Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

ESTABILIDADE AO TESTE DO ÁLCOOL, ACIDEZ TITULÁVEL E QUALIDADE DO LEITE INDIVIDUAL POR VACA – ANÁLISE DE DADOS EXPERIMENTAIS: UMA ABORDAGEM MULTIVARIADA

Introdução (obrigatório)

A estabilidade do leite ao teste do álcool é um parâmetro físico-químico avaliado pela indústria tanto nas fazendas leiteiras, quanto na plataforma de recebimento. A legislação recomenda uma graduação alcoólica mínima de 72% (BRASIL, 2018), que tem por objetivo verificar a estabilidade da caseína, simulando o efeito do aquecimento durante a pasteurização (O’CONNELL et al., 2001). A acidez titulável, expressa em graus Dornic (°D) ou percentagem (%) de ácido lático tem como limites 14° a 18°D. Esta medida mensura componentes tamponantes, como proteínas, fosfatos, citratos e dióxido de carbono, além do ácido lático (TSIOULPAS; GRANDISON; LEWIS, 2007).
Neste contexto, o leite instável não ácido (LINA) é caracterizado por apresentar instabilidade proteica ao teste do álcool, entretanto sem haver acidez elevada. A ocorrência de LINA é relatada por apresentar causas multifatoriais, incluindo características fisiológicas dos animais, fatores climáticos e nutricionais. Deste modo, o objetivo deste estudo foi identificar os principais fatores relacionados à ocorrência de LINA em amostras de leite individuais por animal ao longo da lactação.

Material e métodos (obrigatório)

Este estudo utilizou dados de campo coletados em experimentos e avaliações conduzidas por pesquisadores do Grupo de Estudo e Pesquisa em Bovinocultura de Leite da Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/UDESC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Os bancos de dados foram selecionados por empregarem metodologias de análise semelhantes e fornecerem variáveis equivalentes. O conjunto de dados era composto por 12 trabalhos independentes, executados no período de 2013 a 2024, nas regiões Extremo Oeste, Oeste, Planalto Serrano e Sul do Estado de Santa Catarina. Os detalhes de tratamentos, análises, avaliações, condições experimentais, períodos de avaliações e locais podem ser encontrados nas respectivas dissertações e teses listadas a seguir: (ABREU, 2015), (ARRUDA JÚNIOR, 2018), (FRANÇA, 2017), (LENGERT, 2016), (HAUSER, 2021), (KAPPES, 2020), (PELIZZA, 2015), (SCHMIDT, 2014), (WERNCKE, 2017), (FRANÇA, 2022), (KAPPES, 2024) e (DANIELI, 2024). O conjunto de dados foi submetido a uma análise multivariada, a fim de compreender as relações entre as variáveis relacionadas às vacas e às propriedades físico-químicas do leite. Os dados foram analisados utilizando-se o software estatístico SAS® (SAS, 2002), padronizados para médias = 0 e variâncias = 1 pelo PROC STANDARD e submetidos a teste de normalidade. Foram realizadas análises multivariadas de análise de componentes principais (ACP) e análise de agrupamento (AG) pelo programa PAST (PAleontological STatistics).

Resultados e discussão (obrigatório)

Através da análise de agrupamento de Bray-Curtis, observou-se que dias em lactação (DEL) e álcool estão próximos, indicando forte similaridade, sugerindo que a resistência do leite ao teste do álcool é influenciado pelos dias em lactação. Leite e acidez também mostram similaridade, possivelmente devido à variação da acidez conforme a produção de leite muda, especialmente em vacas no início e final da lactação. Gordura, lactose e proteína estão agrupados, indicando forte similaridade na variação desses componentes do leite. Tais componentes normalmente variam juntos influenciados por fatores como estágio de lactação, saúde da vaca, dieta e genética. A estação está próxima a esses componentes, sugerindo que a época do ano afeta a composição do leite. A ordem de parto (OP) está mais próxima da Estação do que das variáveis de composição, indicando que a OP impacta a produção e composição do leite, mediada por fatores sazonais. A raça, agrupada com a OP, sugere que a raça das vacas influencia a produção de leite e suas propriedades em conjunto com a ordem de parto. A variável CCSlog10, distante dos demais agrupamentos, indica uma menor similaridade com outras variáveis, embora possa estar relacionada com OP e raça (Figura 1).     Figura 1: Análise de neighbour joining cluster analysis para as variáveis estação, raça, gordura, proteína, lactose, dias em lactação (DEL), ordem de parto (OP), produção de leite (leite), estabilidade ao teste do álcool (álcool), acidez titulável (acidez) e logaritmo de base 10 de contagem de células somáticas (CCS_log10) relacionadas à qualidade de leite individual por vacas pelo método de Bray-Curtis.

Conclusão (obrigatório)

Conclui-se que os principais fatores relacionados à resistência do leite ao teste do álcool são dias em lactação, produção de leite, e acidez.

Referências bibliográficas (opcional)

Abreu, A. S., Fischer, V., Stumpf, M. T., McManus, C. M., González, F. H. D., Da Silva, J. B. S., & Heisler, G. (2020). Natural tree shade increases milk stability of lactating dairy cows during the summer in the subtropics. Journal of Dairy Research, 87(4), 444–447.
BRASIL. (2018). Instrução Normativa No 77, de 26 de novembro de 2018.
O’CONNELL, John E. et al. Mechanism for the ethanol-dependent: Heat-induced dissociation of casein micelles. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 49, n. 9, p. 4424–4428, 2001.
Tsioulpas, A., Grandison, A. S., & Lewis, M. J. (2007). Changes in physical properties of bovine milk from the colostrum period to early lactation. Journal of Dairy Science, 90(11), 5012–5017.

Área

Geral

Autores

Angélica Leticia Scheid, Adriana Hauser, Marciel França, Edinara Silva de Lima, Roberto Kappes, Luis Carlos Arruda Junior, Carina Ana Barreta, André Thaler Neto