Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO PARA A BOVINOCULTURA LEITEIRA EM DIFERENTES REGIÕES DO ESTADO DO CEARÁ

Titulo em português

ÍNDICES DE CONFORTO TÉRMICO PARA A BOVINOCULTURA LEITEIRA EM DIFERENTES REGIÕES DO ESTADO DO CEARÁ

Introdução (obrigatório)

A produção leiteira no Ceará é significativa, embora seja uma atividade fortemente influenciada pelas condições ambientais climáticas, dentre elas o estresse por calor, as quais dificultam a padronização de seus resultados, exigindo medidas mitigatórias eficientes por parte dos produtores. O estado é o terceiro maior produtor de leite da região Nordeste, ocupando ainda a nona posição entre todos os estados brasileiros (EMBRAPA, 2024), e apresenta sistemas de produção de leite heterogêneos, predominando os de pequeno porte e de base familiar, compostos por animais azebuados, como os da raça Girolanda, e mestiços, criados em regimes semi-intensivos.
Diante do tamanho desafio proporcionado pelas variáveis ambientais que podem afetar os sistemas de produção de leite na região, a instituição de indicadores, especialmente aqueles que possibilitem avaliar e monitorar a ocorrência de condições de estresse por calor assumem papel relevante para o bom desempenho dos rebanhos locais. Assim, o objetivo deste estudo foi caracterizar a condição térmica do ambiente na bovinocultura leiteira no Ceará através da mensuração de indicadores de estresse por calor obtidos em diferentes regiões do estado.

Material e métodos (obrigatório)

Os dados da pesquisa foram obtidos por meio de análise descritiva que consistiu em um levantamento das informações meteorológicas provenientes de estações do Instituto Nacional de Metereologia (INMET) dos últimos seis anos (2018-2023) em 16 municípios do estado do Ceará. Foi calculado o Índice de Temperatura e Umidade (ITU) para cada município de localização da estação metereológica, a partir dos dados meteorológicos de temperatura instantânea e de ponto de orvalho, seguindo a metodologia proposta por KLOSOWSKI et al. (2002). O cálculo do ITU foi realizado para o período de 24 horas, utilizando a equação sugerida por BUFFINGTON et al. (1981) citado por KLOSOWSKI et al. (2002): ITU=Tbs+0,36Tpo+41,2 Onde temos que Tbs é a temperatura de bulbo seco (°C) e Tpo é a temperatura do ponto de orvalho (°C). Para a avaliação e caracterização da ocorrência de períodos críticos em relação ao estresse por calor, adotou-se a classificação proposta por ROSENBERG et al. (1983), posteriormente utilizada por MARTELLO (2006), sendo estabelecido três níveis distintos, indicando a severidade do estresse por calor, assim descritos: ITU menor que 70 – ausência de estresse por calor; ITU entre 70 e 78 - estado de alerta; ITU entre 79 e 83 - estado de perigo; e ITU igual ou superior a 84 – estado de emergência de estresse por calor. Os dados obtidos foram consolidados, organizados em Excell, expressos em gráficos e tabelas, e submetidos a análise descritiva.  

Resultados e discussão (obrigatório)

Na Figura 1 são apresentados os índices de temperatura e umidade (ITU) em 16 municípios do estado do Ceará, segundo a localização de Estações Meteorológicas do INMET, de 2018 a 2023. Podem ser observados os dados referentes aos valores de ITU médio, mínimo e máximo obtidos na presente avaliação. Figura 1. Resultados de ITU mínimo, ITU médio e ITU máximo referentes a municípios do estado do Ceará, de acordo com a localização de estação meteorológica do INMET (2018-2023). Avaliando os resultados de todos os municípios, os valores mínimos, máximos e médios para ITU variaram conforme a localização do município sede da estação meteorológica do INMET. O ITU mínimo variou de 58,6 a 68,94, o ITU máximo de 78,53 a 94,78 e o ITU médio de 69,35 a 77,01. De acordo com os dados obtidos, todos os municípios avaliados demonstraram condições ambientais desafiadoras para a produção de leite, uma vez que mesmo aqueles que apresentaram resultado de ITU médio menor, esses ainda ficaram próximo ao valor de ITU que caracteriza estado de alerta para a ocorrência do estresse por calor, caso dos municípios de Guaramiranga e Tianguá. Nesses, o ITU médio alcançou os menores valores, sugerindo melhores condições ambientais para a criação de bovinos de leite quando comparados aos demais municípios avaliados. A análise dos valores máximos de ITU obtidos, mostra que a totalidade dos municípios apresentou variáveis ambientais críticas, sendo que 62,5% (10/16) foram classificados em estado de emergência para estresse por calor, 31,25% (5/16) em estado de perigo de estresse por calor  e 6,25% (1/16) em estado de alerta de estresse por calor, conforme classificação de ROSENBERG et al. (1983). Os maiores resultados de ITU máximo foram registrados para os municípios de Jaguaruana, Sobral, Campos Sales e Jaguaribe. Considerando o cenário bioclimático caracterizado, a adoção de estratégias de manejo adequadas para a mitigação das condições de estresse por calor no estado assumem relevante papel, visando assegurar a produtividade da exploração de bovinos de leite, seja pelo uso de ventiladores e aspersores, o uso de estratégias de sombreamento, assim como a execução de manejos em horários com temperaturas mais amenas. 

Conclusão (obrigatório)

O cenário climático no Ceará, de uma forma geral, mostrou-se desafiador para a atividade de produção leiteira, em razão de suas variáveis ambientais. A mensuração do ITU permitiu avaliar de forma satisfatória as condições de conforto térmico dos municípios, fornecendo subsídios importantes para o monitoramento do estresse por calor e contribuindo para a tomada de medidas assertivas por parte dos produtores de leite, com o objetivo de minimizar os efeitos indesejáveis das condições climáticas e ambientais, visando também garantir bons níveis de produção de leite no estado.

Referências bibliográficas (opcional)

BUFFINGTON, D. E.; Collazo-Arocho, A.; Canton, G. H. Black globe-humidity comfort index (BGHI) as comfort equation for dairy cows. Transactions of the ASAE, v.24, n.4, p.711-714, 1981.
EMBRAPA. Anuário Leite 2024: avaliação genética munltirracional. Juiz de Fora: Embrapa Gado de leite, 2024. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1164754/1/Anuario-Leite-2024.pdf
KLOSOWSKI, E. S.: CAMPOS, A. T.; CAMPOS, A. T. de.; GASPARINO. E. Estimativa do declínio na produção de leite, em período de verão, para Maringá-PR. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v. 10, n. 2, p.283-288, 2002.
MARTELLO, L. S. Interação animal - ambiente: efeito do ambiente climático sobre as respostas fisiológicas e produtivas de vacas Holandesas em freestall. 2006. 111 f. Tese (Doutorado) — Curso de Graduação em Zootecnia, Qualidade e Produtividade Animal, Universidade de São Paulo, Pirassununga: USP, 2006.
ROSENBERG, N. J., BIAD, B.L., VERNS, S.B. Human and Animal biometeorology. In: Microclimate: the Biological Environment. 2ed. John Wiley & Sons, Inc., New York. p.425-467, 1983.

Área

Geral

Autores

Tassio Bruno Matos Queiroz, Ana Luiza Lopes Lima, Nayara Sousa Castro, João Paulo Ricacio Braga Silva, Daniel Pessoa Gomes Silva