Dados do Trabalho
Título
Caracterização de mastite aguda e crônica em vacas leiteiras abatidas em frigorífico sob Serviço de Inspeção Federal no Estado de Santa Catarina
Introdução (obrigatório)
A mastite é a principal doença que acomete vacas leiteiras, gerando grandes prejuízos relacionados ao tratamento, descarte de leite e descarte precoce de vacas (Bianchi et al., 2019). Vacas descartadas por mastite normalmente são abatidas, com aproveitamento da carcaça. No entanto, de acordo com o artigo 162 do Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA (Brasil, 2020) é necessário que haja uma classificação entre mastite crônica e aguda, para decidir o destino da carcaça. Quando não há comprometimento sistêmico, em quadros agudos a carcaça será destinada à esterilização por calor e em quadros crônicos a carcaça é liberada. Porém, não existem uma definição clara e padronizada de quais aspectos ou lesões devem ser considerados em quadros agudos ou crônicos de mastite, ficando subjetiva a classificação. Portanto, o objetivo deste trabalho é caracterizar a mastite aguda e crônica com base na visualização macroscópica da glândula mamária e possíveis alterações de carcaça e identificar os principais microrganismos causadores de mastites.
Material e métodos (obrigatório)
Foram avaliadas 56 glândulas mamárias de vacas com mastite, abatidas em um frigorífico sob Serviço de Inspeção Federal (SIF) no Estado de Santa Catarina. No momento da esfola, as glândulas mamárias com alterações (abcessos, edema, hiperemia ou outro sinal), eram desviadas para análise externa e interna pelo SIF, onde eram examinadas, fotografadas e era coletada uma amostra da lesão e das bordas para análise microbiológica. A partir das lesões da glândula mamária as mastites foram classificadas em crônicas e agudas. As amostras foram identificadas com o número do brinco da vaca e refrigeradas para posterior análise. A carcaça também era marcada e desviada para o Departamento de Inspeção Final (DIF) onde eram analisadas juntamente com as vísceras, cabeça e língua para averiguação de sinais sistêmicos e possíveis alteração na carcaça. No laboratório, as amostras de glândula mamária foram flambadas superficialmente para minimizar contaminação. Com uma lâmina de bisturi estéril foi realizada uma incisão mais profunda na lesão e coletado um swab estéril, semeado em ágar sangue, e incubado a 37 °C por 24 horas. As colônias foram isoladas e caracterizadas fenotipicamente com base em sua morfologia. Em seguida foi realizado a identificação por provas bioquímicas específicas para cada classificação de Gram.
Resultados e discussão (obrigatório)
Das 56 glândulas mamárias avaliadas, 37 (66,1%) foram classificadas como mastite crônica, 17 (30,3%) como mastite aguda e 2 (3,6%) como mastite aguda e crônica. As lesões observadas nas glândulas mamárias com mastite aguda foram principalmente edema (11 glândulas), fibrose (3), abcesso (2) e lesão papular, conteúdo purulento difuso, grumos e coloração pálida difusa (1 glândula). Foi observado secreção purulenta em 14 glândulas, secreção serosa em 4, serosanguinolenta em 3 e leite com grumos e secreção sanguinolenta em 1 glândula mamária. Foram observadas alterações em 13 linfonodos mamários, 2 linfonodos ilíacos e pré-escapular e em 1 linfonodo pré-crural. As glândulas mamárias classificadas com mastite crônica apresentaram principalmente edema (30), abcesso (20), fibrose (12), tecido de granulação (8), lesão papular (5), sinais de necrose (2), palidez difusa (2) e distensão cutânea lateral do teto (1). Foram observadas secreção purulenta em 24 glândulas, secreção serosanguinolenta em 8, leite com grumos em 2 e secreção serosa em 1 glândula mamária. Foram observadas alterações em 17 linfonodos mamários, 7 ilíacos, 2 pré-escapular e 1 pré-crural. No entanto, não foram observadas alterações nas carcaças relacionadas aos quadros de mastite. Mastites agudas são caracterizadas principalmente por um aumento de volume no quarto afetado, com edema, hiperemia e acúmulo de exsudato na cisterna do teto, sendo sinais mais claros de inflamação (Santos e Alessi, 2016). Enquanto quadros crônicos não necessariamente estão atrelados a sinais de inflamação, mas são comumente associados à fibrose tecidual (Bianchi et al., 2019). Das 56 amostras coletadas houve crescimento de 93 colônias (Figura 1), destas 83 eram Gram-positivas e 10 Gram-negativas. Dentre as Gram-positivas, o gênero Staphylococcus foi o mais isolado (68,6%), seguido por Streptococcus (25,3%), Corynebacterium spp. (3,6%) e Enterococcus spp. (2,4%). Com relação aos Staphylococcus, 60% eram coagulase negativa (SCN) e 40% coagulase positiva (SCP). Dentre as Gram-negativas, Klebsiella spp. foi a mais isolada (30%) seguida pelas E. coli, Proteus spp. e Citrobacter spp. com 20% e Pseudomonas aeruginosa com 10% de isolamento. Figura 1. Isolamento bacteriano em amostras de mastite aguda e crônica de vacas abatidas em um frigorífico sob Serviço de Inspeção Federal (SIF) no Estado de Santa Catarina. Em trabalho semelhante, Bianchi et al. (2019) também observaram maior isolamento de Streptococcus spp., SCN, S. aureus, S. agalactiae, S. uberis, e C. bovis. A maior prevalência destes microrganismos se dá por serem agentes contagiosos. Em nosso estudo, a elevada prevalência de S. aureus pode estar atrelada ao maior descarte de vacas infectadas por esses agentes, por ser altamente contagioso e de difícil tratamento. A baixa prevalência de bactérias Gram-negativas pode estar relacionada as características desses microrganismos, que normalmente causam quadros agudos e superagudos de mastite clínica, em menor proporção em nosso estudo.
Conclusão (obrigatório)
Glândulas mamárias com mastite aguda se caracterizam principalmente pela presença de edema, acúmulo de exsudato na cisterna do teto e eritema disseminado. As mastites crônicas se caracterizaram por aumento de rigidez e tecidos fibrosados, com presença de múltiplos abcessos e aumentos da espessura da parede.
Bactérias dos gêneros Staphylococcus e Streptococcus são os principais agentes isolados em lesões de glândula mamária de vacas abatidas com mastite aguda e crônica.
Referências bibliográficas (opcional)
Bianchi R.M. et al. Pathological and microbiological characterization of mastitis in dairy cows. Tropical Animal Health and Production. 2019. 51:2057–2066. doi.org/10.1007/s11250-019-01907-0.
BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (RIISPOA). Diário Oficial da República Federativa do Brasil, de março de 2017, alterado pelo decreto nº 10.468, de 18 de agosto de 2020
Santos, R.L., Alessi, A.C. Patologia veterinária. 2ed. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2016.
Área
Geral
Autores
Ester Roepcke, Lucas Telles, Nadine Felipus, Sergio Antônio Bogdano Bajaluk, Sandra Maria Ferraz , Roberto Kappes, André Thaler Neto