Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

EXTRATOS DE PLANTAS DO CERRADO PARA O CONTROLE DE MICRORGANISMOS RESISTENTES, PRESENTES NOS TETOS DE VACAS LEITEIRAS

Contribuição para a sociedade (opcional)

A Medicina etnoveterinária é particularmente importante na assistência à saúde animal, portanto, é importante validar cientificamente diferentes extratos de plantas utilizados em bovinos. Mesmo porque os estudos farmacológicos de plantas medicinais usadas no controle da mastite são limitados. O controle da mastite bovina, sem sombra de dúvida, é um dos maiores desafios da pecuária nacional. O estudo de micro-organismos causadores da doença, bem como sua sensibilidade frente a fitoterápicos do cerrado, pode fomentar a possibilidade de uso de novos produtos para o controle da doença. Estratégias para redução do uso de antimicrobianos na produção leiteira devem passar pela diminuição da incidência da doença e a redução da antibioticoterapia em animais doentes. O uso de produtos fitoterápicos pode ser uma alternativa mais sustentável e menos poluente.

Introdução (obrigatório)

A mastite é uma doença caracterizada pela inflamação da glândula mamária, sendo de grande importância na pecuária leiteira, existem dois tipos principais, a mastite contagiosa que pode ser causada principalmente por bactérias do gênero Staphylococcus spp., e a mastite ambiental causada principalmente por bactérias da espécie Escherichia coli. O controle da mastite consiste no uso de drogas antimicrobianas, entretanto, o uso inadequado e indiscriminado de antibióticos pode ocasionar multirresistência bacteriana, Staphylococcus spp. resistentes à meticilina (MRS) e Escherichia coli (ESBL) produtoras de beta-lactamases são exemplos de microrganismos causadores da doença, bem como importantes para a saúde pública. Além disso, o uso intensivo de antimicrobianos na pecuária pode ter impacto na poluição ambiental de solos e rios. A etnoveterinária estuda formas alternativas para o tratamento e prevenção de doenças animais e o uso de fitoterápicos derivados de plantas nativas é a principal alternativa sendo uma prática antiga culturalmente usada no tratamento de infecções bacterianas (SILVA et al, 2021). No cerrado as plantas da espécie Stryphnodendron adstringens (Barbatimão) e Hymenaea sp. (Jatobá) já mostraram capacidade bactericida (SILVA et al, 2021). Assim o objetivo deste trabalho foi identificar E. coli e S. aureus presentes na superfície dos tetos das vacas, principalmente cepas ESBL e MRSA, bem como testar a capacidade antimicrobiana dos extratos de Stryphnodendron adstringens (Barbatimão) e Hymenaea sp. (Jatobá) sobre esses microrganismos, viabilizando um possível uso para a higienização dos tetos antes e após a ordenha.

Material e métodos (obrigatório)

Foram coletadas 20 amostras (swab de pool dos tetos) em uma granja leiteira localizada em Jataí-GO. Foram duas coletas com um intervalo de 60 dias, totalizando 40 amostras. Para os isolamentos de MRSA/MRS os suabes foram semeados no ágar Manitol e cultivados por 24h a 35ºC, as colônias características (5 de cada placa) foram identificadas bioquimicamente. Também foi feita a pesquisa de Staphylococcus meticilina resistente(MRSA/MRS) (CLSI/M100-S20, 2010). Para o isolamento de E. coli (ESBL) os swabs foram semeados em ágar MacConkey. As colônias típicas neste meio (cinco de cada amostra), após incubação por 24-48h/37°C, foram identificadas bioquimicamente. Os isolados então foram testados para detectar a produção de beta-lactamases de espectro estendido (ESBL), pela técnica de duplo disco de difusão. A caracterização da resistência antimicrobiana dos isolados MRS foi feita por meio do método de microdiluição seriada para o estabelecimento da concentração inibitória mínima para cefoxitina, azitromicina, clindamicina, penicilina, sulfa + trimetoprim e vancomicina. O material botânico das plantas nativas do cerrado Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville (Barbatimão) e Hymenaea courbaril L. (Jatobá)] foram obtidos no município de Jataí-GO. Foram utilizados galhos contendo folhas verdes, livres de patógenos, sendo a identificação botânica realizada pelo Herbário Jataiense (HJ) do Departamento de Biologia Botânica da UFJ. Os extratos foram preparados de acordo com Violante et al. (2012). Os extratos foram testados em concentrações decrescentes para a determinação da concentração bactericida mínima (CBM): 50%, 25%, 12,5%, 6,25%, 3,12%, 1,56%. As culturas bacterianas isoladas foram cultivadas em meio BHI e diluídas em solução salina 0,85% até a turvação três na escala de Mc Farland (9x108 UFC/ml). Realizou-se triplicatas utilizando-se a metodologia de macrodiluição seriada em microtubos (contendo meio de culturas + bactérias + extratos), cultivados por 24h a 37°C. Os controles foram, positivo (meio de cultivo + microrganismo) e negativo (meio de cultivo + extratos). A CBM dos extratos foi definida por meio da quantificação de células bacterianas (UFC/mL) viáveis em cada concentração testada.

Resultados e discussão (obrigatório)

Foram identificados 67 isolados de Estafilococos coagulase negativos (SCN), 4 isolados de estafilococos coagulase positivos (SCP) e 20 isolados de E. coli.  Nenhuma E. coli foi classificada como ESBL. Enquanto que 8 isolados de SCN foram resistentes à cefoxitina, sendo caracterizados como MRS. De acordo com os resultados encontrados pela CIM dos 8 isolados MRS, metade foram resistente a azitromicina, apenas um sensível a penicilina, e uma sensível a sulfa + trimetoprim, e um foi resistente a vancomicina segundo classificação CLSI/M100 (2020), lembrando que a vancomicina é uma alternativa para tratamento de infecções por estafilococos resistente à meticilina (SILVA et al., 2022).              A CBM do extrato de Stryphnodendron adstringens teve resultados que confirmam a capacidade antimicrobiana do extrato dessa planta, como no trabalho de  Sousa et al. (2019), que evidencia a ação do extrato de Barbatimão, variando de acordo com a parte da planta que foi utilizada. O extrato de jatobá não apresentou  grande capacidade bactericida. Entretanto já foi demonstraram que a Hymenaea courbaril possue potencial ação antimicrobiana, encontrando resultados diferentes de acordo com  a parte da planta em que foi utilizada (SILVA et al., 2021). Vieira et al. (2018) encontrou ação do extrato da folha de Hymenaea martiana Hayne onde houve potencial desinfetante nos tetos de cabras, podendo ser usado na prevenção de mastite. Os trabalhos de Sousa et al. (2019) e Camilo et al. (2020), encontraram concentrações diferentes da ação dos extratos de Jatobá, demonstrando tanto ação inibitória com diminuição na formação de colônias, quanto ação bactericida.

Conclusão (obrigatório)

Foram identificados oito isolados MRS nos tetos de vacas em lactação, sendo um deles resistente a vancomicina, indicando um perigo tanto para a saúde do úbere das vacas, bem como para a contaminação do leite. O extrato de Barbatimão desempenhou capacidade bactericida, sendo uma alternativa viável para o controle das cepas MRS isoladas. Já o extrato de Jatobá não apresentou ação bactericida eficiente.

Área

Geral

Autores

Felipe Alves Bueno, Josian Rocha Alves, Ariel Eurides Stella