Dados do Trabalho
Título
CONCENTRAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS NÃO ESTERIFICADOS NO PÓS-PARTO E SEU EFEITO NA PRODUÇÃO DE LEITE EM VACAS LEITEIRAS DA RAÇA JERSEY
Contribuição para a sociedade (opcional)
Pesquisas sobre as concentrações de ácidos graxos não esterificados (AGNE) em vacas leiteiras da raça Jersey e seu impacto na produção são escassas. As vacas Jersey, reconhecidas por seu elevado potencial genético, apresentam diferenças significativas em comparação com outras raças leiteiras. Portanto, o objetivo deste estudo foi avaliar a concentração de ácidos graxos não esterificados 24 horas após o parto e sua relação com a produção de leite em vacas leiteiras multíparas da raça Jersey.
Introdução (obrigatório)
Após o parto, ao iniciar a produção de leite, as vacas demandam mais energia, cerca de duas vezes mais quando comparada ao período pré parto (Ospina et al., 2013), entretanto o consumo de alimentos é incapaz de suprir essa demanda (McArt et al., 2012) caracterizando-se como balanço energético negativo (BEN) (Nicola et al., 2022). Os metabólitos ácidos graxos não esterificados (AGNE) e beta-hidroxibutirato (BHBA) podem ser usados como marcadores de balanço energético negativo (Ospina et al., 2013, Nicola et al., 2022). A mobilização de lipídios dos tecidos ocorre em forma de ácidos graxos não esterificados durante o BEN (Cascone et al., 2022, Nicola et al., 2022). O objetivo deste estudo foi avaliar a concentração de ácidos graxos não esterificados 24 horas após o parto e sua relação com a produção de leite em vacas leiteiras multíparas da raça Jersey.
Material e métodos (obrigatório)
Os dados foram coletados no município de Braço do Norte – SC em uma fazenda comercial, durante o período de julho de 2022 à fevereiro de 2023. Foram selecionadas 26 vacas leiteiras multíparas da raça Jersey, saudáveis. Foi coletado sangue 24 horas pós-parto, por punção do complexo arteriovenoso coccígeo, e armazenadas em tubos tipo Vacuntainer® (10 ml). Os tubos foram centrifugados a 1800 G por 30 minutos para obtenção do soro e armazenados a -20ºC em tubos tipo eppendorf® para posterior avaliação do AGNE. Foram utilizados kits comerciais (Diasys®) e as leituras das análises foram realizadas em um analisador bioquímico automático (Labmax Plenno®). As vacas eram ordenhadas duas vezes ao dia, em um sistema de ordenha automática (6h e 18h). A produção individual de leite (kg) das vacas foi mensurada semanalmente (7, 14, 21, 28, 35, 42, 49, 56 dias após parto) pelo uso de copo coletor acoplado ao sistema de ordenha (Milk-meter® Openway, Caxias do Sul, RS, Brasil). Posteriormente os dados foram agrupados com base na concentração de AGNEs 24 horas após o parto, utilizando a mediana (GAm= alto >0,38 mmol/L e GBm= baixo ≤0,38 mmol/L) e pelo quartil 75% (GAq= alto >0,57 mmol/L e GBq= baixo ≤0,57 mmol/L). Os dados da produção de leite foram testados quanto à normalidade da distribuição e homogeneidade dos resíduos através dos testes de Shapiro-Wilk e de Levene, respectivamente. Os dados foram submetidos a análise de variância por medidas repetidas, utilizando o programa SAS ® (Analysis System Institute, Cary, NC, USA, versão 9,4). O nível de significância foi declarado com valor de P≤ 0,05.
