Dados do Trabalho
Título
SUPLEMENTAÇÃO COM LECITINA DE SOJA PARA VACAS EM LACTAÇÃO E SEU EFEITO SOBRE A PRODUÇÃO E COMPOSIÇÃO DO LEITE
Introdução (obrigatório)
Durante o início da lactação, vacas de alta produção demandam de alta quantidade de energia, necessária para a síntese do leite. Portanto, é fundamental fornecer alimentos de alta qualidade e densidade energética para suprir a demanda de vacas especializadas. Nessa fase, é comum que as vacas reduzam o consumo de matéria seca, o que as coloca em um estado prolongado de balanço energético negativo.
A inclusão de lipídeos na dieta é uma alternativa para atender os requerimentos energéticos de vacas de alta produção. Além disso, constituem uma boa estratégia para contribuir com a mitigação de desordens metabólicas, como a cetose. Porém, devido a restrições fisiológicas, a inclusão de lipídios na dieta não deve exceder 7,0%, pois pode ser tóxica para os microrganismos do rúmen e diminuir a digestão das fibras (Pitta et al. 2018).
A lecitina de soja é um subproduto energético oriundo do processamento do óleo bruto de soja, removida por centrifugação, e representa cerca de 1,5 a 3,1% da fonte original (Overland; Mroz; Sundstol, 1994). Possui em sua composição cerca de 60% da matéria insolúvel em acetona, consistindo principalmente de fosfolipídios, incluindo fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina e fosfatidilinositol (Fontoura et al., 2021). Esse subproduto possui potencial de otimizar a utilização da gordura dietética por ruminantes (Abel-Caines; Grant; Morrison, 1998), estimular a produção de leite e contribuir para a fertilidade e a reprodução (Marchesini et al., 2012). Contudo, de acordo com pesquisas conduzidas por Li et al. (2017), a inclusão de lecitina de soja na dieta dos animais pode resultar em ganho de peso corporal, o que sugere a necessidade de uma avaliação cuidadosa ao incorporá-la na dieta. Objetivou-se avaliar a suplementação com lecitina de soja na dieta de vacas em lactação sobre a produção e composição do leite.
Material e métodos (obrigatório)
A pesquisa foi conduzida sob aprovação do Comitê de Ética e Uso de Animais – CEUA (nº do protocolo 23.000017438-0). O experimento foi conduzido na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Paraná. Foram utilizadas 8 vacas da raça Holandesa, com peso médio de 698±63,4kg, dias em leite de 60±39,2, entre a primeira e a quarta lactação, distribuídas em dois quadrados latinos 4x4. As vacas foram mantidas em um estábulo parcialmente coberto, com canzis e comedouros individuais para alimentação dos animais e bebedouros. Avaliou-se o efeito da suplementação com lecitina de soja, em três níveis de inclusão na dieta: Lec 0 (controle): sem a inclusão de lecitina de soja; Lec 0,75: 0,75% de inclusão de lecitina na Matéria seca (MS) da dieta; Lec 1,5: 1,5% de inclusão de lecitina na dieta e Lec 2,2: 2,2% de inclusão da lecitina na dieta. O experimento teve duração de 100 dias, dividido em quatro períodos de 25 dias, com 20 dias de adaptação às dietas e 5 dias para a coleta dos dados. As vacas foram ordenhadas duas vezes ao dia e a produção de leite foi determinada em cada período experimental. Em cada período experimental foram coletadas amostras de leite de cada vaca (ordenha da manhã e da tarde) para posterior análises do leite (teores de proteína, gordura, lactose, sólidos totais e contagem de células somáticas). Utilizou-se a silagem de milho como volumoso e o concentrado foi composto por milho, farelo de soja, farelo de trigo e suplemento mineral e vitamínico, com ou sem a adição da lecitina. As dietas foram isoenergéticas e isoprotéicas. As comparações entre tratamentos foram realizadas pela soma de quadrados, por meio de contrastes ortogonais, relativos aos efeitos de ordem linear, quadrático e cúbico, com ajuste das equações de regressão linear. Adotou-se nível de significância de 5%.
Resultados e discussão (obrigatório)
Não houve efeito dos níveis de lecitina sobre a produção de leite (P>0,05), teores de gordura, lactose e contagem de células somáticas (CCS). Durante o experimento, as vacas passaram por condições de estresse térmico devido às altas temperaturas. Isso ocasionou queda no consumo e, consequentemente, redução dos níveis de gordura do leite, independente do nível de suplementação. Rico, Ying e Harvatine (2017) observaram que a suplementação com lisolecitina resultou em aumento na concentração de gordura no leite quando a dieta foi composta de alto teor de fibras e AGs insaturados. Porém, quando a dieta apresentou baixo teor de fibras e maior quantidade de AGs insaturados, houve redução na produção de gordura do leite. Tabela 1 Níveis médios descritivos de probabilidade e equações de regressão para efeitos linear (L), quadrático (Q) e cúbico (C) de produção diária de leite (PL), gordura, proteína, lactose e contagem de células somáticas (CCS) em função dos níveis de suplementação com lecitina de soja na dieta de vacas em lactação Nível Valor de P Item 0% 0,75% 1,5% 2,2% L Q C PL (L/vaca//dia 30,3 29,2 29,1 28,9 NS NS NS Gordura (%) 2,79 3,14 3,05 2,96 NS NS NS Proteína (%) 3,11 3,21 3,2 3,1 NS 0,05 NS Lactose (%) 4,63 4,61 4,62 4,56 NS NS NS CCS (x1000/mL) 256 1332 577 317 NS NS NS O teor de proteína do leite sofreu influência quadrática (P<0,05) dos níveis de lecitina na dieta. O maior nível de proteína no leite ocorreu quando a suplementação com lecitina foi de 1,26% (y=2,697+0,13906x-0,05565x). A lecitina comercial apresenta propriedades antioxidantes, podendo melhorar a imunidade da vaca e contribuir com a manutenção da saúde da glândula mamária e redução na incidência de mastite (MIYASAKI, 2013). No entanto, este efeito não foi observado no presente estudo, observado pelos valores de CCS.
Conclusão (obrigatório)
A inclusão de lecitina de soja na dieta de vacas leiteiras proporcionou aumento nos teores de proteína e de sólidos totais no leite. Contudo, a suplementação com lecitina não teve influência na produção de leite, no teor de gordura e na CCS.
Agradecimentos (opcional)
À Clínica do leite pela colaboração com análises laboratoriais; à Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa, pela realização das análises de composição do leite; à Cargill, pelo fornecimento da lecitina de soja.
Área
Geral
Autores
Thaina Carneiro Souza, Karoline Ferreira Lima, Giulia Ferracin Ferreira, Adriana Souza Martins, Milena Castanho Cardoso, João Ricardo Alves Pereira, Leopoldo Bras Los, Sandra Maria Simonelli