Congresso Brasileiro do Leite

Dados do Trabalho


Título

PADRÃO DE INFECÇÃO DA MASTITE CLÍNICA E SUBCLÍNICA NO SISTEMA CONFINADO E SEMI-CONFINADO

Contribuição para a sociedade (opcional)


Introdução (obrigatório)

A mastite bovina é a doença mais frequente na bovinocultura leiteira. Essa enfermidade está diretamente associada com a redução na qualidade, quantidade e rendimento do leite, além de afetar negativamente o desempenho reprodutivo, causando assim, grandes prejuízos aos produtores e a indústria de lácteos. Além de constituir um problema a saúde pública devido à transmissão de patógenos e de suas toxinas, pode conter a presença de resíduos de antimicrobianos no leite, tornando-o impróprio para o consumo.
A mastite é caracterizada pela inflamação da glândula mamária, resultante da interação complexa de três fatores epidemiológicos: o agente etiológico, o ambiente e o hospedeiro. Dessa forma, é considerada uma enfermidade multifatorial. Entretanto, a mastite é frequentemente consequência de uma infecção bacteriana.
Para diminuição da ocorrência dos casos de mastite no rebanho e de seus efeitos negativos é importantíssimo o reconhecimento do agente causador da mastite. Para isto utiliza-se o diagnóstico microbiológico, pois a partir da identificação do microrganismo é possível elaborar estratégias mais eficientes para controle e prevenção da doença, além de ser importantíssimo para adotar um tratamento mais direcionado quando necessário para erradicação do Streptococcus agalactiae .
A bovinocultura leiteira apresenta diferentes tipos de sistema de produção que pode influenciar na incidência e no padrão de infecção do rebanho. Dito isto, o objetivo deste trabalho é realizar uma análise do padrão de infecção da mastite subclínica e clínica no rebanho em diferentes tipos de sistema de produção.

Material e métodos (obrigatório)

O presente estudo foi realizado no campo experimental José Henrique Bruschi, pertencente a Embrapa Gado de Leite, no município de Coronel Pacheco, no período de janeiro de 2022 a  novembro de 2023. Foi conduzido em dois tipo de sistema de produção, confinado e semi-confinado. O sistema confinado é do tipo Compost Barn, possui em média 90 de vacas em lactação por mês da raça holandesa, que passam na linha de ordenhas três vezes ao dia. O sistema semi-confinado possui em média 95 vacas em lactação, ordenhadas três vezes ao dia. As ordenhas de ambos os sistemas ordenha são realizadas com ordenhadeiras mecânicas, em uma sala de concreto com sistema em espinha de peixe, e o leite é armazenado em tanque de expansão. A rotina de higiene durante a ordenha consiste na realização da lavagem dos tetos com água clorada, teste da caneca de fundo escuro, pre-dipping, secagem dos tetos com toalhas de papel e o uso de iodo no pós-dipping. Os casos de mastite clínica identificados no momento da ordenha pelo teste da caneca de fundo escuro com a presença de alteração no leite (grumos, pus e mudança de cor) teve amostras de leite coletadas do quarto mamário que apresentou sinais clínicos para realização da cultura na fazenda. Durante o período experimental foram realizadas coletas das amostras compostas de leite dos animais do sistema confinado e do semi-confinado, em recipientes estéreis, para o exame microbiológico. As amostras de leite para cultivo microbiológico foram processadas no Laboratório de Microbiologia do Leite da Embrapa Gado de Leite para identificação dos patógenos causadores de mastite subclínica nos rebanhos estudados. O crescimento de três ou mais colônias diferentes foram considerados como contaminação da amostra. As análises dos dados estatísticos foram realizadas utilizando o programa SPSS Statistics 20, para avaliar o perfil de patógenos isolados na mastite subclínica e clínica dos diferentes sistemas estudados por meio da distribuição de frequência.

Resultados e discussão (obrigatório)

No sistema confinado, o principal patógeno causador da mastite subclínica foi Staphylococcus não aureus (SNA), responsável por 18,7% dos casos, seguido pelo patógeno ambiental Streptococcus uberis, que representou 10,1% dos casos. No sistema semi-confinado, o padrão de infecção da mastite subclínica foi semelhante ao observado no rebanho confinado. Neste sistema, o Streptococcus uberis foi o principal patógeno responsável pelas infecções intramamárias, com uma incidência de 15,5%, seguido pelo SNA , que causou 15,1% das infecções. Das 61 amostras analisadas no sistema confinado, observou-se um maior número de casos de mastite clínica causados principalmente pelos patógenos ambientais Escherichia coli e S uberis, correspondendo a 19,7% e 16,1% dos casos, respectivamente. Em contraste, no sistema semi-confinado, o S. uberis foi identificado como o principal agente etiológico da mastite clínica, sendo isolado em 36,6% das amostras, seguido pelo Staphylococcus coagulase negativo, responsável por 10,8% dos casos. Esses dados sugerem que as infecções intramamárias subclínicas por S. uberis nos animais do sistema semi-confinado podem ter progredido para mastite clínica. A incidência de mastite clínica no rebanho semi-confinado atingiu seu pico em fevereiro de 2023. No entanto, ao longo do período do estudo, a incidência variou entre 1,1% e 7,4%. Em contraste, no sistema confinado, a incidência alcançou seu pico nos meses de outubro e novembro, chegando a 6,3%. Os animais criados no sistema semi-confinado enfrentam maiores desafios ambientais e climáticos, o que pode ter resultado em uma incidência mais elevada de mastite clínica em comparação com o sistema confinado do tipo Compost Barn.

Conclusão (obrigatório)

Concluímos que os resultados demonstraram diferenças na incidência da mastite clínica mas padrões de infecções semelhantes entre os sistemas estudados. No sistema confinado, o patógeno oportunista SNA foi o mais prevalente, uma vez que pode ser encontrado na cama. Por outro lado, no sistema semi-confinado, o patógeno predominante foi S. uberis, um microrganismo ambiental. Dessa forma, sugere-se que o perfil de infecção deste rebanho foi significativamente influenciado pelo ambiente em que os animais foram mantidos.

Área

Geral

Autores

Ana Flávia Novaes Gomes, Fulvia Fátima Almeida de Castro, Lucas Dias Pavel, Carla Christine Lange, Alessandro de Sá Guimarães, João Batista Ribeiro, Marcio Roberto Silva, Guilherme Nunes de Souza