Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

SUPLEMENTAÇÃO COM LECITINA DE SOJA PARA VACAS EM LACTAÇÃO E SEU EFEITO SOBRE OS METABÓLITOS SANGUÍNEOS

Introdução (obrigatório)

O período de transição de vacas leiteiras é considerado uma fase com alterações no metabolismo que poderão influenciar no desempenho produtivo, reprodutivo e saúde dos animais. A alta demanda energética para a produção do leite no início da lactação, em comparação com a capacidade de consumo, resulta em um balanço energético negativo (BEN) observado no início da lactação, especialmente em vacas de de alta produção.
A suplementação com gordura no início da lactação é uma estratégia amplamente adotada, proporcionando vários benefícios. A lecitina de soja tem sua composição fosfolipídios, fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina e fosfatidilinosítol, e vem sendo utilizada na nutrição animal, contribuindo com a função hepática, produção de leite, fertilidade e reprodução (De Nardi et al., 2012). Sua eficácia é resultado da capacidade de aumentar a digestibilidade das gorduras, permitindo a inclusão de níveis elevados de lipídios na dieta sem prejudicar a fermentação ruminal (Wojtas et al., 2020).
Os componentes do soro sanguíneo mantêm uma relação intrínseca com a composição química e a digestibilidade dos ingredientes dietéticos. No contexto metabólico, a glicose, o colesterol e o betahidroxibutirato são indicadores do metabolismo energético, enquanto a hemoglobina, as globulinas, a albumina e as proteínas totais refletem o metabolismo proteico (Wittwer, 2000). A análise da composição sanguínea possibilita o diagnóstico e a prevenção de distúrbios metabólicos, e reflete o estado nutricional do animal.
Estudos revelaram o impacto significativo da lecitina de soja na regulação do colesterol e no metabolismo das lipoproteínas (Wilson, Merservey e Nicolosi, 1998; Leblanc et al., 2003). Objetivou-se analisar o potencial da lecitina de soja como suplemento na dieta de vacas em lactação, com foco na análise dos parâmetros sanguíneos.

Material e métodos (obrigatório)

            A pesquisa foi conduzida sob aprovação do Comitê de Ética e Uso de Animais (protocolo 23.000017438-0). O experimento foi realizado na Fazenda Escola da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Foram utilizadas 8 vacas da raça Holandesa. Avaliou-se o efeito da suplementação com lecitina de soja, em três níveis de inclusão na dieta: Lec 0 (controle); Lec 0,75: 0,75% de inclusão de lecitina de soja na dieta; Lec 1,5: 1,5% e Lec 2,22% de inclusão da lecitina na dieta, sobre as concentrações sanguíneas de colesterol, triglicerídeos, albumina, HDL (high-density lipoprotein), LDL (low-density lipoprotein) e Beta-hidroxibutirato (BHBA).            O experimento teve duração de 100 dias, dividido em quatro períodos com 20 dias de adaptação e 5 dias para a coleta dos dados. A dieta foi composta por silagem de milho, milho, farelo de soja, farelo de trigo e suplemento mineral e vitamínico, com ou sem a adição da lecitina. As dietas foram isoenergéticas e isoprotéicas.             A coleta de sangue foi realizada por meio de punção da veia jugular, três horas após a primeira refeição, utilizando-se tubos Vacutainer com anticoagulante e com EDTA. As amostras foram centrifugadas e o soro foi transferido para ependorfs. Para as análises de LDL, HDL e colesterol total utilizou-se o espectrofotômetro. Os triglicerídeos foram quantificados pelo método enzimático-colorimétrico. Os níveis de HDL foram determinados com o kit Colesterol HDL e os níveis de LDL pela diferença entre o colesterol total e o HDL. Para a análise dos corpos cetônicos, utilizou-se o equipamento Freestyle Optium Neo.           O delineamento experimental foi em quadrado latino duplo 4x4.  Para a análise estatística utilizou-se o modelo de regressão. A comparação entre os tratamentos foi realizada por meio do teste F, com 5% de significância, utilizando o software  R versão 8.1.

Resultados e discussão (obrigatório)

       Não houve efeito (P>0,05) dos níveis de inclusão de lecitina na dieta sobre os parâmetros sanguíneos avaliados (Tabela 1).                                      Tabela 1. Níveis sanguíneos médios de colesterol total (mg/dL), triglicerídeos (mg/dL), HDL (High-density lipoprotein, mg/dL), LDL (Low-density lipoprotein, mg/dL) Beta-hidroxibutirado (BHBA, mmol/L) para efeito linear (L), quadrático (Q) e cúbico (C),  em função dos níveis de suplementação de lecitina de soja para  vacas em lactação       Nível      Valor P   Item      0%   0,75%    1,5%    2,2%        L       Q     C Triglicerideos     16,37       7,57     11,62     18,0       NS       NS     NS Colesterol Total    118,37   117,35    116,56   120,06       NS       NS     NS HDL     30,23     31,27     32,36     32,55       NS       NS     NS LDL     88,13     75,32     84,20     88,51       NS       NS     NS BHBA       1,00      1,52       1,18       1,37       NS       NS     NS             Verificou-se grande variação dos níveis séricos de triglicerídeos, sendo observado alta concentração para o nível de 2,20% de lecitina.  Isso sugere um aumento nos níveis de ácidos graxos circulantes, particularmente os ácidos graxos não esterificados (AGNE), que são convertidos em triglicerídeos (Rabelo & Campos, 2009).        Os níveis ideais de colesterol no sangue das vacas leiteiras variam entre 80 e 120 mg/dL. Segundo Wittwer (2018), é recomendável analisar os níveis de colesterol no sangue de vacas leiteiras para avaliar o balanço energético. A redução nos valores indica um déficit energético. O aumento nos níveis de colesterol pode ser uma resposta à ingestão elevada de energia na forma de lipídios.       Em ruminantes, o HDL é essencial para fornecer colesterol aos tecidos esteroidogênicos (Drackley, 2001). Lin et al. (2004) relataram que a lecitina estimula a síntese de HDL no fígado. No presente trabalho, os valores foram inferiores aos encontrados na literatura (40 a 86 mg/dL).       Os parâmetros de referência para corpos cetônicos, especificamente o beta-hidroxibutirato (BHBA), estão entre 0 e 1,1 mmol/L para ausência de cetose, e ≥ 1,2 mmol/L para cetose sub-clínica (OSPINA et al., 2010). Neste estudo o  nível médio de BHBA foi de 1,26 mmol/L em vacas com DEL (dias em leite) médio de 60 dias.

Conclusão (obrigatório)

A inclusão de lecitina de soja na dieta de vacas leiteiras não alterou os níveis sanguíneos de colesterol, triglicerídeos, HDL. LDL e BHBA.

Agradecimentos (opcional)

À Clínica do leite pela colaboração parcial com análises laboratoriais e à Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa (APCBRH), pela realização das análises de composição do leite.

Área

Geral

Autores

Karoline Ferreira Lima, Thaina Carneiro Souza, Giulia Ferracin Ferreira, Adriana Souza Martins, Bruna Cordeiro Mello, Leandro Cavalcante Lipinski, Sandra Maria Simonelli