% dos QM não tratados mantiveram-se saudáveis e 82,7% de QM tratados foram curados, enquanto aos 30 dias esses percentuais foram de 86,4% e 78,8%, respectivamente. Não houve diferença entre as ocorrências de infecções intramamárias aos 10 (χ2=0,02 / P = 0,899) e 30 (χ2=1,46 / P = 0,227) dias pós-parto, entre os quartos mamários não tratados e tratados. Os parâmetros estudados nos 21 dias pré-secagem não apresentaram diferença entre os quartos com e sem mastite (Tabela 2). Tabela 2 - Resultados do teste de comparação de médias para produção de leite, condutividade elétrica e fluxo de leite entre quartos mamários não tratados e tratados à secagem. Quartos Mamários Produção de leite Condutividade elétrica Fluxo de leite Anterior Direito 0,8321ⁿˢ 0,3511ⁿˢ 0,3204ⁿˢ Anterior Esquerdo 0,9167ⁿˢ 0,1283ⁿˢ 0,0587ⁿˢ Posterior Direito 0,3882ⁿˢ 0,9988ⁿˢ 0,848ⁿˢ Posterior Esquerdo 0,0933ⁿˢ 0,9634ⁿˢ 0,2327ⁿˢ Teste de Tukey ao nível de significância de 5% (P=0,05). 'ns' indica diferença não significativa.
Conclusão (obrigatório)
Parâmetros oriundos do sistema robótico de ordenha foram úteis para a comparação dos valores originados de quartos tratados e não tratados à secagem. Estes valores espelham a interferência do processo infeccioso nas características do leite e da ordenha. Adicionalmente, a ausência de tratamento preventivo nos quartos sadios não propiciou uma maior evolução para mastite na lactação seguinte, quando comparados com os quartos tratados infectados antes da secagem.
Agradecimentos (opcional)
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – (CNPq). Processo: 403108/2023-3.
Referências bibliográficas (opcional)
PENRY, J. F. et al. Short Communication: Cow-and quarter-level milking indicators and their associations with clinical mastitis in an automatic milking system. Journal of Dairy Science, v. 100, n. 11, p. 9267-9272, 2017.
SCHERPENZEEL, C. G. M. et al. Veterinarians' attitudes toward antimicrobial use and selective dry cow treatment in the Netherlands. Journal of Dairy Science, v. 101, n. 7, p. 6336-6345, 2018.
SEEGERS, H.; FOURICHON, C.; BEAUDEAU, F. Production effects related to mastitis and mastitis economics in dairy cattle herds. Veterinary Research, v. 34, n. 5, p. 475–491, 2003.
Área
Geral
Autores
Mariana Massoni Fraga, Maria Fernanda Tonelli, Maria Laura Da Silva, Larissa Cristina Brassolatti, Teresa Cristina Alves, Waldomiro Barioni Júnior, Luiz Francisco Zafalon