Dados do Trabalho

Título

RESISTÊNCIA ANTIMICROBIANA EM ESTAFILOCOCOS ISOLADOS DO LEITE DE VACAS SAUDÁVEIS E COM MASTITE

Contribuição para a sociedade (opcional)

O controle da mastite bovina, sem sombra de dúvida, é um dos maiores desafios da pecuária leiteira nacional. O estudo de micro-organismos causadores da doença, como os estafilococos, bem como sua sensibilidade frente aos antimicrobianos, pode fomentar a possibilidade de uso de novas estratégias para o controle da doença, tanto entre animais doentes, bem como entre animais ainda saudáveis. Além disso, o estudo da resistência antimicrobiana presente em microrganismos relacionados a mastite bovina, pode fomentar um maior controle sobre o uso destes antimicrobianos, fomentando uma bovinocultura leiteira mais saudável e menos poluente.

Introdução (obrigatório)

A mastite bovina é considerada um problema sanitário frequente entre os rebanhos leiteiros no mundo, causada, principalmente, por patógenos bacterianos. Seu tratamento e prevenção são responsáveis pela maioria dos antimicrobianos administrados a vacas leiteiras adultas. Uma vez que o uso de antibióticos em animais produtores de alimentos contribui para as pressões de seleção antimicrobiana, é necessário compreender o perfil de resistência dos microrganismos isolados desses animais. Assim, o objetivo do presente estudo foi avaliar a presença de estafilococos e suas características de resistência fenotípica em vacas saudáveis e com mastite.

Material e métodos (obrigatório)

As propriedades, localizadas no município de Jataí-GO, foram identificadas como Fazenda 1 e Fazenda 2. O sistema de produção da Fazenda 1 era do tipo Free Stall e com uma produção média de 27 9 litros/vaca/dia de leite. Já na Fazenda 2 os animais eram confinados em sistema extensivo e a produção média era de 12 litros/vaca/dia de leite. Ambas as propriedades possuíam animais da raça Girolando e as ordenhas eram automatizadas. Previamente à coleta das amostras de leite, foi realizada a higienização dos tetos através do pré-dipping. As coletas (pool dos quatros tetos) foram divididas em dois grupos de vacas em lactação, um constituído por animais clinicamente saudáveis (38 coletas) e outro por animais doentes (40 coletas) diagnosticados através do teste de caneca de fundo escuro e sintomatologia clínica. Foram coletadas 78, entre as duas propriedades leiteiras, as quais foram selecionadas para cultivo e isolamento de estafilococos. As colônias características foram repicadas, identificadas bioquímicamente e submetidas a pesquisas de Staphylococcus Resistentes à Meticila (MRS), teste de suscetibilidade em disco e à Concentração Inibitória Mínima (MIC).

Resultados e discussão (obrigatório)

Após o isolamento e repique (3 a 5 colônias de cada amostra), obteve-se 88 isolados de Estafilococos do grupo de animais saudáveis e 89 isolados do grupo de animais doentes, totalizando 177. Os isolados analisados ao microscópio, após a coloração de Gram, que eram bastonetes e Gram-negativos foram descartados. Ademais, foram selecionados isolamentos positivos para o teste da catalase e negativo para o teste da oxidase. Das 88 cepas do grupo de vacas saudáveis, 84 eram Staphylococcus Coagulase Negativa (SCN) e 4 cepas de Staphylococcus Coagulase Positiva (SCP). Enquanto isso, no grupo de animais doentes, observou-se 82 SCN e 7 cepas SCP. No geral, foi identificado percentagens superiores a 90% de cepas Staphylococcus Coagulase Negativos (SCNs) em ambos grupos. Por outro lado, verificou-se mais Staphylococcus Coagulase Positivos (SCPs) no grupo doente (7/89) quando comparado ao sadio (4/88). Em relação aos testes de resistência fenotípica, foi verificado maior precisão na MIC, a qual identificou resistência em cepas consideradas sensíveis ao teste de disco difusão. Os estafilococos analisados pela técnica de disco difusão demonstraram-se sensíveis à sulfametoxazol-trimetoprim, clindamicina e ciprofloxacina (100%) e resistentes à oxacilina (93,18%) e penicilina (42,05%) em vacas saudáveis. Todavia, o grupo com mastite exibiu maior sensibilidade à gentamicina (98,88%) e resistência à penicilina (68,54%). Ao teste MIC, todos os isolados de SCPs apresentaram suscetibilidade à vancomicina (100%) e resistência à sulfametoxazol+trimetoprim (100%), em ambos os grupos. Identificou-se também suscetibilidade à penicilina e cefoxitina (100%) nos isolados oriundos de vacas saudáveis. Ademais, a azitromicina e clindamicina exibiram maiores perfis de resistência em isolados de vacas saudáveis e doentes (63,64%). Ao todo, foi determinado percentagens de multirresistência (20,22%) e MRS (30,33%) em vacas doentes, enquanto apenas duas cepas mostraram-se multirresistentes e MRSs (2,27%) nos animais saudáveis. Esses resultados mostram que a disseminação de espécies bacterianas resistentes é uma realidade e confirmam a importância de um monitoramento regular de outras cepas além do Staphylococcus aureus.

Conclusão (obrigatório)

No geral, pode-se observar um perfil de resistência mais acentuado em estafilococos oriundos de vacas com mastite quando comparado com as vacas saudáveis, o que apoia a importância do desafio no controle da mastite. Foram detectados, também, perfis de multirresistência e cepas MRs inclusive em isolados oriundos de vacas saudáveis. Esses achados revelam estafilococos resistentes isolados de leite cru, o que pode representar um risco potencial, em termos de transferência de genes de resistência através da cadeia alimentar, para os humanos. Além disso, foi observado divergência entre os dados de suscetibilidade dos antimicrobianos do presente estudo entre os testes in vitro, de forma a evidenciar que o método de concentração inibitória mínima se mostrou mais preciso na detecção de resistência quando comparado com a técnica de disco difusão. Uma vez que a disseminação de espécies bacterianas resistentes é uma realidade, é fundamental monitorar os perfis de resistência antimicrobianos na prática veterinária.