Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

ESTABILIDADE AO TESTE DO ÁLCOOL, ACIDEZ TITULÁVEL E QUALIDADE DO LEITE DE TANQUES DE RESFRIAMENTO – ANÁLISE DE DADOS EXPERIMENTAIS: UMA ABORDAGEM MULTIVARIADA

Introdução (obrigatório)

O leite instável não ácido (LINA) ocorre quando ocorre uma alteração na qualidade do leite e é detectado pelo teste do álcool alizarol. A principal alteração observada é a perda da estabilidade da caseína ao teste do álcool, resultando em precipitação das proteínas do leite sem, no entanto, haver um aumento significativo da acidez do leite (acima de 18 ºD). É um teste que determina a aceitação ou rejeição da matéria-prima pela indústria. Embora o LINA seja caracterizado por alterações físico-químicas do leite, pode ser aproveitado de forma alternativa, como na produção de queijos artesanais ou leites fermentados. A ocorrência de LINA é atribuída a causas multifatoriais, incluindo características fisiológicas dos animais, fatores climáticos e nutricionais. Assim, o objetivo deste estudo foi identificar os principais fatores associados à ocorrência de LINA em amostras de leite de tanque.

Material e métodos (obrigatório)

Este estudo utilizou dados coletados em experimentos conduzidos por pesquisadores do Grupo de Estudo e Pesquisa em Bovinocultura de Leite da Universidade do Estado de Santa Catarina (CAV/UDESC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL). Os bancos de dados referentes a análises de amostras de leite de tanques de resfriamento foram selecionados por empregarem metodologias de análise semelhantes e fornecerem variáveis equivalentes. O conjunto de dados era composto por 12 trabalhos independentes, executados no período de 2013 a 2024, nas regiões Extremo Oeste, Oeste, Planalto Serrano e Sul do Estado de Santa Catarina. Os detalhes de tratamentos, análises, avaliações, condições experimentais, períodos de avaliações e locais podem ser encontrados nas respectivas dissertações e teses listadas a seguir: (ABREU, 2015), (ARRUDA JÚNIOR, 2018), (FELIPUS, 2017), (RECHE, 2013), (ORSOLIN, 2019), (VOGES, 2015), (WERNCKE, 2012) e (DANIELI, 2024). Após a edição dos dados, obteve-se um conjunto de 2290 observações completas para todas as variáveis, as quais foram analisadas utilizando-se software estatístico. SAS® (SAS, 2002), padronizados para médias = 0 e variâncias = 1 pelo PROC STANDARD e submetidos a teste de normalidade. Foram realizadas análises multivariadas de análise de componentes principais (ACP) e análise de agrupamento (AG) pelo programa PAST (PAleontological STatistics).

Resultados e discussão (obrigatório)

A análise de agrupamento por correlação revela que as variáveis teor de gordura e proteína estão fortemente associadas, dado que apresentam uma alta similaridade e se agrupam diretamente. A variável estação do ano também está próxima de gordura e proteína, sugerindo uma correlação significativa entre essas variáveis. Battaglini et al., (2013), constataram efeito da sazonalidade nas propriedades físico-químicas do leite, com influência da estação sobre a porcentagem de proteína, sólidos totais, sólidos não gordurosos, contagem de células somáticas e contagem bacteriana total. Além disso, as variáveis CCS/log10 e CPP/log10 são agrupadas juntas, indicando uma alta correlação entre elas. Por outro lado, as variáveis acidez e lactose demonstram uma relação de similaridade significativa que está associada à resistência ao teste do álcool, o que sugere que vacas com alterações na acidez também apresentam alterações na estabilidade e na concentração de lactose (Figura 1). Machado et al., (2017), evidenciaram que a estabilidade do leite ao teste do etanol foi moderada e positivamente correlacionada com tempo de coagulação (r = 0,28, P < 0,0001), pH (r = 0,28, P < 0,0001), lactose (r = 0,31, P < 0,0001) e proteína (r = 0,1, P < 0,0001), mas moderada e negativamente correlacionada com acidez titulável (r = -0,22, P < 0,0001). Marques et al., (2007) avaliaram amostras que apresentavam instabilidade à prova do álcool e  acidez titulável entre 14 e 18 °D, o que confere a acidez dentro dos parâmetros normais, sendo caracterizadas como LINA. Estas amostras apresentavam diferenças significativas com relação ao leite normal para: gordura = 3,52 e 3,61%, proteína bruta = 3,06 e 3,03%, lactose = 4,41 e 4,32% e CCS = 401.000 e 463.000 cél/mL, respectivamente. No estudo deste banco de dados, através das análises realizadas não foi possível identificar um padrão de variáveis que representem LINA.   Figura 1. Análise de neighbour joining cluster analysis para as variáveis estação, gordura, proteína, lactose, estabilidade ao teste do álcool (álcool), acidez titulável (acidez), logaritmo de base 10 de contagem de células somáticas (CCS_log10) e logaritmo de base 10 de contagem padrão em placa (CPP_log10), relacionadas a qualidade de leite de tanque pelo método de correlação.

Conclusão (obrigatório)

Em amostras de leite de tanque, alterações na resistência ao teste do álcool estão relacionadas a alterações na acidez titulável e ao teor de lactose.
Os teores de gordura e proteína estão fortemente associados e influenciados pela estação, enquanto CCS/log10 e CPP/log10 também apresentam relação próxima.

Referências bibliográficas (opcional)

BATTAGLINI, A. P. P., BELOTI, V., FAGNANI, R., TAMANINI, R., & DUNGA, K. D. S. (2013). Caracterização físico-química e microbiológica do leite bovino instável não ácido em função das estações do ano. Rev. Bras. Med. Vet.
Machado, S. C., Fischer, V., Stumpf, M. T., & Stivanin, S. C. B. (2017). Seasonal variation, method of determination of bovine milk stability, and its relation with physical, chemical, and sanitary characteristics of raw milk. Revista Brasileira de Zootecnia, 46(4), 340–347. https://doi.org/10.1590/S1806-92902017000400010
MARQUES, L., ZANELA, M. B., RIBEIRO, M. E., STUMPF JUNIOR, W., & FISCHER, V. (2007). Ocorrência do leite instável ao álcool 76% e não ácido (LINA) e efeito sobre os aspectos físico-químicos do leite. Revista Brasileira de Agrociencia, 1, 91.

Área

Geral

Autores

Angélica Letícia Scheid, Adriana Hauser, Marciel França, Edinara Silva de Lima, Roberto Kappes, Luis Carlos Arruda Junior, Eduardo Becker Ribeiro, André Thaler Neto