Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

Lactocultura como ferramenta central no controle da mastite em cabras leiteiras

Contribuição para a sociedade (opcional)

A lactocultura é uma ferramenta importante para o controle eficaz da mastite em cabras leiteiras. Este método permite a identificação dos patógenos causadores de infecção intramamária subclínica (IMIs), possibilitando intervenções direcionadas e redução significativa das infecções. A técnica não só é eficiente na obtenção de resultados claros e confiáveis, como também é aplicável a propriedades de diferentes tamanhos. O uso da lactocultura contribui para práticas de manejo mais eficientes e sustentáveis, minimizando o uso indiscriminado de antibióticos e melhorando a saúde do rebanho, o que é benéfico tanto para a qualidade do leite quanto para a economia dos produtores.

Introdução (obrigatório)

Em 2019, o rebanho caprino brasileiro alcançou 11,3 milhões de cabeças, com a região Nordeste concentrando 94,5% desse total. A caprinocultura tem se mostrado bem adaptada ao clima do país, destacando-se na produção de leite de cabra, que é uma alternativa nutritiva ao leite de vaca, especialmente para indivíduos com alergias ou intolerâncias. O leite caprino pode ser utilizado na fabricação de diversos produtos derivados, como queijos e iogurtes. No entanto, a mastite caprina, uma inflamação da glândula mamária, representa um problema significativo para os produtores, afetando a qualidade e a quantidade do leite, e acarretando custos elevados. A mastite é responsável por 26% dos custos com enfermidades na exploração leiteira e pode representar 10% do valor monetário da produção. O diagnóstico e controle de mastite subclínica são importantes para evitar perdas e a disseminação da doença. A lactocultura se apresenta como uma ferramenta chave para identificar e controlar infecções intramamárias subclínicas, promovendo a prática de boas práticas de higiene e manejo. O presente trabalho mostra o uso da lactocultura associada à práticas de higiene foram eficientes para diminuição da prevalência de IMIs em cabras além de mudar o perfil patogênico das bactérias.

Material e métodos (obrigatório)

Material e Métodos: Animais Foram coletadas amostras de leite de 150 cabras da raça Saanen em uma fazenda comercial de Santa Inês, Maranhão. A fazenda realiza a ordenha de 120 a 200 cabras diariamente, em um sistema canalizado com um tanque de expansão de 1000L. Duas coletas de leite foram realizadas, com um intervalo de 60 dias entre elas. Este intervalo foi escolhido para garantir uma representação adequada dos efeitos das intervenções do uso dos dippings e o treinamento da equipe. Coleta de Leite A coleta inicial envolveu o teste da caneca de fundo escuro para identificar e descartar amostras de mastite clínica, seguido pela coleta de 5 ml de leite por metade mamária de cada cabra. As amostras foram enviadas para análise microbiológica após pré-dipping com ácido glicólico, secagem com papel toalha, e antissepsia com álcool a 70ºGL. Isolamento e Identificação Bacteriana As amostras de leite foram cultivadas em ágar-base enriquecido com 5% de sangue de ovino e incubadas a 37ºC. A identificação das bactérias foi realizada por características morfológicas e ao Teste de Gram. As amostras foram analisadas pelo método MALDI-TOF para uma identificação das espécies bacterianas, utilizando espectrofotometria de massa e comparação com banco de dados de referência. Intervenção Após a Primeira Coleta Após a primeira coleta, os animais foram segregados com base no status da lactocultura. A linha de ordenha foi organizada em três categorias: animais negativos (colares verdes), positivos em um teto (colares amarelos) e positivos em ambos os tetos (colares vermelhos). Foram implementadas melhorias na higiene da ordenha com soluções à base de ácido glicólico e iodada a 3% com glicerina.

Resultados e discussão (obrigatório)

Na primeira coleta, 70% das glândulas mamárias foram positivas para mastite, com 50% dos animais positivos em ambas as glândulas. O perfil bacteriano revelou predominância de Mammalicoccus sciuri e Staphylococcus simulans. Após a intervenção, 80% das metades mamárias estavam negativas para mastite. A prevalência de Staphylococcus epidermidis aumentou, enquanto a de Staphylococcus aureus e Mammalicoccus sciuri diminuiu (figura 1). As práticas de manejo, como a segregação e a utilização adequada de soluções desinfetantes, foram eficazes na redução das infecções e na alteração do perfil bacteriano para menos patogênico. Muito conhecido na indústria de cosméticos por sua ação na renovação celular, hidratação e rejuvenescimento da pele, o ácido glicólico é uma molécula naturalmente presente no leite, sem nenhum risco de deixar resíduos, além de ser de tamanho pequeno que permite agir na pele estimulando a atividade celular. Esses resultados confirmam a eficácia da lactocultura e das práticas de higiene na gestão da mastite subclínica, alinhando-se com estudos anteriores sobre a importância das boas práticas de manejo.  

Conclusão (obrigatório)

A lactocultura é uma ferramenta chave no controle das infecções intramamárias em cabras leiteiras. Através da identificação dos patógenos e da implementação de práticas de higiene adequadas, foi possível reduzir significativamente as infecções subclínicas e modificar o perfil bacteriano para menos patogênico. A técnica promove melhorias na saúde do rebanho e na qualidade do leite, além de ser uma abordagem prática e eficiente para propriedades de diversos tamanhos. A adoção do uso da lactocultura em intervalos regulares para o acompanhamento do perfil patogênico das bactérias causadores de mastite no rebanho além do adequado treinamento da equipe para a importância do manejo higiênico de ordenha com soluções desinfetantes produzidas para esse fim, devem ser as diretrizes de um bom programa de controle de mastite em rebanhos caprinos.

Agradecimentos (opcional)

Agradecemos a Fazenda Eldorado pelo apoio logístico e a UFPB pelo financiamento da pesquisa.

Referências bibliográficas (opcional)


Addis MF, et al. Non-aureus staphylococci and mammaliicocci isolated from bovine milk in Italian dairy farms: a retrospective investigation. Vet Res Commun. 2024 Feb;48(1):547-554.

Biswas S, Rolain JM. Use of MALDI-TOF mass spectrometry for identification of bacteria that are difficult to culture. J Microbiol Methods. 2013 Jan;92(1):14-24.

Contreras A, et al. Mastitis in small ruminants. Small Ruminant Research. 2007 Mar;68(1-2):145-53.

de Moura GS, et al. Emergence of livestock-associated Mammaliicoccus sciuri ST71 co-harbouring mecA and mecC genes in Brazil. Vet Microbiol. 2023 Aug;283:109792.

IBGE. Censo Agropecuário 2022. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas-novoportal/sociais/agricultura-e-pecuaria/17592-censo-agropecuario.html. Acesso em:10 Jul. 2024.

S. M. Godden, et al. Randomized noninferiority study evaluating the efficacy of a postmilking teat disinfectant for the prevention of naturally occurring intramammary infections. J. Dairy Sci. 99:3675–3687

Área

Geral

Autores

Maria Ianne Costa Silva, Álisson Fernando Soares Batista, Sarah Jennifer Pereira Lourenço, Pedro Henrique da Nóbrega Dantas, Pedro Henrique de Freitas Braz, Michele Flávia Sousa Marques, Guilherme Santana de Moura