Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

ATIVIDADE ANTIBACTERIANA DO ÓLEO ESSENCIAL DE COPAÍBA BRANCA FRENTE À PATÓGENOS DE PRODUTOS LÁCTEOS

Introdução (obrigatório)

Contaminações microbianas, principalmente bacterianas, ameaçam a qualidade e a segurança dos alimentos de origem animal, gerando desperdício e riscos à saúde pública em todo mundo (JUNGA et al., 2020).
Globalmente, existem aproximadamente 600 milhões de pessoas que sofrem de doenças de origem alimentar, o que resulta em cerca de 420.000 mortes todos os anos (WANG et al., 2017). No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, no período de 2007 a 2020, foram notificados 156 mil casos de doenças envolvendo a contaminação alimentar, totalizando 152 óbitos em 13 anos.
Em estudo retrospectivo realizado por FoodSafetyBrazil, do ano de 2007 a 2017, o leite e seus derivados foram responsáveis por 2,8% dos 33,6% surtos de Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) de origem conhecida notificados no Brasil. Os agentes etiológicos envolvidos em tais surtos compreendiam principalmente bactérias (95,9%) e, também vírus (7,7%), agentes químicos (1,8%) e protozoários (1,2%). As principais bactérias, envolvidas em 90,5% dos casos de surtos foram Escherichia coli, Salmonella e Staphylococcus aureus, respectivamente.
De acordo com Srey et al. (2013), a contaminação bacteriana dos alimentos lácteos pode ocorrer desde a obtenção da matéria-prima, no campo, até o momento do consumo, pelo consumidor final.
Dentre as possibilidades para controle de crescimento bacteriano encontram-se os agentes antimicrobianos e os sanitizantes. Entretanto, devido a atual e crescente crise de resistência antimicrobiana, o estudo e o uso de alternativas antibacterianas, principalmente de cunho sustentável, tem aumentado (ARGENTINA et al., 2023; NUÑEZ et al., 2024).
Entre os produtos naturais antibacterianos do Brasil, o óleo de copaíba tem se destacado (BULGACOV et al., 2015). Os principais constituintes do óleo de copaíba são diterpenos (20%) e sesquiterpenos (80%), que atuam afetando a integridade da parede celular (LUCCA et al., 2018) de bactérias gram-positivas e gram-negativas (MENDONÇA; ONOFRE, 2009).
Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar a atividade antibacteriana e determinar a concentração necessária do óleo de copaíba branca para inibir o crescimento da Escherichia coli (ATCC25922), Escherichia coli O157:H7 e Staphylococcus aureus (ATCC25923), cepas bacterianas comumente envolvidas na contaminação de produtos lácteos.

Material e métodos (obrigatório)

- Óleo essencial: O óleo essencial (OE) de copaíba branca foi adquirido da loja ViaAroma® e armazenado em frasco âmbar mantido em temperatura ambiente. A composição química do óleo foi fornecida pela própria empresa. - Cepas bacterianas: Escherichia coli (ATCC25922), Escherichia coli O157:H7 e Staphylococcus aureus (ATCC25923) foram cultivadas em ágar Mueller Hilton à 35ºC. - Determinação da concentração inibitória mínima (CIM): A CIM é considerada como a menor concentração do OE que inibe completamente o crescimento bacteriano. Para tal, foi realizado o método de difusão em meio sólido, onde as linhagens bacterianas foram cultivadas em caldo nutriente. O inóculo dos tubos foi estriado em placas previamente preparadas com meio de cultura Agar Mueller Hilton. Posteriormente, discos de papel filtro estéril com diâmetro de aproximadamente 6mm foram distribuídos sobre as placas. Sob cada disco foi pipetado um volume de 20μl da solução do óleo essencial diluído em caldo Mueller Hilton com Tween 1%, nas concentrações de 100%, 50%, 25%, 12,5% e 6,25%. As placas foram incubadas em estufa bacteriológica a 35ºC, por 24 horas (PEREIRA et al., 2006).

Resultados e discussão (obrigatório)

Entre os vários componentes químicos encontrados na composição do óleo de copaíba, os sesquiterpenos α-Pinene (28,58%), β-Thujene (15,67%) e D-Limonene (15,63%) foram os compostos mais abundantes. De acordo com Bulgacov et al. (2015) e Morelli et al. (2015) a composição do óleo de copaíba varia significativamente conforme o ambiente e a espécie de árvore utilizada. Apesar da diferença dos componentes específicos, a prevalência de sesquiterpenos na composição do óleo essencial utilizado no presente estudo também foi observada no material utilizado por Faria et al. (2017) e Nuñez et al. (2024). Com relação a capacidade antimicrobiana do OE de copaíba, apresentou ação somente sobre a bactéria gram-positiva Staphylococcus aureus (ATCC25923), na CIM de 12,5%. Não apresentou efeito sobre o crescimento da Escherichia coli (ATCC25922) e Escherichia coli O157:H7, conforme pode ser observado a partir da ausência de halo de inibição, na Figura 01.   Figura 01: Atividade antimicrobiana do OE de copaíba branca sob as cepas bacterianas Staphylococcus aureus (A), Escherichia coli (B), Escherichia coli O157:H7 (C), assim como as respectivas concentrações utilizadas. Fonte: o autor   A atividade antibacteriana do OE de copaíba sob Staphylococcus aureus (ATCC25923) também foi observada em estudos realizados por Vasconcelos et al. (2020), Santos et al. (2008), Faria et al. (2017), Tobouti et al. (2017) e Nuñez et al. (2024). Em contrapartida, a inatividade do óleo de copaíba sobre a Escherichia coli (ATCC25922) corrobora com o resultado dos estudos de Santos et al. (2008), Faria et al. (2017) e Pacheco et al. (2006), discordando, entretanto, do resultado encontrado por Tobouti et al. (2017). Com relação a Escherichia coli O157:H7, até o momento não existem estudos que avaliaram a capacidade antimicrobiana do óleo de copaíba sobre esta cepa bacteriana, mas acredita-se que a constatada ausência de ação ocorra devido à característica de sua parede celular. Nuñez et al. (2024) postulam que a atividade antimicrobiana dos OEs pode variar dependendo do patógeno específico e da composição do OE. Os sesquiterpenos são conhecidos por suas propriedades bioativas que apresentam boa atividade inibitória contra S. aureus (BAGHERI et al., 2020). De acordo com Salehi et al. (2019), o componente α-Pinene possui excelente atividade antibacteriana, pois danifica a integridade da parede celular dos microrganismos, especialmente de bactérias gram-positivas. Contudo, é válido ressaltar que os efeitos farmacológicos do OE devem ser resultado da sinergia de interação entre seus constituintes e não deve ser atribuída a apenas um constituinte (MORELLI et al., 2015).

Conclusão (obrigatório)

Através dos resultados obtidos conclui-se que o óleo essencial de copaíba branca, na concentração de 12,5%, apresentou efeito inibitório sobre o crescimento da cepa gram-positiva de Staphylococcus aureus. Em relação à atividade sob as cepas gram-negativas de Escherichia coli, o óleo não exerceu nenhuma ação, possivelmente em razão da característica da parede celular destes microrganismos.

Área

Geral

Autores

Marina Szychta, Marcela Calciolari Branquinho, Margarete Kimie Falbo