Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

EXPRESSÃO DOS FATORES DE VIRULÊNCIA DE CEPAS DE STREPTOCOCCUS UBERIS ISOLADAS DE CASOS CLÍNICOS E SUBCLÍNICOS DE MASTITE NO BRASIL

Titulo em português

EXPRESSÃO DOS FATORES DE VIRULÊNCIA DE CEPAS DE STREPTOCOCCUS UBERIS ISOLADAS DE CASOS CLÍNICOS E SUBCLÍNICOS DE MASTITE NO BRASIL

Introdução (obrigatório)

Streptococcus uberis é uma bactéria amplamente disseminada pelo mundo, causadora de mastite tanto na forma clínica quanto subclínica, sendo que estes casos podem apresentar recorrência e difícil cura microbiológica. A principal fonte de infecção deste agente é o ambiente, já que o esterco e as camas de matéria orgânica facilitam a sua multiplicação, porém existem cepas com padrão de transmissão contagiosa em alguns rebanhos.
A alta variabilidade genética e a capacidade de expressar diversos fatores de virulência são características importantes relacionadas ao Streptococcus uberis. Dentre os fatores de virulência de Streptococcus uberis já descritos na literatura, os fatores pauA e skc codificam ativadores de plasminogênio e o fator sua codifica uma proteína de adesão às celulas epiteliais da glândula mamária (Loures et al., 2017). A expressão desses fatores está ligada à alta capacidade de aderência e penetração dessa bactéria nos tecidos internos da glândula mamária e, consequentemente, leva a uma baixa resposta aos antibióticos, o que está diretamente ligado à cronificação dos casos de mastite causados pelo Streptococcus uberis.
O entendimento da patogenicidade do Streptococcus uberis, bem como de sua variabilidade genética e da expressão dos fatores de virulência são importantes para definição de estratégias mais eficazes de tratamento e prevenção da mastite causada por este agente. Objetivou-se avaliar a expressão dos fatores de virulência e suas combinações a partir de cepas de Streptococcus uberis originárias de sete estados brasileiros.

Material e métodos (obrigatório)

De janeiro a junho de 2024, amostras de leite de casos clínicos e subclínicos de mastite foram submetidas à cultura microbiológica em um laboratório comercial. O leite foi semeado em placas de Petri bipartidas contendo ágar sangue e cromogênico, que foram incubadas em estufa a 37°C por 24 horas, quando foi feita a leitura. No ágar sangue, a colônia de Streptococcus uberis apresenta pequeno tamanho e coloração cinza com alfa hemólise. Já no ágar cromogênico, a colônia dessa bactéria também apresenta pequeno tamanho e coloração azul escuro brilhante. Após essa identificação, foi feito o repique das colônias características em outra placa de Petri bipartida contendo ágar sangue e cromogênico para confirmação. Como testes de triagem, utilizou-se o teste da catalase e coloração de Gram, sendo que os resultados para este agente são catalase negativa e Gram positiva. Como testes bioquímicos, realizou-se a semeadura da colônia em ágar bile esculina e em caldo BHI com 6,5% de NaCl para incubação em estufa a 37°C por 24 horas. Como resultado, pode haver uma variação no ágar bile esculina, porém no caldo BHI o resultado deste agente é negativo como via de regra por se tratar de um teste diferencial para Enterococcus sp. Também foi realizado o teste de Camp, sendo que neste resultado também pode ocorrer variação. Por fim, como teste confirmatório final, a reação em cadeira de polimerase (PCR) foi conduzida primeiramente para confirmação do Streptococcus uberis, e em seguida para identificação dos  fatores de virulência (sua, skc e pauA). Ao todo foram identificadas 378 cepas de Streptococcus uberis durante o período analisado, provenientes de diversos rebanhos leiteiros dos estados da BA, GO, MG, PR, SC, SP e RS.

Resultados e discussão (obrigatório)

Os fatores de virulência pauA e sua foram identificados em 5,82% e 7,41% das amostras, respectivamente. Já o fator skc não foi encontrado em nenhuma das cepas analisadas. A frequência das combinações dos fatores de virulência pesquisados está descrita na Tabela 1. A maior frequência encontrada foi da associação entre os fatores pauA e sua (72,75%), a qual foi isolada em 275 cepas provenientes de todos os estados brasileiros avaliados neste estudo. O estado do Paraná foi o que apresentou a maior frequência da combinação dos fatores de virulência pauA e sua (30,69%), seguido pelo estado de Santa Catarina (14,55%) e Minas Gerais (10,85%).   Tabela 1. Distribuição de frequência dos genes pauA, sua e skc e suas combinações, expressos pelo Streptococcus uberis de acordo com o estado de origem das cepas. Fator de virulência BA GO MG PR RS SC SP Total Sem fator - 0,53% 2,12% 3,97% 2,12% 1,59% - 10,32% pauA - 0,26% 1,06% 2,12% 0,79% 1,59% - 5,82% sua - 0,79% 1,06% 2,91% 0,79% 1,85% - 7,41% skc - - - - - - - 0% pauA + sua 0,53% 3,17% 10,85% 30,69% 10,32% 14,55% 2,65% 72,75% pauA + skc - - 0,26% - - 0,26% - 0,53% sua + skc - - - - 0,26% - - 0,26% pauA + sua + skc - - 0,79% - 1,06% 1,06% - 2,91% Nº total de cepas 2 18 61 150 58 79 10 378   O conhecimento das características e particularidades das cepas mais prevalentes de Streptococcus uberis em cada estado do Brasil, bem como o acompanhamento dos casos clínicos e subclínicos causados por esse agente, podem futuramente auxiliar na tomada de decisão sobre medidas de prevenção, controle e tratamentos mais eficazes a fim de reduzir os casos de mastite e aumentar a taxa de cura deste agente.

Conclusão (obrigatório)

A variabilidade na expressão dos fatores de virulência do Streptococcus uberis encontrada neste estudo sugere que esse agente está em constante adaptação aos sistemas atuais de produção de leite do Brasil e que são necessárias pesquisas para melhor compreensão da patogenicidade deste agente, bem como da correlação entre as características dos casos de mastite e as particularidades do agente em cada estado do país.

Referências bibliográficas (opcional)

Loures, R.A., Pereira, U.P., Carvalho-Castro, G.A., Mian, G.F., Custódio, D.A.C., Silva, J.R., Costa, G.M. 2017. Genetic diversity and virulence genes in Streptococcus uberis strains isolated from bovine mastitis. Semina Ciências Agrárias, v.38, n.4, suplemento 1, p.2595-2606.

Área

Geral

Autores

Paulo César Franco Dutra, Carla Cristian Campos, Roberta Tomaz Botta França, Tais Aparecida Salvadego