Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

Impacto das Práticas de Manejo na Qualidade do Leite em Sistemas de Produção Leiteira no Mato Grosso do Sul

Contribuição para a sociedade (opcional)

Entender o impacto positivo da participação em capacitações específicas para a bovinocultura de leite nas propriedades de uma região não apenas identifica lacunas de conhecimento entre os produtores, mas também permite a intervenção técnica para mitigar práticas inadequadas de manejo. Isso não só aumenta a produção de leite destinado ao consumo público, mas também reduz custos operacionais, promovendo maior saúde financeira para todos os envolvidos na atividade. Além disso, contribui para a melhoria da segurança alimentar da população ao garantir um produto de qualidade superior.

Introdução (obrigatório)

Em 2021, em Mato Grosso do Sul (MS), a média de produção por vaca por dia foi de 5,96 litros quando corrigido para 305 dias em lactação (IBGE, 2022). Cenário este mais positivo que o de 2011, onde a produção por vaca por dia foi de 3,22 litros (IBGE, 2012). É possivel concluir que houve melhoramento genético e tecnificação do sistema de produção, mesmo que sutil.
De acordo com Simões et al. (2009), a pouca especialização da atividade leiteira em MS se justifica pela influência de sistemas de produção de gado de corte, e isso pode explicar a sazonalidade de produção de leite e a inexistência de remuneração diferenciada para qualidade ou quantidade de leite produzido, culminando com o desistímulo dos produtores.
Além do mais, a baixa qualificação da mão de obra também é um entrave nas diferentes atividades agropecuárias, pois dificulta a adoção de tecnologias, utilização de cuidados culturais adequados e favorecimento da perpetuação de práticas incorretas no processo produtivo e consequentemente perdas na produção (CASTRO et al. 2015). Objetivou-se neste estudo diagnosticar através de um questionário estruturado a influência da participação em capacitações sobre a atividade leiteira sobre a produção e qualidade do leite em propriedades de MS.

Material e métodos (obrigatório)

Foi aplicado um questionário estruturado, em 2023, em 16 propriedades rurais localizadas nos municípios de Nova Andradina, Nova Alvorada do Sul e Deodápolis, em MS, com 113 perguntas relacionadas a atividade leiteira na propriedade e se o produtor participou de alguma capacitação relacionada a atividade nos últimos 12 meses que o antecederam. O mesmo entrevistador aplicou o questionário em todas elas, para evitar interpretações diferentes. O leite das propriedades também foi amostrado, após o misturador do tanque resfriador ser acionado por 5 minutos. Foi coletado com auxílio de concha metálica e uso de luvas pelo responsável pela amostragem, e armazenado em frascos de polietileno de 50 mL. com adição de comprimido de bronopol e homogeneizados por 10 minutos. As amostras foram enviadas para o Laboratório Parleite da APCBRH. As características analisadas pelo método infravermelho foram as porcentagens de gordura, proteína total e nitrogênio ureico do leite (NUL), e o atributo Contagem de Células Somáticas (CCS) foi analisado através de citometria de fluxo. Os dados obtidos foram avaliados quanto à sua estatística descritiva, e posteriormente foram divididos a partir da variável “possui treinamentos/capacitações” e aplicado Teste t para amostras independentes visando a comparação de médias. O programa estatístico utilizado foi o R e as diferenças entre médias foram consideradas significativas quando p<0,05.

Resultados e discussão (obrigatório)

            Houve diferença estatística (p<0,05) para a quantidade de anos que o produtor se dedica para a atividade com relação a participação em capacitações. A idade também pode interferir no desempenho produtivo do rebanho, pois produtores mais velhos tendem a ter maior resistência a implementar tecnologias e geralmente são mais resistentes para planejamentos de longo prazo (Filho et al., 2011). Tabela 1. Características de produção e sua relação com a participação em capacitações Questão Participou de capacitação?   N      Média DP p Média de litros de leite  produzidos/dia no último verão Não 10 156,0 89,8 0,391   Sim 6 200,8 111,3   Média de litros de leite produzidos/dia no último inverno Não 10 123,0 96,5 0,644   Sim 6 147,2 103,5   Média de vacas em lactação no último verão Não 10 14,6 9,3 0,982   Sim 06 14,5 5,9   Média de vacas em lactação no último inverno Não 10 14,1 9,7 0,982   Sim 6 14,0 5,4   N =  Número de produtores; DP = Devio padrão; p = nível de significância, Os resultados mostram que a participação em capacitações não afetou significativamente a produção de leite ou o número de vacas em lactação entre inverno e verão (Tabela 2). Produtores capacitados apresentaram maior produção durante o inverno, período desafiador para a bovinocultura a pasto, em comparação aos não capacitados. Não houve diferenças estatísticas nos componentes do leite entre estações. Os teores de proteína e gordura foram 3,24% e 3,67% no verão, e 3,26% e 3,52% no inverno, respectivamente. A CCS em ambas as estações excedeu o limite aceitável para comercialização (500 mil células/mL) de acordo com a IN nº 76. Todos os produtores desconhecem a análise periódica do leite pelos laticínios e nunca foram penalizados. Os altos valores de NUL em diferentes estações indicam possível desbalanceamento das dietas em energia e proteína, necessitando investigação individual nas propriedades para correção.   Tabela 2. CCS e NUL de leite produzido nos períodos de inverno e verão Característica do leite produzido  Média  DP  Mínimo Máximo     p.  CCS no verão  (mil células/mL)  602,0  361,7 64,0 1.314,0 0,712 CCS  no inverno  665,8  607,9 30,0 2.186,0   NUL no verão  (mg/dL)  13,0  5,8 3,5 25,4 0,109 NUL no inverno  9,9  4,5 4,5 17,2    

Conclusão (obrigatório)

A pesquisa destaca que a capacitação dos produtores de leite é crucial para melhorar a qualidade do produto. Apesar da resistência dos mais velhos (>60 anos) às novas tecnologias, os mais jovens (<60 anos) têm potencial para influenciá-los positivamente, promovendo práticas que aumentam a eficiência da produção a curto prazo. Os componentes do leite oferecem insights valiosos sobre a saúde do rebanho e a adequação da dieta, sendo essenciais para decisões estratégicas na gestão da produção leiteira.

Agradecimentos (opcional)

Ao PPGCA da UFMS E O PARLEITE da APCBRH de Curitiba-PR.

Área

Geral

Autores

Thamara Cristina Bortolotto, Camila Soares Cunha, Luís Carlos Vinhas Ítavo, Ferenc Istvan Bánkuti, José Augusto Horst, Eric Gomes, Dagma Santiago, Geraldo Tadeu Dos Santos