Dados do Trabalho
Título
CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS DO LEITE DE VACAS EM LACTAÇÃO ESTENDIDA E EFEITOS NAS CARACTERÍSTICAS DO LEITE DE TANQUE
Contribuição para a sociedade (opcional)
Avaliação das características funcionais ou de processamento do leite de vacas em lactação estendida, bem como o efeito da adição do leite dessas vacas nas características funcionais do leite do tanque das fazendas, ajudando o produtor rural na tomada de decisão, quanto à decisão de misturar ou não o leite individual de determinadas vacas com o leite de conjunto, a fim de garantir um produto com estabilidade térmica para o processamento na indústria.
Introdução (obrigatório)
A produção e a qualidade do leite variam conforme as vacas avançam em seu período lactacional, sendo o início e o final, momentos desafiadores devido à menor estabilidade (EST), o que pode comprometer a aceitação pela indústria. Há o crescente interesse em prolongar o período de lactação (DEL) das vacas leiteiras, em parte, com o intuito de favorecer a saúde dos animais e evitar momentos desafiadores. A lactação estendida pode não comprometer a produção de leite, especialmente de vacas primíparas confinadas, além de proporcionar concentrações mais altas de proteína e gordura aos 18 e 22 meses de lactação, comparado às lactações com duração de 10 meses (Van Knegsel et al., 2022). As variáveis que afetam a estabilidade térmica do leite são a concentração de cálcio iônico (iCa), acidez e pH. O iCa apresenta valores mais altos no início e no final da lactação, já para o pH e a acidez há poucas informações relatadas no final da lactação (Schmitz et al., 2024). Os efeitos da lactação prolongada sobre as características funcionais do leite são menos documentados. O objetivo do estudo foi avaliar as características funcionais do leite e testar o efeito da inclusão de 0, 2, 5, 10, 20, 40 e 100% de leite individual de vacas em lactação estendida (mais de 315 DEL) sobre a estabilidade no teste do álcool, o pH, a acidez e o cálcio iônico do leite de tanque.
Material e métodos (obrigatório)
O estudo foi realizado de junho de 2021 a dezembro de 2023, no Paraná. As amostras de leite foram coletadas de vacas Jersey, Holandês e Jersey x Holandês, em sistema de semiconfinamento com duas ordenhas por dia. Foram analisadas 398 amostras de leite: individuais (57), do tanque resfriador (57) e misturas (285). As amostras individuais foram coletadas na ordenha da manhã, além de serem registrados os dados individuais dos animais como: dias em lactação (DEL), paridade e raça. Foram misturados 0, 2, 5, 10, 20, 40 e 100% de leite individual ao leite de tanque, posteriormente analisados quanto ao pH, à acidez, à EST e iCa. O pH foi determinado por potenciometria, a estabilidade pela mistura de leite em soluções alcoólicas com concentrações crescentes de etanol (desde 64 até 90% (v/v)), a acidez foi determinada por titulação com solução de Dornic e o cálcio iônico por potenciometria íon-seletiva. Todas as análises foram realizadas conforme Schmitz et al. (2024). As amostras de leite individuais foram bloqueadas em dois grupos, sendo eles: 1 = EST maior que a do tanque e 2 = EST menor que a do tanque. Os dados foram analisados usando análise de regressão linear múltipla (Proc Reg, seleção = stepwise, SAS®) e logística (Proc Logistic), e as variáveis independentes testadas foram % de inclusão de leite individual (0, 2, 5, 10, 20, 40 e 100%) e DEL. As variáveis dependentes foram pH, acidez, iCa e EST.
Resultados e discussão (obrigatório)
As vacas na lactação prolongada produziram leite com EST (77,4±5,8 %), pH (6,89±0,21), iCa (96,31±28 mg/l) e acidez (22,3,02±3,9 °D). Quando o leite individual apresentou maior EST do que o leite do tanque, a estabilidade e o pH aumentaram linearmente com a inclusão do leite individual e o DEL (EST = 64,723 + 0,05 inclusão + 0,018 DEL; pH = 6,5 + 0.0028 inclusão + 0,0004 DEL); o iCa diminuiu com a inclusão do leite individual (iCa = 101,23 - 0,21 inclusão), e a acidez não foi afetada pela inclusão ou DEL (acidez = 22,08). Quando o leite individual apresentou menor EST do que o leite do tanque, a EST diminuiu, enquanto o iCa aumentou linearmente com a inclusão do leite individual, mas o pH e a acidez não variaram. A partir de 20% de inclusão de leite individual, a EST do tanque variou expressivamente, destacando a importância da fração solúvel sobre a estabilidade (Horne & Parker, 1981). As vacas de lactação estendida produziram leite com características funcionais aceitáveis, pois a estabilidade estava igual ou superior a 76% em 2/3 das vacas e o pH estava próximo da faixa aceita para leite a granel, de 6,6 a 6,8. A acidez estava acima da faixa usual para leite de tanque (14-18°D), mas o leite individual pode apresentar acidez mais alta, até 22°D, sem apresentar alta CPP. O iCa estava no limite superior dos valores relatados para leite de alta estabilidade, entre 80 e 100 mg/l (Schmitz et al., 2024).
Conclusão (obrigatório)
As vacas em lactação estendida podem produzir leite com valores adequados para as características funcionais, como EST, pH, acidez e iCa. A inclusão de 20% ou mais de leite individual com baixa EST diminui a estabilidade do leite de conjunto, pois ocorrem alterações no pH e no iCa.
Agradecimentos (opcional)
Agradeço à Deus por conduzir meu caminho e à minha família, por todo o apoio.
Referências bibliográficas (opcional)
Horne DS & Parker TG 1981 Factors affecting the ethanol stability of bovine milk. I. effect of serum phase components. Journal of Dairy
Research 48 273–284
Schmitz B, Costa OAD, Fluck AC, de Borba LP, Rangel AHdoN and Fischer V. Variation in bovine milk stability according to lactational stage and genetic group. Journal of Dairy Research https://doi.org/10.1017/ S0022029924000372
Van Knegsel ATM, Burgers EEA, Ma J, Goselink RMA & Kok A 2022 Extending lactation
length: consequences for cow, calf, and farmer. Journal of Animal Science 100 1–10
Área
Geral
Autores
Maria Eduarda Cesar Salvador, Bruna Schmitz, Vivian Fischer, Fernanda Rech Medeiros, Rhenan da Silva Amorim, Isabelle Dame Veber Angelo, Arthur Bettencourt, Juliany Ardenghi Guimarães