Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

Ordenha sustentável: desenvolvimento de sabão elaborado com resíduos gerados na limpeza de ordenhadeiras

Contribuição para a sociedade (opcional)

Essa pesquisa contribui com a sustentabilidade ambiental ao reutilizar resíduos de limpeza alcalina de ordenhadeiras na fabricação de sabão, reduzindo a quantidade de subprodutos descartados no meio ambiente e mitigando a poluição e a contaminação dos recursos hídricos. Além disso, também pode contribuir para a redução da pegada hídrica cinza em propriedades leiteiras, incentivando práticas mais sustentáveis e econômicas na cadeia produtiva do leite. Ao transformar um subproduto potencialmente nocivo em um produto útil, o projeto demonstra como a inovação pode alinhar eficiência econômica e responsabilidade ambiental, beneficiando tanto os produtores quanto a comunidade em geral.

Introdução (obrigatório)

A produção de leite de alta qualidade depende, entre outros fatores, da adequada limpeza e desinfecção dos equipamentos de ordenha e tanques. Esta higienização é realizada imediatamente após o final da ordenha para remover de forma eficaz os resíduos de leite como gordura, proteínas e prováveis sujidades presentes que poderiam favorecer a multiplicação microbiana. A higienização dos equipamentos em muitas propriedades leiteiras utiliza o método Clean in Place (CIP), com sabões alcalinos, ácidos e os sanitizantes.
Esses resíduos possuem natureza alcalina e podem alterar o pH do solo e da água. Esse desequilíbrio pode prejudicar o ecossistema, afetando negativamente a biodiversidade. Para minimizar esses impactos, práticas adequadas de manejo são bem-vindas, como o reaproveitamento de resíduos.
Com o objetivo de promover sustentabilidade na cadeia produtiva do leite foi desenvolvido um sabão a partir dos resíduos de enxágue da limpeza CIP com óleo residual de fritura (ORF) através da reação de saponificação.

Material e métodos (obrigatório)

A composição do sabão desenvolvido utilizou: (1) Água alcalina proveniente dos resíduos do enxágue de detergente alcalino clorado gerado em limpezas CIP de ordenhadeiras; (2) uma base alcalina complementar (hidróxido de sódio em escamas); (3) uma base gordurosa proveniente de ORF; e (4) etanol 92,8% como catalizador da reação de saponificação. As formulações testadas estão detalhadas na Tabela 1: Tabela 1:   Água (mL)    Água alcalina residual (mL) Base alcalina complementar (NaOH) (g) Óleo residual de fritura (ORF) (mL)  Etanol 92,8º (mL) Formulação original (controle) 20 0 10 20 20 Formulação 1     0 20 8 20 20 Formulação 2     0 20 6 20 20 Formulação 3 0  20 5 20 20 Formulação 4     0 20 3 20 20 Formulação 5     0 20 2 20 20 Formulação 6     0 20 0 20 20   Os componentes foram adicionados em um béquer limpo de 150ml, homogeneizados por uma barra magnética e aquecidos até 86ºC em uma manta aquecedora MQAMA 301 por 1 hora e 27 minutos. O pH dos sabões desenvolvidos foi avaliado em triplicata por potenciômetro portátil HANNA HI-8424 devidamente calibrado com soluções tampão de PH 4 e 7, mergulhado diretamente em uma solução de 10% do sabão diluído em água destilada. Todo o desenvolvimento foi realizado no LIPOA na Universidade Estadual de Londrina e o sabão elaborado ainda deve passar por testes laboratoriais para avaliar sua eficácia, sendo estes o poder de limpeza, formação de espuma e o PH.

Resultados e discussão (obrigatório)

Foi possível obter a formação de sabão a partir das formulações 1, 2, 3, 4 e 5, enquanto a formulação 6 não possibilitou a reação de saponificação, gerando um produto com separação de fases. Dessa forma, a fabricação de sabão com água alcalina proveniente dos resíduos do enxágue de ordenhadeiras só foi possível a partir da adição de uma base alcalina complementar. A formulação 5 permitiu a reação de saponificação com a mínima quantidade possível de base alcalina complementar. O resultado foi um produto de consistência sólida, aspecto pastoso na coloração branco ao amarelado, obtendo pH médio de 10,63. Essa formulação possibilitou não apenas o aproveitamento de resíduos químicos gerados na limpeza da ordenhadeira, mas também a economia de 80% de hidróxido de sódio em comparação à formulação controle. Em termos financeiros, o sabão que utiliza resíduos de enxágue alcalino de ordenhadeira é 80% mais econômico em comparação a formulação controle. Também foi possível a reutilização do óleo vegetal residual, contribuindo assim, com a redução dos impactos ambientais, revertendo na confecção de produtos como o sabão artesanal. Os resultados obtidos são parciais, o sabão desenvolvido ainda passará por testes para avaliar quanto a sua eficiência, testes laboratoriais como o poder de limpeza, formação de espuma e PH.

Conclusão (obrigatório)

Conclui-se que é viável utilizar resíduos de limpeza alcalina de ordenhadeiras na fabricação de sabão. O método usado foi simples, de fácil aplicação, rápido e exige baixo investimento. Os resultados são promissores e, dependendo das características físico-químicas e da eficiência do sabão, o desenvolvimento deste produto representa uma alternativa sustentável para o reaproveitamento de um subproduto que, se descartado inadequadamente, pode ser prejudicial ao meio ambiente, assim como o óleo doméstico. Além disso, o aproveitamento dos resíduos gerados pela lavagem CIP (Cleaning in Place) de ordenhadeiras contribui para a sustentabilidade e pode até ser uma renda extra para pequenos produtores leiteiros.

Agradecimentos (opcional)

Agradecimento à Fundação Araucária pela bolsa concedida para realização deste projeto e pelo apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia - Leite (INCT/Leite).

Área

Geral

Autores

Yasmin Tavares de Andrade, Rafael Fagnani, Natalia Gonzaga, Guilherme Melo Corvelloni, Giovanna Simm Pereira, Jean Gustavo Reis de Oliveira, Debora Evellin Esteves de Melo, Thais Stefany Batista Ruy