Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

Análise de qualidade de leite proveniente de vacas com genótipos A1A1 e A2A2 para β-caseína biofortificado ou não com selênio e vitamina E

Contribuição para a sociedade (opcional)

Com o aumento do consumo de produtos lácteos diversificados, é importante entender o impacto no controle de qualidade.

Introdução (obrigatório)

As β-caseínas, que constituem cerca de 30% das proteínas lácteas, podem variar conforme o genótipo, principalmente nas formas de alelo A1 ou A2. A digestão da variante A1 libera BCM-7 (Beta-casomorfina-7) em quantidades maiores do que a variante A2, o que pode causar desconforto gastrointestinal ou afetar o sistema nervoso (Giribaldi et al., 2022).
O leite é uma fonte natural de antioxidantes que ajudam a combater o estresse oxidativo, melhorando o funcionamento do organismo. Sua capacidade antioxidante vem de aminoácidos, vitaminas e minerais, como selênio e vitamina e essa atividade pode ser aumentada por biofortificação (Khan et al., 2019).
O aumento do consumo de produtos lácteos diversificados e funcionais está ligado a consumidores conscientes que buscam benefícios nutricionais para a saúde. Por isso, é importante verificar se os padrões de controle de qualidade da legislação vigente (Brasil, 2018) são mantidos ao se realizar a seleção genética ou modificação nutricional na dieta dos animais que produzem leite e seus derivados.

Material e métodos (obrigatório)

Vacas leiteiras da raça Holandesa com genótipos A1A1 e A2A2 para o gene da β-caseína foram selecionadas, e um grupo recebeu suplementação de selênio e vitamina E por 14 dias para biofortificação do leite. O leite das vacas foi pasteurizado e envasado em diferentes lotes: leite A1A1 com e sem biofortificação e leite A2A2 com e sem biofortificação, passando por controle de qualidade por 8 semanas. Amostras de 50 mL de leite pasteurizado foram analisadas fisico-quimicamente usando o Lactoscan® para verificar gordura, proteína, lactose, sólidos totais, sólidos não gordurosos, pH e água. As análises microbiológicas (enterobactérias) foram realizadas inoculando o leite em meio VRBG e incubando a 35 °C por 24h para contagem de colônias (UFC/mL), comparando os resultados com a legislação vigente. O experimento foi delineado como inteiramente casualizado em um arranjo fatorial 2 × 2, onde a biofortificação do leite de vacas Holandesas com genótipos A1A1 e A2A2 para o gene da β-caseína foi considerada como variável independente. As variáveis dependentes analisadas foram teor de gordura (%), proteína (%), lactose (%), sais (%), sólidos não gordurosos (%) e sólidos totais (%). A normalidade dos resíduos foi verificada pelo teste de Shapiro-Wilk e a homogeneidade das variâncias pelo teste de Levene, ambos com nível de significância de 5%. O teste de médias foi realizado com o teste de Tukey, também a 5% de significância. A análise dos dados foi feita usando o procedimento GLIMMIX do SAS® versão 9.4 (2018).  

Resultados e discussão (obrigatório)

A análise de comparação qualitativa da biofortificação ou não do leite de proveniente de vaca dos genótipos A1A1 e A2A2 para o gene da β-caseína sobre os teores de gordura (%), proteína (%), lactose (%), sais (%), sólidos não gordurosos (%) e sólidos totais (%), foi descrita na tabela 1. Tabela 1. Comparação qualitativa da biofortificação ou não do leite de vacas da raça Holandesa portadoras dos genótipos A1A1 e A2A2 para o gene da β-caseína sobre a composição do leite.   A1A1 A1A1 A2A2 A2A2 EPM P valor P valor P valor   NB¹ BIO² NB¹ BIO²   Genótipo Tratamento Interação Gordura (%) 3,72 3,36 3,90 3,78 0,302 0,32 0,46 0,69 Proteína (%) 2,55 2,31 2,57 2,43 0,222 0,76 0,38 0,82 Lactose (%) 3,68 3,45 3,93 3,67 0,349 0,52 0,49 0,96 Sais (%) 0,54 0,50 0,52 0,53 0,058 0,89 0,84 0,66 SNG (%)³ 6,51 6,29 6,42 6,68 0,688 0,83 0,97 0,72 ST (%)^4 10,83 10,03 10,98 10,78 0,839 0,60 0,56 0,72 ¹NB: leite proveniente de vacas com genótipos A1A1 ou A2A2 submetidas à dieta sem bioforfiticação; ²BIO: leite proveniente de vacas com genótipos A1A1 ou A2A2 submetidas à dieta com bioforfiticação; ³SNG (%): teor de sólidos não gordurosos; ^4ST: teor de sólidos totais. Vacas portadoras do genótipo A2A2 apresentaram o maior valor numérico no tratamento sem biofortificação para as variáveis gordura (%), proteína (%), lactose (%) e ST (%) e o vacas portadoras do genótipo A1A1, o menor valor numérico no tratamento com biofortificação, porém não foram observadas diferenças estatísticas significativas (p_valor > 0,05) dos fatores genótipos, tratamentos e interação entre os genótipos e os tratamentos. Para De Vitte (2022), a variável gordura (%) apresentou maiores níveis para o genótipo A2A2, mas também não houve diferença estatística significativa entre os genótipos. Já para Salles (2022), a biofortificação pode alterar os valores de Proteína (%), diferentemente do presente estudo.  Vacas portadoras do genótipo A1A1 apresentaram o menor valor numérico no tratamento com biofortificação para as variáveis sais (%) e SNG (%), enquanto o maior valor numérico para a variável teor de sais (%) foi apresentado para as vacas portadoras do genótipo A1A1 no tratamento sem biofortificação e enquanto que para a variável teor de SNG (%), as vacas portadoras do genótipo A2A2 apresentaram o maior valor numérico no tratamento com biofortificação, porém não foram observadas diferenças estatísticas significativas (p_valor > 0,05) dos fatores genótipos, tratamentos e interação entre os genótipos e os tratamentos. Assim como Gai (2023), não houve diferença significativa para os genótipos da β-caseína nas características físico-químicas, que atendem os parâmetros da legislação. As análises microbiológicas apresentaram uma média calculada de 4 UFC/mL para o genótipo A2A2 nos tratamentos com e sem biofortificação, enquanto para o genótipo A1A1 no tratamento com biofortificação, a média foi de 6 UFC/mL e sem biofortificação a média foi de 0 UFC/mL, mostrando conformidade com a legislação.  

Conclusão (obrigatório)

A análise estatística revelou que não há diferença significativa no controle de qualidade das análises físico-químicas e microbiológicas entre os diferentes tratamentos do leite. Isso significa que o leite de vacas com genótipos A1A1 e A2A2, biofortificado ou não com Selênio e Vitamina E, atende à legislação vigente e é seguro para consumo.

Agradecimentos (opcional)

Universidade de São Paulo (USP) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 e a FAPESP pelo auxílio concedido (2022/06294-5).

Área

Geral

Autores

Alenia Naliato Vasconcellos, Danielle Cássia Martins Fonseca, Joyce Graziella Oliveira, Luisa Maria Ferreira Souza Oliveira, Ana Maria Centola Vidal