Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

Características do colostro e seu impacto na criação de bezerras leiteiras em fazendas de Castro - PR e região

Introdução (obrigatório)

A criação de bezerras na pecuária leiteira requer práticas de manejo corretas, incluindo a colostragem eficaz e uma nutrição adequada, nas quais, são fundamentais para reduzir os prejuízos financeiros e garantir o desenvolvimento saudável das bezerras, influenciando diretamente o custo de produção nas fazendas leiteiras. Estudos foram realizados buscando definir parâmetros e recomendações para evitar os prejuízos encontrados em bezerreiros (Azevedo et al., 2020). Entretanto, as técnicas utilizadas dependem das práticas de manejo, da qualidade do colostro e do poder de investimento do produtor. Em razão da complexidade da criação de bezerras e do impacto no custo de produção da propriedade, o presente estudo teve como objetivo analisar as características dos colostros fornecidos sobre a sanidade e desempenho de bezerras leiteiras.

Material e métodos (obrigatório)

O experimento consistiu na coleta de dados em fazendas leiteiras localizadas no estado do Paraná, no município de Castro-PR e região, totalizando nove propriedades e 1479 animais. As coletas de dados ocorreram entre junho de 2022 a junho de 2023, sendo avaliado o tipo de colostro fornecido (TIPCOL): a) colostro fresco: recém ordenhado;  b) colostro proveniente do banco de colostro (congelado): colostro de alta qualidade, descongelado em banho-maria; c) colostro fresco e enriquecido: colostro fresco, com a adição de colostro em pó.  A análise da qualidade dos três tipos de colostro das fazendas foi realizada por meio do refratômetro de Brix. Avaliou-se indiretamente a transferência da imunidade passiva por meio de um refratômetro de Brix, coletando-se amostras de sangue dos animais entre 24 e 48 horas de vida (brix sérico), conforme descrito por Deelen et al., 2014. Também foram analisados o peso ao desaleitamento (PD), ganho médio diário (GMD) e a ocorrência de diarreia (número de casos) nas bezerras durante todo período avaliado. A ocorrência da enfermidade foi quantificada por meio da análise clínica e visual de cada responsável pelo bezerreiro. No caso de sintomatologia clínica de diarreia, a principal observação foi o amolecimento das fezes, acompanhado ou não de febre, e desidratação. Os parâmetros foram analisados utilizando o programa R®, versão 3.6.3 (2020), considerando o nível de significância de 5%. Para as análises relacionadas ao Brix sérico, PD, GMD diário em função do TIPOCOL foi realizada a análise de médias comparadas pelo teste de Tukey. Para as análises relacionadas as variáveis diarreia, realizou-se a regressão logística, e as proporções foram comparadas por meio da razão de chances (OR).

Resultados e discussão (obrigatório)

Os rebanhos avaliados apresentaram alta produção de leite, com média de 40,3 litros/vaca/dia. As médias de Brix do colostro e do Brix sérico das bezerras foram 28% e 9,66%, respectivamente. Bezerras alimentadas com colostro fresco apresentaram Brix sérico e PD semelhantes em relação às bezerras alimentadas com colostro congelado. Já o colostro enriquecido proporcionou menores Brix sérico, GMD e PD (Tabela 1). A maioria dos produtores forneceram o colostro congelado (45%), seguido pelo colostro fresco. Isso pode ter ocorrido devido a facilidade de manejo e aproveitamento que o banco de colostro proporciona. O colostro fresco, embora mantenha as concentrações de leucócitos maternos íntegras, está sujeito a modificações qualitativas devido à contaminação bacteriana e à alteração do pH caso não seja ordenhado e armazenado com os devidos cuidados (Cummins et al., 2016).   Tabela 1 - Médias da avaliação do Brix sérico (%), do ganho médio diário (GMD, kg/animal/dia) e do peso ao desaleitamento (PD, kg) em função do tipo de colostro fornecido para bezerras leiteiras   Tipo de colostro N Brix Sérico GMD PD Colostro fresco* 539 9,64a ± 0,81 0,915b ± 0,15 115,1a ± 11,8 Colostro congelado** 665 9,56a ± 0,81 0,944a ± 0,15 112,5a ± 11,6 Colostro fresco enriquecido*** 275 9,43b ± 0,81 0,865c ± 0,14 110,7b ± 11 P-valor   <0,05 <0,05 <0,05 C.V. (%)   8,51 16,3 9,6 Médias seguidas de letras diferentes na coluna, diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey. C.V.: coeficiente de variação. * Colostro recém-ordenhado. **Banco de colostro. ***Colostro fresco enriquecido com colostro em pó.   O TIPOCOL influenciou na ocorrência de enfermidades das bezerras (Tabela 2). As bezerras que consumiram o colostro fresco e enriquecido apresentaram mais chances de ocorrência de diarreia, contradizendo a literatura, já que o enriquecimento com o colostro em pó proporciona melhor composição do alimento, consequentemente, melhorando a imunidade das bezerras e seu desempenho (Bittar et al., 2018).   Tabela 2 - Número e porcentagem de casos de diarreia em bezerras leiteiras em função do tipo de colostro fornecido Número de casos Colostro fresco* Colostro congelado** Colostro fresco enriquecido*** P-valor 0 221 (41%) 386 (58%) 64 (23,2%)   1 ou mais 318 (58,9%) 279 (41,9%) 211 (76,7%)  <0,001  Total 539 665 275   OR Referência 0,5 2,29   * Colostro recém-ordenhado. **Banco de colostro. ***Colostro fresco enriquecido com colostro em pó.   No entanto, essa variação pode ter ocorrido devido a carga microbiana do colostro fresco, o ambiente desafiador, genética do animal, manejo nutricional, o diagnóstico das enfermidades, além de fatores como diluição, homogeneização e quantidade do colostro em pó adicionado. 

Conclusão (obrigatório)

O colostro congelado promoveu maior GMD e PD das bezerras. O colostro fresco e enriquecido resultou nos piores resultados em relação ao desempenho e morbidade comparados aos colostros fresco e congelado.

Referências bibliográficas (opcional)

AZEVEDO, R. A. et al. Padrão Ouro de Criação de bezerras leiteiras. Uberaba, Minas Gerais, 2020. 1ª Edição. 30 p.
BITTAR, C. M. M.; PORTAL, R. N. S.; PEREIRA, A. C. F. C. Criação de bezerras leiteiras. ESALQ/UPS, Piracicaba, 2018.
CUMMINS, C.; LORENZ, I.; KENNEDYET, E. Short communication: The effect of storage conditions over time on bovine colostral immunoglobulin G concentration, bacteria, and pH. Journal of Dairy Science., v. 99, p. 4857-4863, 2016.
DEELEN, S. M.; OLLIVETT, T. L.; HAINES, D. M.; LESLIE, K. E. Evaluation of a Brix refractometer to estimate serum immunoglobulin G concentration in neonatal dairy calves. Journal of Dairy Science 97: 3838-3844, 2014.

Área

Geral

Autores

Ana Vitória Oliveira Pereira, Lígia Caroline Rodrigues Debetil, Lemuel Ramos Morais, Adriana Souza Martins, Sandra Maria Simonelli, Carla Maris Machado Bittar, Bruna Silva Marestone