Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

USO DE DIFERENTES TÉCNICAS PARA O DIAGNÓSTICO DA MASTITE SUBCLÍNICA BOVINA EM SISTEMA DE ORDENHA ROBÓTICO

Introdução (obrigatório)

A ordenha robótica pode ser uma alternativa à escassez da mão de obra, porém pouco é conhecido sobre a qualidade do leite nesse tipo de ordenha em vacas manejadas a pasto. O diagnóstico da mastite pode ser realizado por meio de várias técnicas como condutividade elétrica (CE), contagem de células somáticas (CCS) e termografia infravermelha (TIV). A doença provoca o aumento dos íons Na+ e Cl- no leite, resultando no aumento da CE, enquanto a CCS é uma manifestação da severidade do processo inflamatório e serve como parâmetro para avaliar a saúde do úbere e qualidade do leite (1).
A resposta inflamatória inicial da mastite está associada com o aumento detectável na temperatura na porção afetada do úbere, possibilitando o diagnóstico da doença por meio da TIV. Os termógrafos captam as radiações infravermelhas e as convertem em um mapa térmico da superfície (2). Embora o uso da TIV para detecção precoce de mastite subclínica seja promissor, é necessário desenvolver protocolos específicos para orientar seu uso e considerar fatores que influenciam na temperatura do úbere (3).
O local de ordenha em sistema robótico é supostamente controlado, porém não há informações se os sistemas de detecção da mastite funcionam de maneira adequada com vacas que não são criadas de forma intensiva, mas a pasto. Assim, objetivou-se avaliar diferentes técnicas diagnósticas para identificar a mastite subclínica em vacas ordenhas voluntariamente em sistema de ordenha robotizado e criadas a pasto.

Material e métodos (obrigatório)

As amostras de leite foram coletadas de vacas em lactação ordenhadas voluntariamente no sistema automático DeLavalTM300, em Sistema de Produção de Leite de vacas manejadas a pasto em São Carlos, SP. A identificação microbiológica da etiologia da mastite foi realizada de acordo com as recomendações do National Mastitis Council. A CCS do leite foi realizada com o uso da técnica de citometria de fluxo e o valor de triagem para a classificação dos quartos mamários com mastite subclínica foi de 200.000 células/mL de leite. Os dados de CE foram fornecidos pelo sistema robótico e as análises termográficas das glândulas mamárias foram realizadas com um termógrafo com detector de 640x280 pixels, dotado de lente fixa de 25 graus e teleobjetiva de 11º x 9º, sensibilidade térmica <40mK, escala de temperatura de -30 a 350 ºC e foco motorizado. Os dados foram analisados em dois períodos: verão (novembro, dezembro e janeiro) e inverno (junho, julho e agosto). Os valores de TIV, CCS e CE de cada quarto mamário foram correlacionados por meio do coeficiente de correlação linear de Pearson. A análise de variabilidade de alguns efeitos classificatórios foi realizada e a habilidade da TIV em discriminar os casos de mastite subclínica foi investigada por meio do cálculo de diferentes pontos de corte para as temperaturas, com acurácias definidas pelas áreas sob a curva receiver operating characteristic (ROC).

Resultados e discussão (obrigatório)

A etiologia infecciosa da mastite subclínica foi predominantemente formada por Staphylococcus spp. e S.aureus no verão, enquanto S. chromogenes no inverno. A CE apresentou valores médios mais elevados em quartos mamários com CCS igual ou superior a 200.000 células/mL, independentemente da estação do ano. As temperaturas médias dos quartos mamários anteriores com CCS superior a 200.000 células/mL de leite foram superiores às dos quartos com CCS abaixo desse valor, no verão e no inverno. Em contrapartida, os quartos posteriores apresentaram temperaturas médias inferiores quando a CCS era superior a 200.000 células/mL, provavelmente por sofrerem interferência do aparelho locomotor das vacas. Avaliou-se a correlação dos valores de TIV com a temperatura corporal das vacas e a temperatura ambiente nos quartos anteriores e verificou-se que as temperaturas das glândulas mamárias sofreram influência de ambas (P<0,05 e P<0,001, respectivamente). As figuras 1 e 2 apresentam os valores de CE e TIV nos meses de verão e inverno. Figura 1 – Valores médios de condutividade elétrica (mS/cm) em quartos mamários com e sem mastite em diferentes épocas do ano. Figura 2 – Valores médios dos termogramas (°C) em quartos mamários com e sem mastite em diferentes épocas do ano.   Nos quartos anteriores, a sensibilidade e especificidade diagnóstica para a TIV no verão foram 24,3% e 88,0%, respectivamente, enquanto no inverno esses valores foram 44,0% e 70,0%. O valor de triagem da TIV na identificar quartos mamários com mastite foi de 37,9°C no verão e no inverno foi 34,8°C. As acurácias determinadas pelas áreas sob a curva ROC foram inferiores a 0,6, classificadas como pouco precisas. Não houve correlação da TIV com a CCS e CE.    

Conclusão (obrigatório)

Fatores como a temperatura corporal, proximidade das glândulas mamárias com os membros posteriores e temperatura do ambiente podem ter interferido nos resultados da TIV. Estudos futuros com análise de componentes principais são indicados para padronizar as variáveis visando a categorização com base no estado sanitário da glândula mamária.

Agradecimentos (opcional)

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Processos Fapesp n° 2020/09470-3 e 2020/16240-4.

Referências bibliográficas (opcional)

1. Sollecito, N. V.; Somatic cell count, profile of antimicrobial sensitivity and microrganisms isolated from Buffalo Mastitis; a breaf review. Brazilidan Journal of Veterinary Medicine, v. 33, n. 1, p. 18–22, 2011.
2. Berry, R.J. et al. Daily variation in the udder surface temperature of dairy cows measured by infrared thermography: Potential for mastitis detection. Canadian Journal Animal Science, v. 83, p. 687-693, 2003
3. Digiovani, B.D. et al. Infrared thermography as diagnostic tool for bovine subclinical mastitis detection. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal, v.10, n.4, p.685 - 692, 2016.

Área

Geral

Autores

Larissa Cristina Brassolatti, Mariana Massoni Fraga, Raul Costa Mascarenha Santana, Maria Laura Da Silva, Fernando David Caracuschanski, Teresa Cristina Alves, Alexandre Rossetto Garcia, Luiz Francisco Zafalon