Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

EFEITO DA BLITZ TERAPIA NO DIAGNÓSTICO MICROBIOLÓGICO DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS EM INFECÇÕES INTRAMAMÁRIAS MISTAS

Introdução (obrigatório)

A mastite é caracterizada por apresentar uma inflamação da glândula, que normalmente é consequência de uma infecção bacteriana (Petersson-Wolfe et al., 2018).
O S. aureus e S. agalactiae são importantes microrganismos causadores de mastite no Brasil, essas bactérias são altamente contagiosas e normalmente causam mastite subclínica, podendo cornificar e transformar em mastite clínica (Bradley, 2002; Ruegg, 2003; Mendonça et al., 2018).
A identificação dos microrganismos causadores da mastite por meio de exames microbiológicos é essencial para implementação de medidas eficazes de controle (Adkins & Middleton, 2018). No entanto, este diagnóstico pode ser prejudicado, especialmente em casos de infecções mistas, devido a variação na eliminação da bactéria pelos quartos mamários (Lopes Jr. et al., 2012). Isto porque o S. agalactiae é eliminado em quantidades superiores que o S. aureus, que apresenta ciclo de eliminação intermitente, com fases de baixa e alta eliminação no leite. Durante a fase baixa a quantidade de S. aureus na amostra pode ser insuficiente para o crescimento bacteriano, resultando em falsos negativos (Britten, 2012; Keefe, 2012; Svennensen et al., 2019).
Neste contexto, o objetivo deste estudo foi avaliar a sensibilidade, especificidade e valores preditivos do isolamento de S. aureus em um rebanho submetido a blitz terapia para erradicação de S. agalactiae bem como avaliar a taxa de cura das infecções causadas por S. agalactiae e incidência das infecções por S. aureus.

Material e métodos (obrigatório)

O estudo foi realizado em um rebanho composto por 160 vacas em lactação em média por mês da raça Holandesa durante 5 meses. Os animais foram alojados em sistema Free Stall e submetidos a três ordenhas mecânicas por dia. Durante o experimento, foram coletadas amostras de leite das vacas em lactação uma vez por mês, totalizando 737 amostras para a realização do diagnóstico microbiológico da mastite subclínica. Todos os animais que apresentaram isolamento de S. agalactiae foram tratados com antimicrobianos (ampicilina e cloxacilina) administrados por via intramamária. A dinâmica das infecções da mastite subclínica foi estimada por uma comparação de 2 meses consecutivos, avaliando o diagnóstico microbiológico do mês posterior em relação ao mês anterior e considerando presença e ausência de S. aureus e/ou S. agalactiae. Essa classificação foi feita da seguinte forma: incidência; eliminação, e infecção subclínica crônica. Devido ao número de vacas em lactação variado ao longo do tempo, a incidência, eliminação e infecção subclínica crônica foram estimadas por 100 vacas.mês com o objetivo de comparar de acordo com meses. Durante os cinco meses de estudo, os resultados microbiológicos para S. aureus foram comparados considerando o mês anterior e o seguinte com o objetivo de estimar sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo, valor preditivo negativo, acurácia e intervalo de confiança de 95%.

Resultados e discussão (obrigatório)

Na comparação da primeira e da segunda cultura microbiológica, 19/89 amostras apresentaram crescimento puro de S. agalactiae na primeira coleta. Dessas 19 amostras de leite, 15 tiveram isolamento puro de S. aureus e 4 tiveram isolamento de S. aureus e S. agalactiae na segunda coleta (mês posterior a primeira coleta). Vinte e oito das 144 vacas examinadas não apresentaram S. aureus na primeira avaliação, mas apresentaram crescimento desta bactéria no segundo exame microbiológico. Em contraste, a taxa de eliminação de S. agalactiae foi de 40,3%, isto porque a terapia foi eficiente em 58 das 144 vacas. As comparações dos meses seguintes apresentaram menor incidência de S. aureus e declínio nas taxas de eliminação de S. agalactiae. A incidência de S. aureus nas comparações seguintes foi de 3,1%, 10,3% e 8,9%. A taxa de eliminação de S. agalactiae foi de 7,6%, 2,1% e 1,9%. A taxa de vacas infectadas cronicamente por S. aureus aumentou de 19,4% para 28,7% no final deste estudo. A comparação do primeiro e segundo mês mostrou sensibilidade de 50,0% e aumentou para 89,7% na comparação seguinte, após primeiro procedimento de tratamento de S. agalactiae. A sensibilidade encontrada após cinco meses foi de 76,3%. A especificidade aumentou de 79,0% para 91,4% na comparação do primeiro e último mês. O valor preditivo positivo e negativo apresentou inicialmente 62,2% e 69,5% e aumentou para 85,7% e 85,2% em relação ao último mês, respectivamente. A acurácia do exame microbiológico revelou aumento de 18,3% durante os 5 meses de terapia blitz, variando de 67,1% a 85,4% na primeira e na última comparação. A influência observada no teste deve-se às variações na eliminação bacteriana, tornando o teste inicialmente menos sensível para a detecção de S. aureus.

Conclusão (obrigatório)

O estudo mostrou que a erradicação de S. agalactiae aumentou a probabilidade de isolamento de S. aureus, bem como a sensibilidade, especificidade, valores preditivos e acurácia do teste microbiológico para o diagnóstico de S. aureus na mastite bovina. Dado o impacto do teste microbiológico na sensibilidade do diagnóstico de S. aureus, a PCR poderia ser utilizada de maneira complementar aos testes microbiológicos tradicionais para a identificação de ambos os patógenos contagiosos no início da terapia blitz.

Referências bibliográficas (opcional)

ADKINS, P.R.F et al. Methods for diagnosing mastitis. Veterinary Clinics: Food Animal Practice, v.34, p.479-491, 2018.
BRADLEY, A. Bovine mastitis: an evolving disease. The Veterinary Journal, v.164, n.2, p.116-128, 2002.
BRITTEN. A.M. The Role of Diagnostic Microbiology in Mastitis Control Programs. The Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v.28, p.187-202, 2012.
KEEFE, G. P. Update on control of Staphylococcus aureus and Streptococcus agalactiae for Management of Mastitis. The Veterinary Clinics of North America: Food Animal Practice, v.28, p.203-216, 2012.
LOPES JR, J.E.F. et al. Relationship between total bacteria counts and somatic cell counts from mammary quarters infected by mastitis pathogens. Ciência Rural, v.42, p.691-696 2012.
MENDONÇA, J.F.M. et al. Prevalence reduction of contagious mastitis pathogens in a Holstein dairy herd under tropical conditions. Journal of Veterinary Science & Technology, v.9, p.1-3, 2018.
PETERSSON-WOLFE, et al. An Update on the Effect of Clinical Mastitis on the Welfare of Dairy Cows and Potential Therapies. Veterinary Clinics: Food Animal Practice, v.34, p.525–535, 2018.
RUEGG, P. L. Practical strategies for treating mastitis. University of Wisconsin, Madison, 2003.
SVENNESEN, L. et al. Expert evaluation of different infection types in dairy cows quarters naturally infected with Staphylococcus aureus or Streptococcus agalactiae. Preventive Veterinary Medicine, v.167, p.16-23, 2019.

Área

Geral

Autores

Ana Flávia Novaes Gomes, Fulvia Fátima Almeida de Castro, Lucas Dias Pavel, Carla Christine Lange, Alessandro de Sá Guimarães, João Batista Ribeiro, Marcio Roberto Silva, Guilherme Nunes de Souza