Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

PERICARDITE SÉPTICA ORIUNDA DE MASTITE: RELATO DE CASO

Introdução (obrigatório)

A mastite é considerada a enfermidade que exerce maior prejuízo na bovinocultura leiteira, afetando a sanidade animal e causando custos exacerbantes no sistema produtivo (Ruegg et. all., 2003). Essa patologia é uma inflamação e ou infecção, sendo o leite presente nos quartos mamários um meio de cultura adequado ao crescimento de bactérias (McGAVIN et al.,2013). Conforme Hagner et al (2024), a ocorrência de mastite em graus severos (alteração do leite, glândula mamária e sinais sistêmicos) pode resultar na evolução para outras enfermidades, como metrite e pericardite. A mastite grave além dos problemas diretos na glândula mamária, pode levar a uma septicemia e consequentemente a morte (Fredebeul-Krein et al., 2022). Nesse relato de caso, foi possível acompanhar a evolução de um quadro inflamatório e infeccioso da glândula mamária grau 3, até o desenvolvimento de uma infecção generalizada que se refletiu no tecido cardíaco.

Material e métodos (obrigatório)

O caso ocorreu na fazenda escola do Instituto Federal Catarinense - Campus Araquari, na Unidade de Ensino e Aprendizagem de Gado Leiteiro. O animal se tratava de uma fêmea bovina da raça Holandês, com cerca de 4 anos de idade e que pesava aproximadamente 500 Kg. A vaca multípara havia parido no dia 11 de março de 2023, com escore de condição corporal 3 e sem intercorrências ou auxílios obstétricos. No dia seguinte, durante o exame reprodutivo notou-se presença de secreção uterina de odor fétido, com tecido indicativo de retenção de placenta e metrite puerperal. O animal estava apático e sem apetite. Para tratamento foi utilizado medicamentos parenterais dose única de Prostaglandina, anti-inflamatório a base de Flunixina Meglumina durante 3 dias e antibiótico com princípio ativo de Ceftiofur uma vez ao dia, durante 5 dias. Cerca de 21 dias após o tratamento, no dia 02 de abril, a vaca apresentou sinais de alteração no leite nos quartos anterior e posterior direito (grumos no teste do caneco do fundo preto), assimetria dos quartos mamários após a ordenha e perda de perda de apetite, sendo categorizado como mastite grau 3. Diante desses achados, foi aplicado via parenteral dose única de Dexametasona e cinco dias de Ceftiofur. A partir do dia 03 de abril, durante três dias Flunixin meglumine via intramuscular, uma vez ao dia. Foi aplicado também intra-mamário após cada ordenha, antibióticos a base de Cefquinoma nos quartos afetados durante cinco dias. No dia 07 de abril, foi feito o protocolo de secagem pois a vaca basicamente cessou a produção de leite e adicionado ao tratamento ducha de água fria na glândula mamária a fim de reduzir a inflamação local. Como parte do acompanhamento clínico foi feito novamente avaliação do aparelho reprodutor no dia 20 de abril, onde notou-se que as mucosas apresentavam coloração pálida. Tendo conhecimento da casuística clínica do rebanho e os sinais clínicos do animal, foi feito tratamento para tristeza parasitária bovina com Oxitetraciclina e Diaceturato de Diminazeno via parenteral, dose única. Durante a palpação retal foi observado presença de secreção purulenta uterina, indicativo de endometrite. Foram administrados Prostaglandina e Estrogênio dose única, para auxiliar na involução uterina e abertura da cérvix. Nos dias seguintes a vaca seguiu com desconforto na glândula mamária, além de apatia, ranger de dentes e decúbito esternal prolongado. No dia 05 de maio foi realizado um exame clínico minucioso e detectado estase venosa positiva, abafamento cardíaco que são sinais compatíveis com uma retículo pericardite. A propriedade já possui histórico dessa enfermidade, optou-se por fazer uma paracentese porém não foi observada alteração visual do líquido peritoneal. Como protocolo terapêutico paliativo foi feita aplicação de Enrofloxacino e Dexametasona. Nos dias seguintes a vaca teve piora do quadro clínico geral e no dia 10 de maio, apresentou mucosa pálida. Foi realizado o exame de microhematócrito que revelou 13% de eritrócitos circulantes, com o resultado do exame sendo desfavorável, a não resposta aos tratamentos prévios e ao quadro clínico estar em constante piora, foi optado por realizar a eutanásia do animal respeitando as regras do bem estar animal, usando fármacos anestésicos pela veterinária responsável.

Resultados e discussão (obrigatório)

A necropsia foi realizada na própria instituição por médicos veterinários patologistas. No exame post mortem não foi observado alterações macroscópicas no sistema nervoso, urogenital, locomotor e na cavidade abdominal. Não tinha alteração no líquido peritoneal, sem deposição de fibrina abdominal e ausência de lesões no sistema no retículo, rúmen e omaso. No aparelho digestivo, evidenciou-se úlceras abomasais e exsudato intestinal, reflexos dos agentes patológicos na via hematógena. No interior da glândula mamária, nos quartos afetados havia presença de abscessos, diminuição de tecido glandular e aumento tecido rígido, compatível com tecido fibroso. Essas lesões são oriundas da mastite bovina, que leva a morte das populações celulares dessa região, provocada pelas toxinas bacterianas, pelos mediadores inflamatórios, enzimas de degradação e pela indução de respostas de reparação, resultando na destruição das células epiteliais da mucosa e de suas barreiras, o qual são substituídas por tecido conjuntivo fibroso (McGAVIN et al., 2013). Segundo Zachary e McGAVIN (2013), em casos de mastite crônica não só a mucosa é danificada como também as membranas basais, permitindo o contato das bactérias com os tecidos vascularizados da glândula. Em combinação à mastite, a susceptibilidade à metrite é alta no período pós-parto (Risco et al., 2007; Sheldon et al., 2019), o que pode ter contribuído na propagação dos agentes inflamatórios de maneira generalizada. No sistema circulatório o endocárdio estava esbranquiçado, havia deposição de fibrina ao longo de todo o pericárdio e presença de líquido serosanguinolento no saco pericárdico. Esse acúmulo de sangue no saco pericárdico é denominado hemopericárdio, que resulta no tamponamento cardíaco devido a compressão do órgão, levando à redução de débito cardíaco e da perfusão vascular, o que justifica o abafamento avaliado na auscultação (McGAVIN et al., 2013).

Conclusão (obrigatório)

As lesões encontradas na necropsia indicam que a vaca estava com uma pericardite, provavelmente oriunda da mastite crônica. A ausência de achados clínicos compatíveis com retículo pericardite associados com os achados da glândula mamárias e demais achados compatíveis que o animal teve uma septicemia, podemos concluir que a vaca teve uma pericardite séptica, oriundo do quadro de mastite grau 3.

Área

Geral

Autores

Amabile Vitória Gervasi, Elen Luana da Silva, Anabell Negherbon, Matheus Folgearini Silveira, Jonas Cunha Espíndola, Maurício Lehmann, Betina Raquel Cunha Dos Santos, Elizabeth Schwegler