Dados do Trabalho
Título
TRATAMENTO SELETIVO E CONTROLE DA MASTITE CLÍNICA EM BOVINOS LEITEIROS BASEADO EM CULTURA MICROBIOLÓGICA A CAMPO
Contribuição para a sociedade (opcional)
Estratégias para a redução do uso de antimicrobianos na produção leiteira, devem passar pela diminuição da incidência da doença e a redução da antibioticoterapia em animais doentes, entretanto sem que haja prejuízo para a saúde animal, bem como para a produção em geral. A cultura microbiológica a campo, aliada a estratégias mais específicas pode levar a redução do consumo de antimicrobianos na fazenda leiteira, diminuindo a poluição ambiental por resíduos e fomentando uma produção animal mais sustentável.
Introdução (obrigatório)
A mastite é considerada a doença de maior custo e frequência nas fazendas de gado leiteiro. Entre as perdas relacionadas à doença estão o descarte do leite, gastos com tratamento, redução da produção, diminuição da vida produtiva do animal, mudanças físicas e químicas no leite que influenciam diretamente a cadeia agroindustrial. O objetivo deste estudo foi investigar a eficácia da utilização de um sistema de cultura microbiológica a campo através do leite de animais com mastite clínica em duas propriedades no Sudoeste Goiano, orientando as decisões estratégicas de tratamento, visando a redução do custo e risco potencial de desenvolvimento de resistência a antimicrobianos em patógenos causadores da mastite.
Material e métodos (obrigatório)
A avaliação dos resultados foi baseada em comparações com resultados anteriores das duas propriedades, onde o tratamento antimicrobianos ocorria em 100% de animais clinicamente acometidos pela doença. O estudo foi realizado com dados coletados em duas propriedades rurais na região Sudeste do Estado de Goiás. As propriedades foram identificadas como Fazenda 1 e Fazenda 2. O sistema de produção da Fazenda 1, localizada no Município de Castelândia-GO, era do tipo Free Stall, em que as vacas confinadas utilizavam cama individual, com corredores e acesso à pista de trato, com clima e alimentação controladas. Nessa fazenda avaliou-se os dados de casos de mastite clínica 14 meses antes, e 24 meses depois, da introdução do sistema de cultura microbiana (“on farm”). Já na fazenda 2, no Município de Quirinópolis-GO, avaliou-se os dados de casos de mastite clínica 10 meses antes, e 24 meses depois, da introdução do sistema de cultura microbiológica. Em ambas as fazendas os animais eram confinados em sistema de Compost Barn, permanecendo em galpão com ventilação e alimentação controladas. Após a implantação do sistema “on farm”, o leite dos animais doentes era coletado para a análise microbiológica. Ambas as propriedades possuíam animais da raça Hostein, com média de lactação superior a 32 kg de leite/vaca/dia em ordenha automatizada. Foram selecionados animais em lactação que apresentaram sinais clínicos de mastite como alterações de coloração e consistência e presença de flocos, coágulos ou grumos no teste de caneca telada. Da mesma maneira, foram amostrados animais com inchaço, vermelhidão e sensibilidade da glândula mamária. Para a cultura microbiológica, utilizou-se a placa cromogênica AccuMast® (FERA, Diagnostics and Biologicals, EUA) (Ganda et al., 2016). A fim de facilitar o manejo dos animais enfermos e direcionar a equipe, foi adotado nas propriedades um sistema de classificação quanto a gravidade e evolução dos sintomas da MC e protocolo de direcionamento e tratamento conforme os agentes causadores da doença. Todos os animais foram acompanhados até o término dos sintomas, observando sinais de outras possíveis desordens metabólicas, queda de consumo, febre, apatia, ataxia, retenção de placenta ou qualquer outra desordem em relação ao desempenho e à saúde. Para a análise dos dados, foi utilizado o software estatístico SPSS 20.0 (IBM®) o qual inclui estatística descritiva como tabulação e frequências de crossover e comparação de médias de duas variáveis através do teste T.
Resultados e discussão (obrigatório)
Conforme os dados coletados, antes da implantação do sistema de cultura microbiana, foram ordenhados 5771 animais em um período de 14 meses na Fazenda 1 e 3097 animais em 10 meses na Fazenda 2, observando-se sintomas de MC em 5,87% (339) e 11,1% (345), respectivamente. Todos os animais que apresentaram sintomas de MC durante esse período foram tratados com antimicrobianos, independentemente da gravidade do caso. Após a implantação da cultura microbiana “on farm”, em um período de 24 meses foram ordenhados 11812 animais na fazenda 1 e 9831 animais na fazenda 2. Destes, 2,64% (312) e 1,36% (134) apresentaram sintomas de MC. Em um total de 551 amostras coletadas na Fazenda 1, foram identificados crescimento de patógenos em 73% das amostras, sendo 54,2% bactérias Gram positivas, 45,5% bactérias Gram negativas e 0,2% algas. Em contrapartida, na Fazenda 2, em 334 amostras, houve crescimento de patógenos em 66%, sendo 61,7% bactérias Gram positivas, 36,9% bactérias Gram negativas e 1,4% algas. Dentre as bactérias Gram positivas, na Fazenda 1, destacou-se a presença de S. dysgalactie (15,4%), S. uberis (9,5%) e S. agalactie (8,5%), ao passo que, na Fazenda 2, houve maior incidência de S. dysgalactie (18%), S. coagulase negativo (14,9%) e S. haemolyticus (12,6%). Dentre as bactérias Gram negativas, houve maior incidência de Klebsiella spp. (28,4%) e E. coli (13,2%) na Fazenda 1; e E. coli (27%) e Pseudomonas spp. (6,3%) na Fazenda 2. Por fim, obteve-se Prototheca spp. no grupo das algas em ambas as fazendas, havendo maior ocorrência na Fazenda 1 (0,2%) quando comparada à Fazenda 2 (1,4%). Após a implantação da cultura microbiana “on farm”, houve redução de recidivas de mastite de 11% para 5% na Fazenda 1 e de 24% para 6% na Fazenda 2. Conclui-se a eficácia do sistema na identificação de patógenos causadores de MC e redução da terapia antimicrobiana, sem casos de mortalidade e prejuízos econômicos, além de facilitar a elaboração protocolos de tratamento de acordo identificação de agentes envolvidos e selecionar possíveis animais para descarte.
Conclusão (obrigatório)
A utilização de ferramentas ‘on farm’ de identificação microbiana permitiu o reconhecimento dos patógenos causadores de MC de forma eficaz e favorece a tomada de decisão quanto a utilização ou não de tratamento e tratamento específico. A técnica permitiu a identificação e o direcionamento da terapia antimicrobiana em casos necessários, melhorando a qualidade do leite, reduzindo a utilização de antibióticos e eliminando a mortalidade e outros prejuízos à saúde dos animais avaliados.
Área
Geral
Autores
Bárbara Elisa Basílio Oliveira, PAULA SIQUEIRA MARTINS, Edgar Alain Collao SAENZ, Ariel Eurides Stella