Resultados e discussão (obrigatório)
Vacas leiteiras com maiores concentrações de AGNE 24 horas após o parto (>0,38 mmol/L, mediana) produziram mais leite (GAm= 27,89 vs GBm= 24,92 kg, P=0,0483). A maior produção de leite é ainda mais evidenciada quando categorizada pelo quartil 75% (>0,57 mmol/L), GAq= 29,52 vs GBq=25,25 kg (P=0,0083). O aumento na produção de leite nas vacas multíparas dos grupos GAm (+2,97 kg) e GAq (+4,27 kg) demonstra uma associação positiva entre AGNEs e a produção de leite. Esses achados também foram observados em primíparas com concentrações superiores a 0,57 mmol/L (Ospina et al., 2010a), entretanto alguns estudos não encontraram associação entre AGNEs e produção de leite em multíparas (Bicalho et al., 2017; Tessari et al., 2020). Alguns pesquisadores relataram que quando as concentrações de AGNEs aumentam significativamente (>0,72 mmol/L), a resposta se inverte, resultando em uma produção de leite reduzida (Duffield et al., 2009; Ospina et al., 2010a; McArt et al., 2012). Há também estudos que indicam que concentrações acima de 0,57 mmol/L estão associadas à redução da produção de leite e ao aumento de doenças no pós-parto (Ospina et al., 2010a, b). Nota-se que há uma grande variabilidade nos limites metabólicos e suas correlações com o desempenho, indicando que o AGNE não pode ser usado isoladamente como marcador metabólico (McCarthy et al., 2015; Horst et al., 2021).
Conclusão (obrigatório)
Vacas leiteiras multíparas da raça Jersey saudáveis, com maior concentração de ácidos e graxos não esterificados 24h após o parto apresentam maior produção de leite até os 56 dias após o parto. Os estudos sobre a raça Jersey ainda são escassos, destacando a importância dos dados e a necessidade de estudos futuros.
Agradecimentos (opcional)
Cabanha Real – Braço do Norte/SC
Referências bibliográficas (opcional)
McCarthy, M., S. Mann, D. Nydam, T. Overton, and J. McArt. 2015. Concentrations of nonesterified fatty acids and β-hydroxybutyrate in dairy cows are not well correlated during the transition period. Journal of dairy science 98(9):6284-6290. https://doi.org/10.3168/jds.2015-9446
Nicola, I., H. Chupin, J.-P. Roy, S. Buczinski, V. Fauteux, N. Picard-Hagen, R. Cue, and J. Dubuc. 2022. Association between prepartum nonesterified fatty acid serum concentrations and postpartum diseases in dairy cows. Journal of Dairy Science 105(11):9098-9106. https://doi.org/10.3168/jds.2022-22014
Ospina, P., D. Nydam, T. Stokol, and T. Overton. 2010a. Associations of elevated nonesterified fatty acids and β-hydroxybutyrate concentrations with early lactation reproductive performance and milk production in transition dairy cattle in the northeastern United States. Journal of dairy science 93(4):1596-1603. https://doi.org/10.3168/jds.2009-2852
Ospina, P., D. Nydam, T. Stokol, and T. Overton. 2010b. Evaluation of nonesterified fatty acids and β-hydroxybutyrate in transition dairy cattle in the northeastern United States: Critical thresholds for prediction of clinical diseases. Journal of dairy science 93(2):546-554. https://doi.org/10.3168/jds.2009-2277
Ospina, P. A., J. A. McArt, T. R. Overton, T. Stokol, and D. V. Nydam. 2013. Using nonesterified fatty acids and β-hydroxybutyrate concentrations during the transition period for herd-level monitoring of increased risk of disease and decreased reproductive and milking performance. Veterinary Clinics: Food Animal Practice 29(2):387-412. https://doi.org/10.1016/j.cvfa.2013.04.003
Tessari, R., M. Berlanda, M. Morgante, T. Badon, M. Gianesella, E. Mazzotta, B. Contiero, and E. Fiore. 2020. Changes of plasma fatty acids in four lipid classes to understand energy metabolism at different levels of non-esterified fatty acid (NEFA) in dairy cows. Animals 10(8):1410. https://doi.org/10.3390/ani10081410
Área
Geral
Autores
Bianca Vieira, Luiza Helena da Silva, Renan Bagio, Izaú Cardoso Lopes, Mariana Monteiro Boeng Pelegrini, Marcio Nunes Corrêa, Vanessa Peripolli, Elizabeth Schwegler